O governo mineiro aguarda, dentro de 72 horas, uma proposta oficial da direção alemã da marca Mercedes-Benz para reativação da fábrica de Juiz de Fora, na Zona da Mata, que chegou a trabalhar no ano passado com quase 80% de ociosidade, ante a sua capacidade para produzir 77 mil veículos por ano. As negociações estão sendo conduzidas pelo secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Sérgio Barroso, que espera comunicar a decisão da montadora ao governador Aécio Neves neste fim de semana, para que ele anuncie uma nova etapa da planta industrial na próxima segunda-feira, em solenidade prevista no município. ?Existem pendências que estamos negociando, mas esperamos uma solução em três dias. Nós queremos geração de emprego e renda. Isso é que nos interesse nesse projeto?, disse Barroso ao Estado de Minas.
Envolvido em conversas com dirigentes da montadora há alguns meses, o secretário de Desenvolvimento prefere não adiantar quais são as condições já postas na mesa pelo governo estadual. "Nós temos uma proposta e estamos trabalhando muito com a Mercedes-Benz. Esperamos uma solução até as 10h de segunda-feira. Até lá tudo o que se disser será especulação", afirma. Inaugurada em abril de 1999 com o propósito de se tornar o centro de produção do Classe A, a fábrica de Juiz de Fora está limitada à fabricação em escala reduzida do CLC.
Foram produzidos no ano passado 17 mil veículos do modelo CLC 200 Kompressor, cupê esportivo com motor de 1.8 litros e de duas portas, destinados ao mercado europeu. A produção representou pouco mais de 20% da capacidade de produção da fábrica. Há rumores de que a companhia pretende aproveitar sua capacidade ociosa, dobrando o número de funcionários na unidade da Zona da Mata (são cerca de 1,2 mil). O novo modelo a ser produzido em Juiz de Fora sucederia a família Classe A e Classe B, para competir com o Audi A3 e o BMW Série 1. Os boatos também ganharam vulto com a informação de que a montadora conseguiu financiamento de R$ 1,2 bilhão junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Tudo, no entanto, é desmentido pela assessoria de comunicação da montadora, em São Bernardo do Campo (SP).
Por enquanto, segundo a matriz brasileira, a unidade de Juiz de Fora deve manter o volume de produção do CLC Coupé em 2010. Um misto de cetismo e esperança prevalece entre os setores diretamente interessados na recuperação da planta da Mercedes-Benz, desde que surgiram os rumores de que a empresa teria uma segunda chance na cidade. As expectativas estão voltadas para o pronunciamento que o governador Aécio Neves fará segunda-feira.
"Seria a redenção de Juiz de Fora se a fábrica trabalhasse a todo vapor", pondera Francisco Campolina, presidente da regional da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). O empresário diz que, até agora, tudo é especulação em torno do futuro da Mercedes mineira, considerada peça-chave na economia regional, embora nunca tenha atingido sua meta de produção. "A montadora é maior arrecadadora de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) na região, tem o maior número de empregados (1,2 mil), é a maior exportadora da Zona da Mata", ressaltou.
Campolina destaca outro motivo para a ansiedade vivida pelo setor empresarial com o desenrolar das negociações entre o governo do estado e a montadora. Os salários pagos pela Mercedes são superiores à média de remuneração na cidade. Segundo ele, o piso ultrapassa R$ 800. A expectativa é de que o governador divulgue, segunda-feira, além de um novo projeto da montadora para Juiz de Fora, um pacote de investimentos em infraestrutura e desenvolvimento econômico. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Juiz de Fora, Geraldo Werneck, por outro lado, avalia com muita cautela as notícias de um novo projeto para a planta da Mercedes. "Só vou acreditar quando um carro estiver sendo produzido. Já são quase 15 anos nessa conversa", ressalta o sindicalista.
CRONOLOGIA DA FÁBRICA MINEIRA
DEZEMBRO DE 1996
>> Assinatura do contrato com o governo de Minas Gerais e a Prefeitura de Juiz de Fora
ABRIL DE 1997
>> Início da construção da planta
FEVEREIRO DE 1999
>> Primeiro exemplar do Classe A
ABRIL DE 1999
>> Inauguração da fábrica, com o então diretor da Mercedes em Juiz de Fora, Gotz Kirchner; o vice-presidente da República, Marco Maciel; e o governador mineiro, Itamar Franco
MAIO DE 2000
>> Início do Projeto da Classe C
2001 ATÉ 2004
>> Primeira fase de produção do Classe C, com 19.386 veículos
AGOSTO DE 2005
>> Decontinuidade da produção da Classe A
2005 ATÉ FEVEREIRO DE 2007
>> Segunda fase de produção do Classe C, com 8.808 veículos