O mercado de zero km conta com diversos “utilitários esportivos” e “crossovers”, todos sob o guarda-chuva de SUVs. Com opções para variados bolsos, estilos e para quem precisa de carros de portes distintos, algumas marcas possuem modelos diferentes com preços muito parecidos. A Honda é justamente uma dessas empresas, uma vez que oferece HR-V e ZR-V com preços muito próximos. Será que vale pagar R$ 214,5 mil no ZR-V, quando o HR-V topo de linha sai por R$ 209,9 mil?
Antes de pensar em comparativos, vamos analisar o ZR-V somente pelo que ele é. O modelo utiliza a mesma plataforma do Honda Civic e é posicionado em quase todos os mercados (com exceção dos EUA) como intermediário entre HR-V e CR-V.
Em termos visuais, a única semelhança pode ser os faróis afilados, que apresentam certa semelhança com o sedan. De resto, o ZR-V é único em quase todos os aspectos e tem seu estilo muito bem definido. Na traseira, o caimento de teto é bem acentuado e a tampa do porta-malas é bastante comprida.
O desenho lateral dá a impressão de o carro ser mais alto do que o normal. Essa sensação é causada pelas rodas de apenas 17 polegadas, pneus de 60 mm de altura e acabamento preto nos arcos de roda. Nos modelos 2025 em diante (a unidade testada é 2023), o carro conta com rodas de 18 polegadas e pneus de perfil 225/55.
Cabine de Civic
O interior do ZR-V não nega as origens de Civic. O desenho geral apresenta similaridades com o sedã e até mesmo os comandos do ar-condicionado e volante parecem ser os mesmos. Isso não é ruim, muito pelo contrário, entretanto, a crítica pode ficar somente pela cor creme utilizada no acabamento, que particularmente não me agrada.
O interior se destaca pela boa ergonomia dos comandos no volante e no painel, mas o principal ponto positivo do ZR-V fica para o espaço interno para os ocupantes traseiros. A segunda fileira de bancos tem assoalho plano, o que garante conforto até para o passageiro do meio, que ainda conta com saída de ar-condicionado.
Entre os itens de série estão painel de instrumentos parcialmente digital de 7”, multimídia de 9 polegadas, carregador de celular, ar-condicionado digital de duas zonas, teto solar, assistente para redução de ponto cego (Honda Lane Watch), 8 airbags (frontais, laterais, joelhos e cortina), câmera de ré e freio de estacionamento eletrônico.
Um ponto negativo no ZR-V é a ausência do sistema de bancos ‘Magic Seat’, que permite rebater os assentos traseiros e permite uma maior modularidade para o transporte de cargas maiores. Entretanto, o porta-malas tem 389 litros de capacidade, 35 a mais que o HR-V.
Motor
Debaixo do capô do ZR-V está o motor 2.0 a gasolina de 161 cv de potência e 19,1 kgfm de torque (disponíveis somente a 4.200 giros). O motor funciona acoplado ao câmbio automático CVT que simula até sete velocidades.
O motor é menos potente que o 1.5 turbo do HR-V topo de linha, que entrega 177 cv e 24,5 kgfm de torque já a 1.700 rotações, o que muda muito a forma de condução e a sensação de performance.
Honda ZR-V no uso
Confesso que fiquei surpreso com o desempenho e uso do Honda ZR-V no geral. Quem espera um desempenho esportivo ou empolgante, não irá encontrar nada disso no SUV da Honda, entretanto, o ZR-V tem tudo no lugar certo e consegue ser extremamente competente no que se propõe a fazer: levar seus ocupantes até o destino em segurança e sem preocupação.
Os 161 cv de potência são o suficiente para realizar ultrapassagens e são razoáveis em situações onde uma saída mais rápida é necessária. Porém, ao levar esse carro para casa, saiba que a transmissão CVT não é voltada para performance, e pode ser bastante barulhenta na hora em que o condutor precisar pisar fundo ou fazer uma ultrapassagem.
Por falar na transmissão, como toda caixa continuamente variável, é impossível se distanciar do barulho de ‘enceradeira’. Em mais de 500 km rodados com o ZR-V, foram raros os momentos em que o barulho do motor invadiu a cabine a ponto de incomodar, mesmo com o câmbio fazendo o motor gritar muito, até por conta do torque em faixa alta.
Dirigindo o ZR-V sem exigir muito do conjunto e deixando a transmissão ganhar velocidade de forma gradual, a condução é bem suave, mesmo com o modo eco ativado. No modo normal, o acelerador fica um pouco mais esperto, especialmente na primeira marcha.
Ao longo do teste, o consumo do ZR-V ficou na casa dos 11,3 km/l em ciclo misto, 95% do tempo com o modo eco ativo e sem usar ar-condicionado em boa parte do trajeto. Segundo o Inmetro, o modelo faz médias de 10,2 km/l em ciclo urbano e 12,1 km/l em ciclo rodoviário.
Apesar da plataforma de Civic, a condução é extremamente diferente da apresentada pelo sedã e não me lembrou nem um pouco o modelo tradicional da Honda. O ZR-V tem características próprias, visto o acerto de suspensão mais rígido para impactos em buracos, mas bem suave na condução em estrada.
Não espere que o ZR-V seja um devorador de curvas, mas ele as encara sem grandes problemas e com a direção com o peso ideal. Para quem gosta de usar os sistemas de auxílio ao condutor, o piloto automático adaptativo funciona muito bem, especialmente para realizar curvas.
A principal crítica fica para o sistema “Honda Lane Watch”, que consiste em uma câmera instalada no retrovisor do lado direto. A ideia é funcionar como redutor de ponto cego, mas em momento algum durante a condução em estradas me lembrei de usar a função. Na realidade, a câmera acaba funcionando bem mais na hora de manobrar e observar a distância entre as rodas e as calçadas, por exemplo.
O painel de instrumentos funciona muito bem, assim como a central multimídia, que é a mesma do Civic e é bem superior ao equipamento oferecido pelo HR-V na versão Touring. Entretanto, o sistema de infotenimento tem duas críticas: a conexão com Android Auto é somente por cabos e as câmeras de ré e do Honda Lane Watch poderiam ter resoluções melhores.
Um ponto de incômodo e até curioso fica por conta do limpador de para-brisa. O esguicho é embutido no corpo da palheta do limpador já não é tão comum em modelos no Brasil. Ao limpar os vidros com o carro em movimento, a água acaba invadindo o vidro do motorista e, caso a janela esteja aberta, molha justamente os comandos dos vidros elétricos e retrovisores.
Vale a pena?
O Honda ZR-V passa longe de ser um carro ruim, entretanto, você não verá o modelo nas ruas em abundância por conta do preço elevado. Pagando menos, o cliente consegue levar para casa um carro mais potente e com motor flex. Além disso, o HR-V é produzido no Brasil, o que facilita em caso de necessidade de peças de reposição.
Em comparação ao HR-V Touring, o ZR-V oferece mais espaço em comprimento, entre-eixos e porta-malas, mas a diferença não é tão significativa assim. O modelo importado do México ainda se diferencia por conta do teto solar e uma multimídia 1 polegada maior (mas com interface melhor) e conta com airbags de joelhos.
O SUV nacional, por sua vez, traz outras benesses como o sistemas de bancos 'magic seat' e motor turbo (mais potente e mais econômico).
Particularmente, acredito que o HR-V seja um negócio muito mais vantajoso para o cliente que visitar os concessionários Honda, seja na versão Touring (R$ 209,9 mil) ou Advance (R$ 199,4 mil), ambas com motor 1.5 turbo. O ZR-V só passa a fazer sentido caso os descontos oferecidos pela Honda em maio deste ano se repitam.
Na ocasião, para acabar com os estoques de ZR-V 2023/2024, os concessionários deram descontos de até 40 mil reais para o modelo, que chegava a ser vendido por R$ 169.990, se tornando, o melhor custo-benefício da categoria. Atualmente, esse preço é praticamente o cobrado pelo HR-V EXL, que oferece motor aspirado de 126 cv.
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