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Coluna do Boris: Governo aumenta adição do etanol na gasolina sem comprovar viabilidade

Como diz o Macaco Simão, o Brasil é o país da piada pronta: primeiro, aprova-se a lei, para depois verificar a sua viabilidade técnica...

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Coluna do Boris: Governo aumenta adição do etanol na gasolina sem comprovar viabilidade
Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação


O Congresso aprovou a lei que permite aumentar a adição do etanol à gasolina, dos atuais 25% para até 27,5%. Com uma ressalva: só seria sancionada pela presidente depois de comprovada sua viabilidade técnica. Carros a gasolina rodariam milhares de quilômetros para testar desempenho e durabilidade com o novo percentual.


Ao contrário do anunciado, a lei foi sancionada por Dilma Rousseff no final de setembro, antes de qualquer teste. Mantendo a ressalva da aprovação de caráter técnico. Como diz o Macaco Simão, o Brasil é o país da piada pronta: primeiro, aprova-se a lei, para depois se verificar a sua viabilidade técnica...


Os usineiros, prejudicados nos últimos anos pelos preços travados da gasolina, defendem o acréscimo de etanol para aumentar a demanda e a rentabilidade. Argumentam a redução na emissão de poluentes pelo escapamento. Não é verdade, pois 10% adicionais de etanol acrescem em 60% a 70% a emissão de óxidos nitrosos: quanto mais oxigênio na gasolina, maior a temperatura de combustão. Em resumo: não há ganho ambiental com a nova mistura, pelo contrário.


Quem realiza os testes? O Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes). Ora, além dos usineiros, a estatal do petróleo está duplamente interessada na aprovação da lei. Primeiro, porque cada litro a mais de etanol significa um a menos de gasolina importada. Segundo, porque permitiria utilizar frações de baixa octanagem do petróleo não incorporadas à gasolina com apenas 25% de álcool. Não faz lembrar a história da raposa tomando conta do galinheiro?


Pior. O Cenpes está realizando exclusivamente testes de desempenho: aceleração, retomada, partida a frio, marcha lenta, etc. Mas não foca a questão principal levantada pelo novo percentual: a durabilidade do automóvel. Esta análise está sendo feita por alguns fabricantes, que já sinalizaram problemas como oxidação e travamento da bomba de gasolina. E sinais de distorções nos bicos injetores. Aliás, quando foi cogitada a ideia dos 27,5%, a Anfavea (associação das montadoras) se manifestou contrária, prevendo problemas de desempenho e durabilidade. Afinal, motor a gasolina foi calibrado para receber a gasolina E22, ou seja, com apenas 22% de etanol.


Pior ainda: o governo, no afã de aprovar rapidamente a lei, esqueceu-se das motocicletas. São dezenas de milhões delas, a maioria movida a gasolina. Pane no motor de moto tem consequências muito mais graves que no automóvel.


A medida beneficia usineiros e Petrobras, mas prejudica pobres e ricos, ambos usuários de carros a gasolina: os velhinhos nacionais (pré-flex) ou os importados. Motores flex não preocupam, pois queimam qualquer percentual de gasolina ou álcool.


Pergunta ingênua: diante do interesse (e pressão) do governo, de usineiros e da própria Petrobras, a tal “viabilidade técnica” dos 27,5% será baseada em critério científico ou político? Respostas para a redação.