O Brasil tem os veículos com menor pegada de carbono do mundo quando avaliado o ciclo de vida de automóveis, caminhões e ônibus. Esta, ao menos, é a constatação do estudo da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) feito em parceria com BCG. O resultado foi divulgado nesta semana.
A pesquisa calculou as emissões de CO2 em todo o ciclo de vida dos veículos fabricados no Brasil, comparando com as de carros produzidos em outros países. O levantamento usou como referência as emissões de veículos leves e pesados equivalentes, rodando no Brasil e nos principais mercados do mundo: União Europeia, Estados Unidos e China.
O cálculo leva em consideração a pegada de carbono desde a extração das matérias-primas, passando pela produção dos insumos, montagem dos veículos e distribuição, até chegar ao seu uso e descarte. O Programa Mover prevê o cálculo da pegada de carbono no ciclo de vida como critério a partir de 2027 para a concessão de incentivos visando a descarbonização da frota brasileira.
O Brasil leva vantagem frente aos principais mercados do mundo devido à matriz elétrica nacional, composta por 90% de fontes renováveis - hidrelétricas, eólica, solar, biomassa – e à matriz energética 50% renovável. Esses fatores têm impacto em toda a cadeia, seja na fabricação dos veículos, na emissão durante o uso ou até na recarga de modelos elétricos, por exemplo.
Com isso, veículos produzidos e utilizados no país têm pegada de carbono menor. Outro fator determinante para o bom resultado brasileiro é o uso em larga escala dos biocombustíveis, reflexo da presença expressiva de veículos flex na frota nacional.
Etanol x elétricos
De acordo com avaliação da pegada de carbono no ciclo de vida, os veículos com as menores taxas de emissões de CO2 no mundo são os fabricados no Brasil que rodam aqui utilizando etanol - sejam híbridos ou a combustão. Eles só rivalizam com modelos 100% elétricos quando fabricados no Brasil com bateria ocidental. Esse tipo de veículo, no entanto, por ora não reflete a realidade do mercado brasileiro.
Os elétricos chineses emitem mais CO2 frente a quase todos os tipos de veículos brasileiros, perdendo até para modelos a combustão que utilizam etanol. Atualmente, segundo a Anfavea, os veículos movidos a combustível fóssil utilizados na China apresentam a maior pegada de carbono entre todos os tipos de veículos analisados.
Potencial para os próximos anos
A vantagem que o Brasil tem hoje em sua matriz elétrica tende a ser reduzida nos próximos anos, dados os investimentos de outros países, sobretudo China e Europa, na redução do uso de energia térmica e aumento de fontes hídricas, solar, eólica e até nuclear.
Para os veículos a combustão ou híbridos, o maior potencial de redução na pegada de carbono vem da qualidade e do maior uso dos biocombustíveis. Em seguida vem o ganho de eficiência da motorização. Já para os elétricos, o corte de emissão de CO2 depende de três fatores: uso de energia de fontes renováveis, baterias mais limpas e ganho de eficiência nas baterias (menores, com maior autonomia e durabilidade).
Para o presidente da Anfavea, o novo estudo deixa claro que a descarbonização depende da cadeia completa. "Essa mobilização deve ser estendida para toda a produção dos insumos, o chamado 'berço', e também para as operações de descarte e reciclagem, que têm grande potencial de descarbonização ao estimular a renovação de frota e o aproveitamento de materiais reciclados", destaca Igor Calvet.
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