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JAC Hunter desafia Ranger e Hilux com preço competitivo e boas credenciais

Picape média custa R$ 239.990, chega em versão única, e traz bons pontos positivos para fazer de frente com a concorrência

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JAC Hunter
JAC Hunter Foto: Luiz Forelli/Vrum

Após cerca de dois anos sem comercializar veículos a combustão, a JAC Motors decidiu apostar novamente nesse mercado com o lançamento da picape Hunter, que chega ao Brasil por R$ 239.990. Assim, o discurso de Sergio Habib, presidente da marca no país, fica um pouco mais coerente, especialmente após ele passar cerca de uma hora e martelando sobre os carros elétricos.

A picape média Hunter chega para competir diretamente com modelos consagrados como Toyota Hilux, Ford Ranger, Chevrolet S10, Nissan Frontier e Volkswagen Amarok. No entanto, em termos de preço, sua principal rival é a Fiat Titano.

A decisão de retornar ao mercado de veículos a combustão foi bem fundamentada no evento realizado em São Paulo nesta terça-feira (3). Habib destacou que o segmento está em crescimento no Brasil e que a Hunter atende às principais demandas dos consumidores de picapes médias no país: tração 4x4 (99%), motor a diesel (96%), cabine dupla (94%), transmissão automática (84%) e potência entre 181 e 210 cv (79%).

Esses atributos estão presentes na Hunter, e tivemos a oportunidade de comprová-los durante o teste do modelo em um trajeto de São Paulo até quase Atibaia, no interior do estado. O percurso incluiu ainda uma trilha off-road bem desafiadora, agravada pelas condições climáticas de muita chuva.

Logo de cara, com meus 1,88 m de altura, pude perceber a boa posição oferecida pelo banco do motorista. Graças aos ajustes elétricos com até seis posições, foi fácil encontrar uma posição confortável na picape, mesmo que o volante não conte com ajuste de profundidade. A ergonomia é excelente, com uma boa empunhadura do volante e um console central alto que contribui para o conforto.

Ao começar a rodar, a suspensão surpreendeu positivamente. Apesar de firme, oferece um certo nível de maciez que garante conforto na cidade, algo difícil no segmento de picapes. A carroceria balança pouco em buracos, e a calibragem é bem ajustada. O volante, com assistência elétrica, tem peso adequado o que ajuda na condução confortável da picape.

JAC Hunter
JAC Hunter Foto: Luiz Forelli/Vrum

Já no trecho de estrada, a Hunter começa a mostrar uma de suas limitações: a potência. Embora equipada com um motor 2.0 turbodiesel de quatro cilindros, que entrega 191 cv e 46,9 kgfm de torque entre 1.500 e 2.500 rpm, além do competente câmbio ZF de oito marchas (também usado por modelos da BMW e na Amarok), o desempenho não é tão ágil quanto o de algumas concorrentes.

Em comparação com outras picapes, exceto a Titano e Frontier, é perceptível uma demora nas respostas e cansaço em alguns momentos, principalmente ao atingir velocidades mais altas ou ao realizar ultrapassagens. O 0 a 100 km/h é feito em 11,9 segundos, o que coloca a Hunter bem abaixo de diversos modelos do segmento. 

Na prática, é necessário ter  paciência para a Hunter engrenar e ganhar ritmo. Após embalar, ela consegue se adaptar ao fluxo de ar e corrigir parte dessa sensação de esforço, mas ainda assim é perceptível. 

O câmbio, apesar de competente e com boa força de engrenagem, ajuda a impulsionar a picape, mas o escalonamento deixou a desejar em alguns momentos. Segundo a marca, a velocidade máxima é de 185 km/h.

JAC Hunter
JAC Hunter Foto: Luiz Forelli/Vrum

Em subidas íngremes, com muita chuva, foi possível perceber algumas patinadas ao tentar movimentar os 2.050 kg da picape, além do peso adicional dos ocupantes. Antes do test drive, o presidente da JAC recomendou que mantivéssemos o modo Sport ativado, em vez do Normal ou Lama, justificando que os chineses priorizam bastante o consumo de combustível. Por isso, no modo Eco, há um corte bem significativo na potência.

Essa diferença não passou despercebida. A mudança é extremamente notável: no modo Eco, a picape parece pesar uma tonelada a mais, com uma grande redução de potência e um atraso considerável na resposta do acelerador. Já no modo Sport, o acelerador se torna muito mais responsivo, e o motor ganha vigor.

Em curvas, a Hunter tende a apresentar uma leve inclinação da carroceria, dependendo do traçado. Apesar disso, ela realizou as curvas de maneira competente, com boa resposta do volante dentro da categoria. Durante o teste, sob chuva, e cuidados redobrados, o limite da estabilidade se torna perceptível em curvas mais fechadas, quando a picape começa a demonstrar uma certa instabilidade.

No off-road, a pista de teste foi super desafiadora: pedras, subidas íngremes, inclinações laterais, trechos alagados, muito barro e valetas enormes. Em todas essas condições, a Hunter passou sem apresentar problemas no nosso teste.

JAC Hunter
JAC Hunter Foto: Luiz Forelli/Vrum

Com o 4x4 reduzido acionado, a picape manteve a tração de forma eficiente e distribuiu a força de maneira equilibrada entre as rodas. Mesmo sem contar com assistente de descida, ela se mostrou capaz de segurar bem em declives, além de demonstrar força e prontidão para superar obstáculos sem exigir muita pressão no acelerador. 

Em estradas de terra com um pouco de barro, é possível perceber como a Hunter treme bastante, mesmo em velocidades relativamente baixas. O volante apresentou uma trepidação excessiva. Os passageiros do banco traseiro são os que mais sofrem com isso. A suspensão combina braços independentes sobrepostos na frente com eixo rígido e molas semielípticas na traseira, o que ajuda a explicar essas características.

Por fim, em frenagens, a Hunter apresentou um ótimo desempenho. Isso se deve, em parte, aos freios a disco ventilados tanto na frente quanto na traseira, uma característica adaptada do modelo elétrico da marca, que chega ao Brasil no primeiro semestre de 2025. O sistema de freios mostrou grande eficiência com o pedal bem sensível. O isolamento acústico também se mostrou razoável em todas as condições.

O consumo, segundo o Inmetro, é de 9 km/l na cidade e 10,2 km/l na estrada. Durante nosso teste, não conseguimos (nem focamos em) medir o consumo com precisão, mas ele ficou próximo de 10 km/l. O tanque de combustível tem uma boa capacidade de 76 litros.

A Hunter, em termos de dimensões, é a maior em largura e altura do segmento, além de possuir a maior capacidade de carga, com excelentes 1.400 kg, superando a até então líder Volkswagen Amarok, que suporta 1.156 kg. Suas medidas são 5,33 m de comprimento, 1,96 m de largura, 1,92 m de altura e 3,11 m de distância entre eixos. Os ângulos de entrada e saída são de 23º e 27º, respectivamente.

JAC Hunter
JAC Hunter Foto: Luiz Forelli/Vrum

Uma grande vantagem, tanto na hora de estacionar quanto no off-road, são as câmeras 360°, recurso que apenas a Hunter e a Titano oferecem entre as médias. As imagens são exibidas na central multimídia vertical de 13 polegadas, que infelizmente só aceita Apple CarPlay e Android Auto com fio. Embora a resposta da central seja um pouco lenta, ela é funcional, com grafismos simples, assim como o painel de instrumentos digital de sete polegadas.

Já em termos de acabamento do interior, transmite uma impressão de cuidado, com o tabelier revestido em material macio, plásticos de boa qualidade na parte superior das portas e peças com arremates precisos e encaixes firmes, todos bem alinhados.

JAC Hunter
JAC Hunter Foto: Luiz Forelli/Vrum

Os itens de série incluem freio de estacionamento elétrico com auto hold, bancos de couro com ajuste elétrico para motorista e passageiro, teto solar, ar-condicionado de uma zona, direção assistida, piloto automático (convencional) com limitador de velocidade, volante multifuncional, vidros e travas elétricas, entre outros.

JAC Hunter
JAC Hunter Foto: Luiz Forelli/Vrum

Em termos de segurança, a Hunter oferece controle de tração e estabilidade, seis airbags, assistente de partida em rampa, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, monitoramento de pressão dos pneus e rodas aro 18 (265/60 R18 — all terrain).

Vale lembrar que a Hunter obteve cinco estrelas no teste de colisão do ANCAP. Além disso, a marca oferece a maior garantia do mercado, sem burocracia: oito anos sem limite de quilometragem para uso particular.

JAC Hunter conquista 5 estrelas no ANCAP; picape chega em outubro
JAC Hunter conquista 5 estrelas no ANCAP; picape chega em outubro Foto: Divulgação

Sergio Habib, sempre direto, comentou que a meta é vender de 250 a 300 unidades mensais, um objetivo ambicioso, mas a picape se mostra competitiva pelo preço e pelo que entrega. A escolha de trazer a Hunter foi estratégica, considerando as preferências do consumidor brasileiro e o crescimento do segmento de picapes.

Por fim, Habib destacou que, mesmo vendendo apenas veículos elétricos, a participação de mercado da JAC estava limitada a pouco mais de 2%. Ele atribuiu essa dificuldade ao forte domínio da BYD no mercado de elétricos. Com o aumento dos impostos sobre esses modelos no Brasil, Habib percebeu a necessidade de diversificar a linha e decidiu trazer a Hunter. 

Ele também mencionou que a versão elétrica da picape será introduzida no mercado apenas para completar a linha, mas admitiu que as vendas desse modelo devem ser mínimas.