José “Pepe” Mujica faleceu nesta terça-feira (13) aos 89 anos e deixou um legado que vai além da política uruguaia, que é a sua vida simples, refletida principalmente no Fusca azul 1987 que dirigia mesmo sendo presidente do Uruguai (2010-2015). Enquanto líderes mundiais optam por carrões oficiais, Mujica batia volante em seu Volkswagen, um carro que virou símbolo de sua filosofia de desapego e proximidade com o povo.
O Fusca azul de Mujica é frequentemente identificado como um modelo 1987, mas isso já levantou debates entre os “fuscólogos”. No Brasil, a produção do Fusca parou em 1986, retomada só em 1993 com o “Itamar”.
No México, o Vocho, como é chamado, foi fabricado até 2003. Então, de onde vem o carro de Mujica? Detalhes do veículo dão pistas: os vidros traseiros menores são típicos dos Fuscas brasileiros, diferente dos mexicanos, que tinham janelas maiores.
As setas nos para-lamas, em vez de serem integradas ao para-choque como no Vocho, também apontam para o Brasil. A hipótese mais aceita é que o Fusca foi fabricado em 1986 no Brasil e vendido no Uruguai em 1987, já que a produção brasileira foi até novembro daquele ano.
Seu motor é o 1.6 a ar de cerca de 50 cv e câmbio manual de quatro marchas. Pintado num azul celeste uruguaio, o carro tem um charme rústico, com marcas do tempo que só mostram sua autenticidade e originalidade.
Ele era usado por Mujica para rodar entre sua chácara em Rincón del Cerro, na zona rural de Montevidéu, e os compromissos oficiais, mostrando que, para ele, o cargo de presidente não mudava sua essência.
Quando assumiu a presidência em 2010, Mujica deixou o mundo chocado ao abrir mão do carro oficial e manter seu Fusca. Enquanto doava 90% do salário para causas sociais e vivia na mesma chácara modesta com a esposa, Lucía Topolansky, o Fusca azul se tornou o maior ícone de sua austeridade. “Eu não sou pobre, sou sóbrio. Pobre é quem precisa de muito pra viver”, dizia Mujica. O carro, avaliado em menos de US$ 3 mil na época, representava essa filosofia.
Em 2014, o Fusca ganhou fama mundial quando um xeque árabe ofereceu US$ 1 milhão por ele durante a cúpula do G77+China, na Bolívia. Na cotação atual, isso seria mais de R$ 5,6 milhões. Mujica recusou, dizendo que o dinheiro iria para caridade se aceitasse, mas preferiu ficar com seu “companheiro”.
No mesmo ano, o embaixador mexicano Felipe Enríquez tentou trocá-lo por dez picapes 4x4, mas Mujica também negou. “Se eu vendesse, meus amigos me internariam”, brincou.
Em janeiro de 2023, o Fusca azul voltou aos holofotes quando Mujica deu uma carona ao presidente Lula (PT) durante uma visita à sua chácara em Montevidéu. O momento, registrado em vídeos que viralizaram, mostrou os dois líderes rindo enquanto Mujica dirigia o Fusquinha.
Nascido em 1935 em Montevidéu, Mujica fundou o grupo guerrilheiro Tupamaros, passou 14 anos na prisão e, mesmo assim, pregou a reconciliação como presidente. Sua escolha pelo Fusca, em vez de blindados oficiais, queria mostrar que liderar é estar perto do povo, não acima dele.
No Uruguai, o Fusca azul é quase um patrimônio. Ele apareceu em documentários, reportagens e até inspirou memes, como os que circularam após a oferta do xeque. Com a morte de Mujica, o destino do Fusca é incerto.
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