Os representantes dos trabalhadores da fábrica da BYD em Camaçari, na Bahia, estão apreensivos com o futuro da unidade, que ainda está em fase de construção. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Julio Bonfim, soltou uma nota na última segunda-feira (5) expressando o receio da entidade.
"O que está em jogo é saber se Camaçari será, de fato, um polo industrial de produção de veículos, ou se correremos o risco de nos tornarmos apenas um centro logístico de distribuição de peças e veículos semi-montados vindos da China."
por Julio Bonfim, Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari
A fábrica, comprada da Ford em 2023, deveria produzir 150 mil carros por ano, mas os atrasos e as movimentações da montadora chinesa estão levantando suspeitas.
Segundo o Automotive Business, que ouviu Bonfim, o sindicato está de olho em alguns sinais que indicam que a ideia de fábrica pode não se concretizar. Um deles é o alto nível de automação planejado para o armazém da unidade, o que pode reduzir a produção local.
Outro é a intenção da BYD de aumentar sua frota de navios, como o Explorer #1, para trazer mais veículos da China, além do aumento da capacidade de uma fábrica da empresa em Zhengzhou, na China, para 1 milhão de unidades por ano. No dia 27 de abril, um navio com 7 mil carros saiu de Jiangsu com destino ao Brasil.
O mais preocupante, segundo Bonfim, é o pedido da BYD ao governo federal para reduzir impostos na montagem de kits CKD (veículos desmontados) e SKD (semimontados) na Bahia, algo que a Anfavea trouxe à tona em abril. Ou seja, essa preocupação ocorre porque pode indicar uma operação menos nacionalizada, mais focada em importar do que fabricar.
A fábrica, que tem um investimento de R$ 5,5 bilhões, já estava no centro de outras polêmicas. Em dezembro de 2024, uma operação do Ministério Público do Trabalho (MPT) resgatou 163 trabalhadores chineses que estavam em condições análogas à escravidão no canteiro de obras. Contratados pela terceirizada Jinjiang, eles enfrentavam jornadas de 10 horas, tinham salários retidos e até os passaportes confiscados.
A situação foi tão grave que o governo brasileiro suspendeu a emissão de vistos temporários para BYD, e a empresa rompeu com a Jinjiang. Os trabalhadores, no entanto, foram levados para hotéis e, segundo uma audiência com o MPT no dia 7 de janeiro, já voltaram para China com as rescisões pagas.
A BYD assumiu o complexo industrial de Camaçari, que pertenceu à Ford por duas décadas, até 2021, em 2023, com a promessa de transformá-lo no maior polo industrial da empresa fora da China. A produção de carros elétricos, caminhões e componentes deveria ter começado no fim de 2024, mas foi adiada várias vezes – primeiro para março de 2025, depois para junho, e agora a previsão é só para o fim deste ano.
O sindicato está cobrando transparência e tem uma reunião marcada com a BYD nesta quarta-feira (7) para discutir o futuro da planta.
- Acompanhe o VRUM também no YouTube e no Dailymotion!