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HÍBRIDO-FLEX

A tecnologia que só a Toyota tem e as montadoras estão correndo atrás

Híbrido flex do Corolla inspira o mercado, mas os desafios atrasam rivais

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Toyota Corolla Altis Premium Hybrid 2025
Toyota Corolla Altis Premium Hybrid 2025 Foto: Divulgação/Toyota

A Toyota colocou o Brasil no mapa da eletrificação flex em 2019 com o Corolla, o primeiro carro híbrido flex do mundo e o primeiro feito no Brasil. Depois veio o Corolla Cross, em 2021, e o Yaris Cross já está a caminho, previsto para o segundo semestre de 2025, também com essa tecnologia. E até o primeiro trimestre deste ano, somente a Toyota é detentora dessa tecnologia com carros híbridos, enquanto montadoras correm atrás. 

O que é um carro híbrido flex? 

É um veículo que tem dois motores: um elétrico, alimentado por uma bateria, e um a combustão, que aceita etanol ou gasolina. No caso da Toyota, o Corolla e o Corolla Cross usam um motor 1.8 de 101 cv (etanol) ou 98 cv (gasolina) e dois elétricos que, juntos, chegam a 122 cv. A bateria se recarrega com frenagens ou pelo motor a combustão, sem precisar de tomada. 

Toyota Corolla Altis Hybrid Premium modelo 2024 branco cofre do motor 1.8 flex no asfalto com mata ao fundo
Motor 1.8 flex trabalha em conjunto com dois propulsores elétricos, gerando juntos 122cv de potência combinada Foto: Maria Antônia Rebouças/Esp. EM/D.A Press

O carro flex, só com motor a combustão, nasceu em 2003, com o Volkswagen Gol. A Fiat entrou na onda logo depois, com o Mille. Esses pioneiros abriram o caminho para o etanol, mas a Toyota deu o salto ao juntar isso com eletricidade.

Outras marcas tentam seguir o exemplo, mas o ritmo varia. A Fiat, da Stellantis, lançou em 2024 o Pulse e o Fastback com um sistema híbrido-leve. Uma bateria de 12 volts e um motorzinho elétrico que ajuda nas partidas e reduz consumo.

Não é um híbrido pleno (HEV), já que o elétrico não move o carro sozinho. Porém o grupo corre atrás da tecnologia híbrida-flex com o sistema apellidado de Bio-Hybrid, que só deve dar as caras no início de 2027 com o Jeep Compass de nova geração. 

A Honda planeja seu híbrido flex para 2028, segundo Roberto Akiyama, vice-presidente da marca, em entrevista à CBN. A Volkswagen pretende lançar modelos híbridos-flex plenos, como por exemplo o T-Cross e Nivus, só em 2028, como apontou o Autos Segredos, com a plataforma MQB Hybrid e até versões híbrida plug-in (PHEV). 

GWM Haval H6 2026
GWM Haval H6 2026 Foto: Divulgação: GWM

As chinesas BYD e GWM, que já fabricam no Brasil, também miram híbridos flex pro Song Plus e o Haval H6, talvez em 2025. Todo mundo quer ter o sistema que a Toyota já tem desde 2019, mas ninguém chegou, por enquanto.

Por que é tão difícil fazer um híbrido flex? 

Primeiro, o custo. Desenvolver um motor a combustão que roda bem com etanol e gasolina já exige ajustes. Diferente da gasolina, ele tem álcool na composição, C2H5OH, e isso o torna corrosivo. Ele ataca metais como alumínio e aço se não tiver proteção, então o motor precisa de peças especiais, como injetores reforçados, tanque com revestimento e tubos que aguentem.

Um carro flex comum já exige isso, mas em um híbrido o problema cresce, porque o motor a combustão trabalha junto com o elétrico. A Toyota, por exemplo, usa aço inoxidável e ligas caras no Corolla para evitar desgaste, o que sobe o custo. Juntar isso com um sistema elétrico, significa integrar duas tecnologias caras: a bateria, os motores elétricos e o gerenciamento eletrônico para tudo funcionar junto. 

Honda WR-V na cor vinho é visto de lado em rua asfaltada com um monte atrás e o céu ensolarado mais ao fundo.
Honda WR-V volta ao mercado nacional em 2025 Foto: Honda/Divulgação

O híbrido flex precisa de uma bateria, motores elétricos e um cérebro eletrônico para casar o etanol com a energia elétrica. O etanol queima diferente da gasolina, mais rápido e com menos energia por litro, então o sistema tem que ajustar a combustão e a recarga da bateria em tempo real. 

Isso exige sensores caros e software esperto, além de testes longos para garantir que nada falhe. Montadoras como a Honda e a Volkswagen demoram porque adaptar um híbrido comum para o etanol leva anos de engenharia.

O preço e o tempo pesam no bolso das marcas. Peças resistentes ao etanol custam mais que as de um carro a gasolina, e o Brasil não produz tudo localmente —  baterias e eletrônicos ainda vêm de fora, encarecendo a produção. E aí vem a segunda parte: a nacionalização. Para baratear os custos, é preciso ter peças montadas aqui, mas montar essa cadeia de fornecedores leva tempo, por isso o atraso. 

Lançamento do BYD King.
BYD King Foto: Pedro Bicudo/BYD/Divulgação

Terceiro, o mercado. O Brasil ama etanol, mas a infraestrutura de recarga elétrica é fraca, então o híbrido-flex precisa ser prático e competitivo em preço, o que complica para marcas que ainda importam partes. Ou seja, não adianta produzir um carro que custe muito e vender ele caro, senão ninguém compra. Tudo precisa ser bem pensado e com uma boa estratégia. 

A Toyota saiu na frente por causa da experiência. Ela já dominava o carro híbrido desde o Prius, em 1997, e adaptou isso para o etanol brasileiro com ajuda da engenharia local e japonesa. O primeiro Prius foi lançado aqui em 2013. O resultado foi carro que faz até 18 km/l na cidade com gasolina e corta emissões em 70% com etanol, contando o ciclo da cana-de-açúcar. 

Toyota Prius azulado com fundo desfocado
Toyota Prius azulado com fundo desfocado Foto: Michael Simari / Divulgação

Os rivais têm tecnologia, mas falta o equilíbrio que a Toyota achou entre custo, produção local e apelo ao consumidor. A Stellantis investe R$ 32 bilhões até 2030 para tentar, a Volkswagen ajusta o motor 1.5 TSI Evo 2 para o etanol, e as chinesas correm atrás de fábricas próprias.

Mesmo assim, o híbrido-flex pleno ainda é território da Toyota. O Yaris Cross chega em 2025 para ser o híbrido flex mais acessível da Toyota, fabricado em Sorocaba (SP). A Toyota abriu a porta, e agora todo mundo quer entrar.