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Motor de três cilindros é bomba? Segundo o próprio mercado, a resposta é não!

Propulsores com esse tipo de arquitetura já estão no mercado há mais de uma década (e ainda não estouraram)

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Motor de três cilindros é tendência global
Motor de três cilindros é tendência global Foto: Motor de três cilindros é tendência global

Já se passaram mais de 10 anos desde que a atual geração de motores de 3 cilindros chegou ao Brasil. Entre os carros nacionais, a primazia é do Hyundai HB20 1.0, cujo lançamento data de setembro de 2012. E vale lembrar que, cerca de um ano antes, o Kia Picanto, importado, já utilizava a mesma mecânica. Porém, até hoje, alguns consumidores desconfiam da durabilidade desses propulsores. E então, esse temor faz sentido?

O VRUM ouviu um analista de mercado e um engenheiro mecânico para responder a essa pergunta. E a resposta é não: o número de cilindros (3, 4, 6 ou até mais) não tem qualquer relação com a vida útil de um motor. E o próprio histórico desses propulsores no país indica isso. Afinal, depois de mais de uma década de mercado, eles já foram mais do que colocados à prova, e a dita bomba não explodiu.

Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive, pondera que vários carros equipados com motores de 3 cilindros são valorizados e procurados no mercado de usados. E, entre eles, estão alguns modelos que utilizam essa solução mecânica há vários anos, entre os quais o up! e o Fox, da Volkswagen, além do próprio Hyundai HB20. "São veículos muito bem aceitos", diz o especialista.

Hyundai HB20 For You de frente estacionado
HB20, que utiliza motor 1.0 de 3 cilindros desde o lançamento, em 2012, tem fama de robustez e boa aceitação no mercado de usados

Tendência

Desde que a Hyundai, em 2012, e a Volkswagen, em 2013, aderiram ao motor de 3 cilindros, praticamente todas as demais fabricantes seguiram pelo mesmo caminho. Hoje, além das já citadas, Chevrolet, Renault, Fiat, Citroën e Peugeot produzem modelos com propulsores do gênero no país. Outras, como Ford, Nissan e Caoa-Chery, já fabricaram, mas saíram do segmento de veículos 1.0.

Garbossa pontua que, se essa solução fosse ruim, não teria se difundido de maneira tão massiva entre os fabricantes. "A indústria investe para desenvolver produtos melhores: não é uma opção de apenas uma empresa, e sim uma uma tendência geral", sintetiza. Para ele, os temores são fruto de desconhecimento:

Toda mudança exige aceitação; essa desconfiança é preconceito dos consumidores."

Paulo Roberto Garbossa, consultor de mercado da ADK Automotive

Boris Feldman já explicou todas essas questões em vídeo: assista!

https://youtu.be/OZ_F7FuMzTw?si=ydYbL9ZOHpyh9YkX

Motor de 3 cilindros: mais econômico e potente

Os motores 1.0 de 3 cilindros dominaram o mercado por um motivo simples: são mais eficientes que os similares de 4 pistões. Ocorre que, justamente por terem menor número de peças móveis, esses motores sofrem menos perdas por atrito. O resultado é uma maior eficiência energética, que se traduz em melhores índices tanto de consumo quanto de desempenho.

Erwin Franieck, mentor de tecnologia da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade do Brasil (SAE Brasil), elenca outra vantagem: "o tamanho do cilindro fica perfeito para uma maior eficiência de queima (de combustível) para motores próximos a 1.000 cm³ (1.0)". Com tecnologias como injeção direta e duplo
comando de válvulas variável, a economia é ainda mais perceptível," explica.

Quanto à durabilidade, o engenheiro da SAE não vê motivo algum para temor: "Em tese, com menos peças, há menos chances de falhas", pontua. Essa lógica também vale para a manutenção, que, além de não trazer grandes diferenças em relação a um motor de 4 pistões, ainda demanda, em alguns casos, menos peças de reposição, como velas, cabos de ignição e bobinas.

Vantagens adicionais são o menor peso e o tamanho mais compacto. O único ponto negativo é o maior índice de vibrações durante o funcionamento, mas esse inconveniente pode ser mitigado com o dimensionamento correto dos coxins.

Devido a esses motivos, os motores de 3 cilindros têm incorporado mais tecnologias, como sobrealimentação com turbocompressor. O próximo passo é a aplicação em veículos híbridos, solução que, inclusive, o Grupo Stellantis já confirmou que adotará. Marcas premium, como BMW e Volvo, aliás, já utilizam esse tipo de arquitetura mecânica.

Motor de 3 cilindros: muito anterior ao Hyundai HB20

Embora a popularização do motor de 3 cilindros tenha ocorrido ao longo da última década, tal solução já existe há mais de 60 anos. Inclusive no Brasil: em novembro de 1956, a DKW Vemag começava a produzir a Vemaguet no país, equipada com um propulsor 1.0 com essa mesma configuração. As diferenças ficavam por conta da alimentação por carburador e do funcionamento em dois tempos, em vez de quatro.

Na década de 1960, essa mecânica equipou outros modelos, como o sedan Belcar, o jipe Candango e até a primeira geração do esportivo Puma. Porém, em 1967, a Volkswagen adquiriu as operações da DKW-Vemag e tirou os mores de 3 cilindros de linha. Ainda assim, a produção atingiu mais de 100 mil unidades: na época, os modelos da marca tinham fama de robustez e de facilidade de manutenção.

Durante os anos de 1990, a abertura do mercado às importações fez com que os motores de 3 cilindros retornassem em modelos como o Suzuki Swift e o Asia Towner. Porém, no fim daquela década, novas políticas de tributação e a desvalorização do Real trouxeram problemas para os automóveis estrangeiros, como falta de peças e de assistência técnica especializada.