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Crise na Nissan: Ex-CEO brasileiro diz que situação é "desesperadora"

Carlos Ghosn critica gestão da montadora, que enfrenta dificuldades globais

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O empresário já foi preso duas vezes
O empresário já foi preso duas vezes Foto: O empresário já foi preso duas vezes

A Nissan vem enfrentando uma crise global, com quedas nas vendas, cortes de empregos e, agora, críticas pesadas do ex-CEO Carlos Ghosn, que chamou de “desesperadora” a situação da montadora japonesa. Foragido no Líbano desde 2019, ele voltou a atacar a gestão da empresa.

Carlos Ghosn, ex-CEO da Nissan e da Renault, não poupa palavras desde que fugiu da prisão domiciliar no Japão em 2019, onde enfrentava acusações de crimes financeiros, como uso indevido de recursos da empresa. Hoje com 71 anos e abrigado no Líbano, onde nasceu sua família e não há extradição, ele deu uma entrevista recente à BFM TV, na França, dizendo que a Nissan está em “situação desesperadora”. 

Ghosn, nascido em Rondônia, no Brasil, culpa a atual gestão: “As decisões foram muito lentas, e os problemas estão na administração”. Ele já tinha previsto o declínio da marca e disse que uma fusão com a Honda, cogitada em 2024, seria uma “jogada desesperada” sem sentido industrial, já que as duas empresas têm produtos e mercados muito parecidos.

Caixa de instrumento musical utilizado por Carlos Ghosn, ex-CEO da Nissan, na fuga para o Líbano.
Ghosn fugiu para o Líbano dentro de uma caixa de instrumento musical adaptada Foto: Ghosn fugiu para o Líbano dentro de uma caixa de instrumento musical adaptada

Ghosn liderou a Nissan por 16 anos, tirando a empresa da falência em 1999 com medidas bem fortes de reestruturação, mas sua saída foi marcada por polêmicas. Preso em 2018 por supostamente subnotificar salários e desviar fundos, ele escapou de Tóquio dentro de uma caixa de equipamentos musicais. 

Hoje, o empresário tem um mandado internacional de prisão e processos, como um no Caribe, onde foi condenado a devolver um iate e pagar US$ 32 milhões (cerca de R$ 182,4 milhões) à Nissan por uso indevido de recursos. Apesar de tudo isso, Ghosn diz que é inocente e vítima de perseguição política no Japão.

A montadora japonesa está enfrentando tempos difíceis. Em 2024, ela cortou 9 mil empregos globalmente, cerca de 6% da força de trabalho, e reduziu a produção em 20%. O lucro operacional despencou 85% no terceiro trimestre, e a empresa perdeu US$ 60 milhões no último trimestre do ano. As vendas caíram nos Estados Unidos e no Japão, e a Nissan enfrenta concorrência pesada de marcas chinesas, como a BYD, no mercado de elétricos. 

Dois altos executivos anônimos teriam dito que a empresa “tem 12 a 14 meses para sobreviver”, segundo o jornal Financial Time. A aliança com a Renault, que Ghosn ajudou a formar, também está enfraquecida, com participações cruzadas caindo de 15% para 10%.

Enquanto isso, a Nissan tenta se reinventar. A empresa planeja lançar veículos elétricos e híbridos até 2027, como um novo Leaf e SUVs elétricos nos EUA, além de investir em tecnologias como cockpits inteligentes e condução autônoma no Japão, segundo a Carscoops. Mas o mercado está exigente, e a reputação da marca sofreu com cortes de custos na era Ghosn, que deixaram modelos como Rogue e Altima com fama de baixa qualidade.

Novo Nissan Kicks já está sendo fabricado
Novo Nissan Kicks já está sendo fabricado Foto: Nissan/Divulgação

No Brasil, a Nissan está apostando alto para recuperar terreno. A nova geração do Sentra, flagrada rodando camuflada por aqui, deve chegar em 2027 com design mais refinado, mantendo a pegada de sedã competitivo contra o Toyota Corolla. Já o Kicks, o carro-chefe da marca atualmente por aqui, terá sua nova geração lançada neste ano, maior e mais sofisticado, mirando rivais como o Jeep Compass. 

Outra novidade é o Kait, um SUV compacto que ficará abaixo do Kicks de nova geração para competir com Volkswagen Tera e Renault Kardian, com exportação prevista para mais de 20 países da América Latina, como México e Argentina, e até mercados asiáticos. A produção será em Resende (RJ). Vale lembrar que a Nissan investiu R$ 2,8 bilhões no Brasil, entre 2023 e 2025.