O mercado de carros elétricos está crescendo no Brasil e o BYD Dolphin Mini é um dos principais representantes desse segmento. Lançado em fevereiro de 2024 no Brasil, o compacto elétrico já soma 33.250 unidades vendidas em quase um ano e meio de mercado. O sucesso é justificado? Há pontos que podem ser melhorados? É o que vamos responder na avaliação do modelo.
O Dolphin Mini não nega seu objetivo: Nasceu para ser um carro elétrico acessível e barato (pelo menos no mercado chinês). Por aqui, ele pode até ser considerado acessível, afinal, é um dos mais em conta do segmento. Na China, por exemplo, ele foi lançado custando cerca de 10,7 mil dólares (R$ 60 mil), enquanto no Brasil, parte de R$ 118.800 (21,2 mil dólares) na configuração de quatro lugares.
Foi justamente essa configuração que chegou inicialmente ao mercado brasileiro e também a disponibilizada para teste pela BYD.
Visual diferente, mas nada de outro planeta
O Dolphin Mini traz um visual diferenciado, apostando em vincos retos e angulados. Os balanços dianteiro e traseiro são bem curtos, mas o modelo é bem alto, o que significa um bom espaço para a cabeça dos ocupantes. A dianteira é limpa e traz somente o essencial, assim como a traseira, onde as lanternas traseiras, conectadas por uma barra de LED, são o principal destaque.
Com 3,78 m de comprimento, 1,71 m de largura, 1,58 m de altura, mas 2,5 m de distância entre-eixos, o tamanho diminuto é um dos maiores chamarizes do Dolphin Mini. O porta-malas tem 230 litros, mas é o suficiente para compras semanais de uma família, ou mesmo mensais de uma pessoa solteira. Criatividade será importante nesse caso.
O entre-eixos também é comprido, garantindo espaço satisfatório para as pernas de quem viaja atrás. Por falar nos passageiros traseiros, a sensação de viajar nesses bancos pode ser um pouco claustrofóbica por conta justamente do assento dianteiro, que é bem grande e ocupa boa parte da visibilidade, mas voltaremos a falar dos passageiros mais a frente.
Internamente, o Dolphin Mini é bem parecido com o Dolphin, lançado anteriormente. Os bancos no estilo concha proporcionam bastante conforto, e conseguem abrigar motoristas mais altos. A tela multimídia de 10,1 polegadas é o grande chamariz do interior. O funcionamento da multimídia é bem simples e fácil.
Como é dirigir o Dolphin Mini?
Apesar de contar “apenas” com 75 cv de potência e 135 Nm (13,7 kgfm) de torque, o desempenho do BYD Dolphin Mini não deixa a desejar. Esses números são próximos aos 71 cv e 10 kgfm de torque do Renault Kwid ou 74 cv e 9,7 kgfm de Fiat Mobi, Peugeot 208, Fiat Argo e Citroën C3, sempre com etanol.
A comparação com os modelos acima é lógica, afinal, são os carros a combustão mais acessíveis do país e possuem dimensões próximas ao do Dolphin Mini.
Nos centros urbanos o Dolphin Mini não fica devendo em nada aos rivais mencionados acima. A aceleração de zero aos 100 km/h leva longos 14,9 segundos, mas na prática, isso não faz tanta diferença. O subcompacto é bem ágil em saídas de sinal e mudanças de faixas. Para o uso em centros urbanos não falta fôlego ao Dolphin Mini, muito por conta do torque instantâneo.
Não foi possível avaliar o carro com quatro ocupantes, mas é importante ressaltar que a capacidade máxima homologada para o modelo é de 329 kg, ou seja, quatro passageiros com média de 82 kg.
Em rodovias, a velocidade máxima é de cerca de 100 km/h quando o modo ECO está ativado, mas no modo SPORT, o limite sobe para 130 km/h. Alcançar essa velocidade não é rápido, porém, chega. O Dolphin Mini passa a sensação de que conseguiria alcançar velocidades mais altas, entretanto, não é algo necessário para um carro com pretensões urbanas, sem contar com o fato de que velocidades mais altas podem comprometer a vida útil da bateria ao longo prazo.
É inevitável escapar da comparação com um carro 1.0 de motor aspirado. Esses motores também são capazes de alcançar (e até superar) essas velocidades, mas com uma certa lentidão, portanto, o comportamento do Dolphin Mini é bem similar.
Interior confortável para quem dirige
Com opção de quatro ou cinco lugares, o Dolphin Mini só decepciona no espaço interno para transportar cinco pessoas. Os bancos dianteiros se destacam pelo tamanho e ajustes elétricos para o motorista. O acabamento em material sintético é bem confortável.
É fácil se sentir bem para dirigir o Dolphin Mini. O painel de instrumentos de 7” é extremamente simples e demonstra apenas o necessário como kw instantâneo, velocidade, hodômetros totais, parciais e luzes espias.
Abaixo da tela de 10,1” estão os comandos de transmissão, modos de condução, ar-condicionado, pisca-alerta, desembaçador e volume. Tudo fica bem à mão e é fácil para o condutor operar sem se distrair.
A multimídia funciona de forma bem rápida e os comandos de voz, disponíveis ao falar “Hi, BYD”, ajudam a alterar a velocidade do ar-condicionado com o carro em movimento.
Alterações no sistema de ventilação, por sua vez, são o principal ponto de crítica da multimídia, uma vez que os comandos ficam “escondidos” quando o rádio ou Android Auto/Apple CarPlay estão em uso. Uma alternativa interessante poderia ser uma parte fixa na base da multimídia para acesso rápido ao menu do ar-condicionado.
É importante ressaltar que os encaixes das peças são excelentes, bem como o cuidado na construção do veículo e na qualidade dos materiais escolhidos.
Passageiros com espaço, mas a sensação não é boa
Se a situação é tranquila para o motorista, o mesmo não pode ser dito para os demais passageiros. Seja no banco do carona, ou no banco traseiro, é incômodo ir de passageiro no Dolphin Mini.
Em uma estrada mal pavimentada, ao dirigir, não senti nenhum tipo de incômodo. No mesmo trecho, mas no banco do carona, senti leves náuseas por conta da movimentação da carroceria.
No banco traseiro, a sensação é de claustrofobia. Causada especialmente pelos longos bancos dianteiros, teto na cor preta e elevada linha de janela. Apesar dessa sensação, alguns passageiros relataram incômodo, especialmente ao passar em buracos, reflexo da suspensão do modelo.
Suspensão é o grande porém
O conforto do BYD Dolphin Mini é comprometido pela suspensão, principalmente a traseira. Com a configuração McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira, o compacto precisa de melhorias para se adaptar às ruas brasileiras.
Ao passar por buracos, a batida é bem seca, e mesmo em lombadas não muito elevadas, é preciso ir bem devagar para que a suspensão não dê fim de curso, especialmente quando a roda precisa voltar ao chão. Ao passar rapidamente em uma lombada, por exemplo, é certo que itens deixados no porta-malas (kit de carregamento e de reparo) ou bancos traseiros irão voar.
O amortecimento do Dolphin Mini é rígido, mas isso, por si só, não é um grande problema. A principal questão é que o fim de curso é frequente, nos amortecedores dianteiros e traseiros, e na traseira, a mola parece extremamente rígida, o que também atrapalha o processo de amortecimento de impacto.
Alcance é suficiente?
Segundo o Inmetro, o alcance do Dolphin Mini é de 280 km. Entretanto, com a carga cheia, o veículo demonstrava 320 km de autonomia. Rodando sem forçar, o modelo consegue fazer cerca de 300 km tranquilamente.
Segundo a BYD, carregar de 30% a 80% em um carregador de alta potência leva 30 minutos. Em tomada doméstica de 220V com aterramento, a velocidade máxima de recarga obtida foi de 2,2 kWh, e carregar de 30% aos 100% levou quase 13 horas e meia.
Confesso que precisei adaptar a tomada doméstica para poder carregar o Dolphin Mini, e enquanto o serviço não havia sido realizado, o uso do carro foi levemente comprometido, visto a incerteza da possibilidade da recarga doméstica. Até tentei utilizar um carregador público, mas por erro no sistema da estação, não foi possível conectar o veículo.
Vale a pena comprar o BYD Dolphin Mini?
Custando R$ 118.800 na versão de quatro lugares, ou R$ 122.800 na versão de cinco lugares, há modelos maiores (e por consequência mais espaçosos), mais tecnológicos e mais potentes que o Dolphin Mini.
Partindo do princípio de que quem cogita um Dolphin Mini já está propenso à mobilidade elétrica, o modelo é uma ótima porta de entrada para essa tecnologia, especialmente quando comparado com o Renault Kwid E-Tech (R$ 99.990 e 185 km), JAC E-JS1 (R$ 126.900 e 181 km) ou Chery iCar (R$ 119.990 e 197 km).
Apesar da suspensão traseira incômoda, acredito que é mais fácil para o motorista se adaptar ao veículo, e caso se adapte à mobilidade elétrica, possa saltar para um modelo mais requintado da fabricante.
Caso o tamanho e alcance sejam suficientes para sua rotina do leitor, e a pessoa não se incomode em deixar o carro carregando durante a noite ou em períodos em que não usará o veículo, acho que o Dolphin Mini é uma boa opção do mercado, mesmo sendo um veículo de entrada, ele não deixa nada à desejar para o que se propõe.
Ficha técnica BYD Dolphin Mini
Motor: elétrico, dianteiro, 75 cv de potência, 13,7 kgfm de torque
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira
Pneus: 175/55 R16
Dimensões: 3,78 metros de comprimento; 1,71 m de largura; 1,58 m de altura; 2,5 m de distância entre-eixos; porta-malas de 230 litros;
Baterias: 38 kWh; Blade LFP (fosfato de ferro-lítio)
Peso em ordem de marcha: 1.239 kg
Alcance: 280 km (PBEV)
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