800 mil reais é uma quantidade significativa de dinheiro para boa parte dos brasileiros. É praticamente isso o que a Audi cobra pelo seu SUV mais espaçoso na versão “básica” no Brasil. Partindo de R$ 794.990, o SUV custa o mesmo que um apartamento ou uma casa, mas entrega muito luxo, visual impactante e um motor V6.
Claro que comparar um carro com um apartamento não é tão correto, mas é possível dormir e viver em um carro. Embora o Q8 não seja ideal para esse cenário, o modelo tem muito espaço e conforto para justificar o investimento elevado.
Medindo 4,99 metros de comprimento, 2,19 m de largura, 1,69 m de altura e 2,99 m de entre-eixos, o Q8 é um carro com um tamanho significativo e passar despercebido pelos lugares será difícil, mesmo nessa unidade com a cor Azul Waitomo Metálico, que é bem discreta longe do brilho solar.
Internamente, o Q8 consegue traduzir todo seu tamanho em muito espaço interno para os cinco ocupantes. Quem vai na frente em ajustes elétricos bem amplos e até mesmo os ocupantes traseiros podem ajustar a inclinação do banco traseiro bi-partido que também é corrediço.
Por falar nos ocupantes traseiros, eles têm à disposição saídas de ar-condicionado na coluna e no assoalho, bem como uma zona extra de ajuste climático. O porta-malas conta com 605 litros de capacidade volumétrica, e caso seja necessário rebater os bancos traseiros, o espaço cresce para 1.755 litros.
O tamanho considerável do Q8 ajuda no espaço interno, mas pode atrapalhar ao realizar manobras de estacionamento em shoppings e vagas de prédios. Mesmo no dia a dia, dependendo da via em que estiver trafegando, o Q8 tem o tamanho quase que exato da faixa, e dá certo receio ver os motociclistas passando muito perto dos retrovisores.
Se você pensa em comprar um Q8, saiba que ele irá te ajudar a sair (ou entrar) em algumas vagas com o assistente automático de estacionamento, eixo traseiro esterçante (que reduz o raio da curva), câmera de ré e visão 360, que facilitam e muito na hora de manobrar.
Vale ressaltar que os auxílios não são somente para o estacionamento, o Audi Q8 conta ainda com assistente de farol alto, controle de cruzeiro adaptativo com assistente de estacionamento, e assistente ativo de faixa (que mantém o carro centralizado na faixa).
Rodar macio, mas pneus finos
O Q8 usa suspensão com bolsas de ar que permitem o ajuste dependendo do modo de condução. Entre os vários disponíveis, vale destacar a opção off-road, que aumenta a altura do veículo em 50 mm ou o modo dynamic, que reduz a altura em 40 mm.
Cada configuração de suspensão garante ao SUV um comportamento diferente. Durante nossos dias de teste, boa parte do trajeto foi realizado no modo comfort, voltado justamente para o rodar macio. O modo dynamic é até interessante para quem busca uma condução mais precisa, porém, em asfaltos ruins, qualquer ondulação ou imperfeição da pista será sentida na cabine.
No modo comfort, o Q8 filtra muito bem qualquer mudança na estrada, porém, o problema apresentado pelo A3 Sedan se repete: pneus de perfil extremamente baixo (285/35 R23) impactam negativamente a experiência, uma vez que qualquer interrupção mínima do asfalto como uma junção de ponte, por exemplo, causa bastante impacto nas rodas.
O som não preocupa, afinal, o material das rodas é de alta qualidade e a velocidade é relativamente baixa, mas sabendo que um pneu custa mais até 4.700 reais e o estepe é temporário, não passa despercebido.
Isolamento acústico excelente
Por falar em som e cabine, o isolamento acústico do Q8 é de primeira qualidade, fazendo com que pouco ruído incomode os passageiros. Nem mesmo o belíssimo som do V6 3.0 consegue invadir a cabine. O sistema de som é fornecido pela Bang & Olufsen e conta com 19 alto-falantes, subwoofer e 730W de potência.
A cabine conta ainda com pacote de luz interior no painel frontal, forro das portas, console central e no logotipo quattro no painel frontal. O condutor tem 30 cores para personalizar o interior do Q8 como bem entender.
Saindo do Q8, o SUV previne os ocupantes de abrirem as portas quando há bicicletas ou motocicletas se aproximando, e para quem não gosta de passageiros que batam as portas do veículo, o modelo traz fechamento das portas com servo-motores, bastando aproximar a porta da coluna.
Motor híbrido-leve
Debaixo do capô é onde o Q8 brilha, apesar de não fazer tanto alarde. O motor é um V6 3.0 de 340 cv de potência e 50,8 kgfm de torque, disponíveis já a 1.370 rotações. Esse propulsor somado da tração quattro e da transmissão tiptronic de 8 marchas, garantem que o SUV de 2,3 toneladas alcance os 100 km/h em apenas 5,6 segundos.
Por ser um híbrido-leve, o Q8 não utiliza muito a parte elétrica em benefício da potência, e sim para reduzir a emissão de poluentes. O sistema é do tipo gerador de partida com correia de 48 volts e garante start-stop a partir de 22 km/h.
Esse sistema híbrido permite também o chamado modo roda livre, que desliga o motor a combustão entre 55 e 160 km/h (em determinadas situações) e deixa o carro rodando “no embalo”, visando justamente economizar combustível.
Em nossos testes foi possível conseguir médias de 11 km/l na estrada. Segundo o Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV) do Inmetro, o consumo do 7,0 km/l na cidade e 7,6 km/l na estrada. Na prática, a principal vantagem para os proprietários do Audi Q8 é o registro no Detran como carro híbrido, o que garante desconto ou isenção de IPVA em alguns estados.
Na prática, nunca falta fôlego para o Q8, que mesmo com cinco ocupantes consegue dar segurança total para realizar ultrapassagens. Em curvas, a tração quattro consegue direcionar mais torque para o eixo que apresentar mais tração, o que garante mais segurança. Vale ressaltar que, naturalmente, a tração é 40% dianteira e 60% traseira.
Multimídia decepciona
O interior do Q8 traz o painel de instrumentos de 12,3 polegadas, já tradicional dos modelos da Audi, que permite diversas configurações e até projeções de mapas. Porém, o destaque da cabine é a multimídia chamada de “MMI”, de 10,1”, comandos por voz e feedback tátil.
A multimídia tem aparência bem bonita, porém, a usabilidade deixa um pouco a desejar. Os comandos táteis não são extremamente rápidos, mas acredito que não me agradaram por ser uma questão de costume.
O principal problema foi a conexão do smartphone com a própria central multimídia. A conexão por bluetooth acontece rapidamente sem grandes problemas, mas parear o Android Auto é complexo.
A tela diz ser possível realizar a conexão sem fios, sendo possível somente com o uso de cabos, onde a conexão é rápida e sem grandes problemas. O mesmo acontece em aparelhos com Apple CarPlay, onde o sistema diz ser possível conectar sem fios, mas demanda o uso de cabos para funcionar.
Há uma terceira tela de 8,6 polegadas debaixo da tela da multimídia que funciona exclusivamente para controlar o sistema de ar-condicionado do veículo, mais precisamente as saídas dianteiras, já que o controle traseiro é independente.
Opcionais
Vale ressaltar que a unidade testada contava ainda com os opcionais de Head-up display (R$ 20.000), faróis full-led Laser com assinaturas configuráveis (R$ 26.000) e assistente de visão noturna (R$ 30.000). Com os opcionais, o preço do modelo sobe para R$ 870.990. Quem quiser ter um modelo único pode pagar ainda R$ 75 mil e optar pelas cores exclusivas ou individuais da Audi.
Dos três opcionais, o “menos” importante é o assistente de visão noturna, que apesar de interessante, não faz muito sentido, uma vez que os faróis com tecnologia laser são excelentes.
Veredicto
O Audi Q8 é um exagero de carro, mas para quem está acostumado com modelos de luxo como os clientes da Audi, o SUV entrega o que esperam.
Vale ressaltar que o modelo utiliza a plataforma MLB Evo, a mesma utilizada por Bentley Bentayga, Porsche Cayenne e Lamborghini Urus, mas com outros acertos de motor e suspensão, e cobra bem menos por isso.
Quem comprar um Q8 estará muito bem servido com um carro quase sem defeitos, mas que talvez seja muito grande para a realidade brasileira. Detalhes como bancos ventilados poderiam estar presentes, mas tornariam o SUV de luxo ainda mais caro.
O Q8 sabe justificar seu preço elevado e vale a pena para as pessoas que já conquistaram muito na vida e podem despejar esse valor num carro.
A escolha por um Q8, bem qualquer modelo premium na verdade, tem mais a ver com o gosto do comprador, fidelidade à marca do que custo-benefício propriamente dito. Seja por paixão, para “se mimar” ou apenas para ser visto e mostrar status, o Q8 entrega o que se espera.
Se o V6 de 350 cv não for suficiente e o cliente quiser ainda mais drama, mas sem chamar tanta atenção e se manter na marca das quatro argolas, a marca já confirmou que o RS Q8 será lançado em breve.
A versão mais bruta da linha Q8 terá motor V8 4.0 de 640 cv, mas chegará custando a partir de 1,3 milhão de reais.
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