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Por que não pode?

Por que o Brasil restringe a importação de carros usados?

Entenda como funciona a regra que só permite a importação veículos 0km ou com pelo menos 30 anos

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Alfa Romeo Giulia Quadrifoglio, um que só poderia vir ao Brasil quando era recém lançado
Alfa Romeo Giulia Quadrifoglio, um que só poderia vir ao Brasil quando era recém lançado Foto: Alfa Romeo/Divulgação

A importação de automóveis no Brasil segue uma lógica bastante específica e diferente da adotada em muitos outros países. A regra geral permite apenas a entrada de veículos 0km ou modelos com 30 anos ou mais, classificados como veículos de coleção. Qualquer carro usado fora desses critérios, mesmo em perfeito estado, é automaticamente barrado.

Essa restrição não surgiu por acaso nem está concentrada em uma única lei aprovada pelo Congresso. Ela é resultado de decisões administrativas do governo federal, principalmente por meio de portarias do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e da Secretaria de Comércio Exterior. Na prática, são essas normas que definem o que pode ou não ser importado.

O principal instrumento que sustenta essa proibição é a Portaria Secex nº 23, de 2011, atualizada ao longo dos anos, que veda expressamente a importação de veículos automotores usados, com exceção daqueles enquadrados como bens de coleção. Essa portaria funciona como a base legal da regra e é aplicada ainda na fase de licenciamento de importação, antes mesmo de o veículo chegar ao país.

Chevrolet Corvette C5
Chevrolet Corvette C5 fará 30 anos em 2026 e poderá ser importado Foto: Chevrolet/Divulgação

O funcionamento da regra é simples: carros 0km podem ser importados desde que atendam às exigências brasileiras de segurança, emissões e homologação. Já os veículos com 30 anos ou mais entram em uma categoria diferente, a de bens históricos ou de coleção. Nesse caso, o entendimento do governo é que esses carros não competem com o mercado atual, têm uso restrito e impacto econômico e ambiental limitado.

Do ponto de vista legal, não há margem para análise individual do veículo. Mesmo um carro seminovo em estado impecável é tratado da mesma forma que qualquer outro usado. Se ele não for 0km ou não atingir 30 anos de fabricação, a importação é automaticamente indeferida pelos órgãos competentes.

Mercedes-AMG G 63
Mercedes-Benz AMG G63 é vem de importação 0km Foto: Divulgação/Mercedes-Benz

A importação de carros usados mais novos é proibida porque o governo entende que essa prática afetaria diretamente a indústria automotiva instalada no país. Veículos estrangeiros usados, em muitos casos, chegariam ao Brasil com preços mais baixos do que os modelos fabricados localmente, reduzindo vendas, empregos e investimentos no setor.

Além disso, há a questão regulatória, já que carros usados podem não atender às normas brasileiras de emissões e segurança, e exigir adaptações individuais tornaria o controle mais caro e complexo. Para o Estado, é mais simples impedir a entrada desses veículos do que fiscalizar cada caso.

Novo navio da BYD, o Jinan tem capacidade para levar até 9.200 carros
Navio da BYD que traz os modelos importados da marca Foto: BYD/Divulgação

Se tratando do tempo limite de 30 anos, ele não é aleatório. Ele acompanha padrões adotados internacionalmente para definir veículos antigos, reconhecendo seu valor histórico, cultural e colecionável. Por isso, esses carros recebem tratamento diferenciado, inclusive em licenciamento e uso. 

Em resumo, a lei da importação de veículos no Brasil funciona como um filtro, em que, de um lado, entram carros novos, plenamente regulamentados, e do outro, entram carros antigos, vistos como patrimônio histórico. Tudo o que está entre esses dois extremos fica de fora, por decisão política e econômica.