Houve um tempo em que o modelo de entrada de todas as marcas de automóveis era um hatch compacto básico, com mecânica mais simples e pacote de equipamentos bem acanhado. Mas depois da chegada do fenômeno SUV, a indústria automobilística, aos poucos, vai modificando seu portfólio, direcionando a produção para o produto da preferência do consumidor. Os hatches compactos mais simples ainda resistem, mas já tem SUVs de entrada de olho nesse lugar no mercado.

E por que não oferecer o SUV compacto como modelo de entrada também, já que os médios e os grandes têm preços ao alcance de poucos? Essa foi a grande sacada da indústria automobilística nacional, que começou a ensaiar a nova fórmula com os antigos hatches aventureiros. Bastava pegar um modelo da linha, elevar minimamente as suspensões e aplicar alguns adereços alusivos ao mundo off road.

Assim nasceram os primeiros “SUVs compactos”, que não passavam de hatches compactos com penduricalhos. A Volkswagen teve o CrossFox e o Gol Rallye, a Fiat o Uno e Palio Way, a Renault com o Sandero Stepway, que agora é apenas Stepway. Uma fórmula que deu muito certo no mercado brasileiro por muito tempo, pois era uma forma de cobrar um pouco mais por um modelo que oferecia basicamente a mesma coisa que as outras versões, porém, com um “visual mais descolado”.

Mas o gosto pelos SUVs cresceu tanto que o próprio consumidor começou a exigir mais, e os hatches aventureiros foram perdendo seu poder de convencimento. Mas, assim como na natureza, nada se cria, tudo se transforma, no setor automotivo também não é muito diferente.

Com as plataformas modernas usadas pela indústria automobilística é possível transformar um hatch compacto em um SUV, mudando um pouco o desenho da carroceria e usando o mesmo conjunto mecânico. Foi assim que as montadoras perceberam que valia a pena investir um pouco mais em “novos modelos”, e não apenas maquiar os já existentes.

E não é que eles acertaram mais uma vez? O chamado modelo de entrada tem tudo para se transformar definitivamente em SUV de entrada. E assim como as peruas (station wagon) e as minivans, que praticamente entraram em extinção, os hatches correm o risco de seguirem o mesmo caminho.

É verdade que os modelos mais vendidos no Brasil ainda são os hatches, mas é possível notar que há um movimento para mudar essa antiga regra. Basta verificar que o VW Polo, o modelo mais emplacado nos seis primeiros meses do ano, teve 66% do volume comercializado em vendas diretas, ou seja, para locadoras, frotistas e empresas. As vendas ao consumidor pessoa física estão diminuindo cada vez mais neste segmento.

O curioso é que o consumidor brasileiro reclama do preço do modelo de entrada, que começa de cerca de R$ 65 mil. O que vai acontecer se a onda dos SUVs de entrada realmente tomar conta do mercado? A pergunta se faz por um simples motivo, pois tudo que remete aos SUVs significa preços mais elevados.

Mas o consumidor que se prepare, pois algumas novidades no segmento de SUVs de entrada estão programadas para os próximos meses e anos. A Citroën, que já tem o C3 Aircross, prepara o lançamento do Basalt, o SUV cupê que tem lançamento previsto para agosto.

A Volkswagen vai usar a plataforma MQB, a mesma do hatch Polo, para fazer um novo SUV compacto, um modelo de entrada no segmento, que será produzido na fábrica de Taubaté. O lançamento está previsto para 2025.

A General Motors também quer surfar na onda e prepara o modelo que vem sendo chamado de “SUV do Onix”. O novo SUV de entrada da marca vai aproveitar algumas partes da carroceria do hatch, e terá a missão de enfrentar o Fiat Pulse e o VW Nivus. O modelo será produzido na fábrica de Gravataí (RS) e tem seu lançamento previsto para 2026.

A Fiat não fica de fora e também quer um modelo de entrada diferente, que pode substituir em uma só tacada o Mobi e o Argo. Trata-se de um modelo de formas quadradas, possivelmente baseado no novo Fiat Panda, um hatch com estilo de SUV, que na Itália vai ganhar uma geração eletrificada.

A Renault que já tem o Stepway, o Kardian e o Duster também prepara um novo modelo de entrada para o segmento de SUVs compactos, ampliando ainda mais seu portfólio.

E vem muito mais por aí, pois, apesar de terem preços mais elevados, os SUVs cativam os corações dos consumidores brasileiros. É difícil encontrar um que não queira um exemplar desse tipo na garagem de casa, mesmo que seja um modelo de entrada.

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