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Carro no Brasil é muito caro ou o brasileiro ganha muito pouco?

Os modelos mais baratos comercializados no país já superaram a faixa dos R$ 63 mil, tornando cada vez mais distante o sonho do carro zero para muitos

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O Fiat Mobi ocupa atualmente o posto de carro mais barato do Brasil
O Fiat Mobi ocupa atualmente o posto de carro mais barato do Brasil Foto: O Fiat Mobi ocupa atualmente o posto de carro mais barato do Brasil

Carro no Brasil nunca foi barato, mas agora estamos vivendo um período que revela uma situação cada vez pior. Com as interferências da pandemia da COVID-19, que afetou diretamente a produção de componentes e de veículos, e da alta do petróleo, consequência da guerra na Ucrânia, os preços subiram e muitos fabricantes estão mudando suas estratégicas, alterando o leque de produtos oferecidos.

Confira o teste do Renault Kwid, o segundo com preço mais em conta no Brasil

Os carros compactos, que um dia foram chamados de “populares”, passaram a ser vistos como premium, sem entregar, de fato, o conteúdo que esse título demanda. E restou para os subcompactos a missão de carregar a bandeira de modelos mais baratos. Só que na prática não é bem assim. Carro no Brasil para ser chamado de “barato” vai ter que mudar muito. Por outro lado, as montadoras investem em modelos com maior valor agregado, que garantem margem de lucro maior.

Atualmente, o modelo com preço “mais em conta” no mercado brasileiro é o Fiat Mobi, que tem preço sugerido de R$ 63.390. Em seguida, aparece o Renault Kwid, que tem preço de tabela de R$ 64.690. Já o jurássico Volkswagen Gol 1.0, modelo que não consegue sair de linha porque não para de vender – em junho foi o mais emplacado no segmento –, está sendo comercializado por R$ 75.490. Pasmem! Esses são os preços dos carros “mais baratos” no Brasil.

É importante lembrar que são modelos simples, ultrapassados, que não trazem tecnologia ou qualquer tipo de conteúdo que justifique preço tão alto. O VW Gol, então, é um caso a parte, pois é um projeto que já se pagou ao longo de décadas e a montadora lucra cada vez mais com ele.

Para quem não se lembra, em 1993, o governo reduziu o IPI a simbólico 0,1%, estabelecendo o preço de US$ 7.300 para o “Carro Popular”, algo em torno de R$ 7.500 na época. Dois anos depois, o IPI foi a 7% e o preço do popular subiu para R$ 12 mil, período em que o salário mínimo era de R$ 100. Ou seja, para comprar um carro zero, o cidadão tinha que desembolsar 120 vezes o valor do mínimo.

Nos dias de hoje, com o salário mínimo de R$ 1.212, são necessárias cerca de 53 vezes esse valor para se comprar um carro no Brasil com preço em torno de R$ 64 mil. Os números levam a crer que a situação do consumidor atualmente é um pouco melhor do que no passado, mas a prática tem demonstrado que a dificuldade ainda é grande para muitos colocarem um carro zero na garagem.

E se fizermos a conversão dos US$ 7.300 que eram cobrados pelo carro popular em 1993, com a cotação de hoje a R$ 5,30, um modelo desse segmento custaria em torno de R$ 38.700. Bem menos que se paga hoje. Aliás, seria um preço mais justo e mais palpável para uma parcela da população brasileira que não consegue investir no carro próprio e ainda está sujeita ao transporte público de péssima qualidade.