Graças aos incentivos fiscais concedidos pelo governo, os preços dos veículos caíram ao longo das últimas semanas. Os mais beneficiados são os modelos de entrada, mais conhecidos como carros populares, que exibem descontos de R$ 6 mil a até R$ 8 mil. Porém, há um obstáculo para a aquisição desses produtos: os juros, que seguem altos no Brasil, com uma taxa Selic de 1,12%. Nesse contexto, vale a pena fazer um financiamento para efetuar a compra? Para tomar essa decisão, é válido também verificar o valor do veículo de interesse na tabela FIPE, que fornece uma base de preços médios.
Para Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive, o momento está, sim, favorável ao consumidor. Ele destaca que, além das isenções concedidas pelo governo, alguns fabricantes estão aplicando descontos adicionais, por conta própria. Há ainda outras benesses oferecidas pelas concessionárias, como taxa de juros especial ou valorização do veículo usado na troca por um zero-quilômetro.
Entretanto, o especialista em mercado recomenda que o comprador pesquise bastante antes de fechar negócio. E, se houver a necessidade de contrair um financiamento, é essencial ter total consciência de todas as condições e das próprias limitações financeiras.
Tem que fazer as contas. Senão, o consumidor arranja uma dívida muito grande e não consegue pagar."
Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive
Carros populares têm taxa de 0% ao mês
Muitas montadoras realmente estão oferecendo, além dos descontos do programa do governo federal, condições especiais de compra, que incluem taxa de 0% ao mês para alguns carros populares. Porém, de maneira geral, para obter esse benefício, o comprador precisa dar uma entrada maior. Quanto menor for o valor do sinal, mais altos tendem a ser os juros.
A Chevrolet, por exemplo, está concedendo, em um plano nacional de descontos, taxa de 0% ao mês para a versão mais em conta do Onix, chamada simplesmente de 1.0. O veículo, que custa R$ 84.300 sem as isenções fiscais, recebe um abatimento de R$ 7.206,36 e sai pelo preço final de R$ 77.093,64.
Porém, o comprador precisa dar 70% do valor total (R$ 52.661) de entrada, sendo que o restante é dividido em 24 parcelas mensais de R$ R$ 359 e em mais uma parcela final de R$ 15.816,84. A assessoria da marca destaca que é possível encontrar condições melhores diretamente na rede de concessionárias.
A Hyundai é outra marca que está oferecendo taxa de 0% ao mês. Na concessionária Tai Motors, em Belo Horizonte, essas condições são válidas para toda a linha HB20 e também para algumas versões do Creta. O produto mais em conta da gama é o HB20 Sense, cujo preço caiu de R$ 82.290 para R$ 69.990. Nesse caso, o plano prevê uma entrada de 60% e outras 12 parcelas iguais.
Angelo Campos, gerente de vendas Tai Motors, afirma que as vendas na concessionária mais do que dobraram desde o último dia 6, quando as isenções entraram em vigor. Ele avalia que esse aumento é consequência das condições favoráveis ao consumidor. "Antes, a Hyundai oferecia o bônus no preço ou a taxa zero. Agora, estamos ofertando as duas coisas juntas", pontua. Segundo o gerente, cerca de 70% dos compradores do HB20 fazem financiamentos.
Com juros, preço dos carros populares aumenta bastante
Na linha Volkswagen, a situação é parecida. A concessionária Reauto, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, negocia o Polo Track, modelo que substituiu o Gol, com taxa de 0% ao mês. Porém, o comprador deve desembolsar 80% desse valor total no ato do fechamento do negócio.
Se não for viável dar uma entrada tão alta, é possível fechar negócio com um sinal menor. Mas, nesse caso, já há incidência de juros. Ainda tomando por base o Polo Track, a mesma revendedora autorizada oferta um plano de financiamento com entrada de apenas 30% e o restante em parcelas de 48 vezes, com juros de 0,99% ao mês.
Por mais que essa taxa ainda esteja abaixo da Selic (1,12%), o impacto no preço final do produto já é significativo: o valor do Polo Track salta de R$ 74.490 para R$ 92.337, diferença de R$ 17.847. Marco Túlio Ribeiro, gerente de veículos novos da Reauto Contagem, explica que, mesmo quando não há cobrança de juros, os financiamentos incluem taxas, como o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
O gerente da Reauto pondera que, para ter essas condições especiais de venda, o cliente precisa ter o crédito aprovado. E isso vale para todas as marcas, não apenas para a Volkswagen: afinal, um levantamento realizado pela Serasa no último mês de abril aponta que 71,44 milhões de pessoas estavam em situação de inadimplência.
Modelos mais caros também têm descontos
Carros mais caros, que inclusive não se enquadram nos benefícios governamentais (as isenções só valem para modelos ditos populares, com preço abaixo de R$ 120 mil) também podem ser encontrados em condições especiais. Nesse caso, o abatimento é totalmente por conta dos fabricantes.
O plano nacional de descontos da Chevrolet inclui o SUV Tracker LTZ com taxa de 0%. O valor final é de R$ 141.027,04, com entrada de 60% (R$ 83.568), 24 prestações mensais de R$ 1.233,46 e última parcela de R$ 27.856.
Por sua vez, a Volkswagen adota estratégia semelhante. A Reauto negocia o SUV T-Cross na versão top de linha Highline, que custa R$ 171.640, sem a cobrança de juros. O plano prevê uma entrada de 60% do valor total (R$102.984) e 18 parcelas mensais de R$ 3.999.
Financiamentos em alta
Apesar das taxas de juros elevadas, as vendas de carros a prazo estão crescendo no Brasil. Um levantamento da empresas de mercado financeiro B3 revela que as vendas financiadas de veículos em maio somaram 500 mil unidades, entre novos e usados. Esse número, que inclui carros de passeio, motos e pesados em todo o país, representa um crescimento de 18,6% na comparação com abril e de 4,3% em relação a maio de 2022.
Levando em consideração apenas o mercado de Minas Gerais, tal crescimento foi ainda maior. O número de financiamentos aumentou 19,4% na comparação com abril e 4,8% em relação ao mesmo período do ano anterior, também de acordo com dados da B3.
- Acompanhe o VRUM também no Dailymotion e no YouTube!