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Tragédia rodoviária: cai um Boeing no Brasil cada dois dias

Tudo joga contra: estradas pavorosas, má formação do condutor, falta da inspeção veicular e de seriedade nos 'crash tests'

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O Brasil é o terceiro país no mundo com o maior número de acidentes de trânsito
O Brasil é o terceiro país no mundo com o maior número de acidentes de trânsito Foto: Sala de Imprensa/CBMMG

Acidente aéreo em qualquer lugar do mundo é motivo de manchetes na imprensa. Mas, no Brasil, nem causa espanto a trágica rotina de 140 mortos diariamente em acidentes de trânsito. Como se fosse um Boeing caindo a cada dois dias. Aliás, o numero é ainda maior, pois nossas estatísticas só consideram os falecidos no local do acidente, e não contabilizam as dezenas de socorridos que morrem depois nos hospitais.

A triste verdade é que estamos entre os países que lideram o ranking mundial de vítimas do trânsito. E sem perspectivas concretas de redução deste morticínio rodoviário, a começar pelas próprias estradas, uma calamidade pública por falta de verbas e atenção da autoridades (ir)responsáveis. Mas as explicações não param por aí.

Culto da impunidade

Em primeiro lugar, a falha humana. O motorista é o grande responsável pela maior parte dos acidentes. Por irresponsabilidade, não observância da legislação e má formação como condutor. Não existe simulador na autoescola para treinamento na rodovia. O recém-habilitado passa por um período de observação, mas tem o direito de assumir o volante de uma poderosa Ferrari em seu primeiro dia ao volante.

O governo também joga contra: em 2018, dobrou o número de pontos (de 20 para 40) para se cassar a habilitação (CNH) do motorista. E a deputada federal Carla Zambelli ainda apresenta um projeto de lei para, novamente, dobrar o número de pontos (80) para se aplicar a punição. Na contramão das medidas de segurança. O culto à impunidade.

Acidente rodoviário nas proximidades de Lima Duarte com três vítimas fatais carro cinza escuro com a frente totalmente destruída na estrada asfaltada
Além da imprudência dos motoristas, a falta de manutenção nos veículos e as péssimas condições das estradas contribuem para o aumento de acidentes graves Foto: PRF/Divulgação

E a inspeção veicular?

Em segundo, as condições mecânicas dos automóveis. O Código de Trânsito estabeleceu a inspeção veicular para tirar de circulação os veículos sem condições mínimas de segurança, excesso de ruído e emissão de gases. Mas nenhum governo teve coragem de implantar este controle por ser medida impopular. E vão se avolumando nas ruas os carros caindo aos pedaços, colocando em risco a integridade dos outros veículos, seus ocupantes e prejudicando o fluxo nas vias públicas.

A única iniciativa do gênero foi da Prefeitura de São Paulo, que estabeleceu a ITV (Inspeção Técnica Veicular) durante alguns anos (a empresa era a Controlar), mas foi cancelada em 2014. Houve outra tentativa, também fracassada, no Rio de Janeiro.

LatinNCAP mais confunde que esclarece

Outro problema é da segurança veicular. A gravidade das lesões provocadas nos ocupantes de um veículo acidentado pode ser atenuada caso ele tenha sido projetado para protegê-los contra impactos. Até os planos de incentivo do governo para as fábricas de automóveis focam – entre outros – no estímulo ao desenvolvimento dos dispositivos de segurança ativos e passivos para essa proteção. Entretanto, não existem entidades independentes no Brasil para avaliar esta segurança nos modelos aqui comercializados.

E nem uma legislação objetiva do Contran para regulamentar estes testes, chamados de “crash tests”. Pior ainda é que uma entidade uruguaia (LatinNCAP), apesar de não reconhecida no Brasil e aplicando critérios mais que duvidosos, se arvorou no direito de executar estas avaliações nos modelos comercializados no nosso mercado.

E divulgam resultados sem questionamento e que nem sempre refletem o nível real de proteção do automóvel. E que, muitas vezes, mais confundem do que orientam o consumidor brasileiro.

“Estamos perdendo o jogo...”

Em vários países do Primeiro Mundo, estes problemas foram bem resolvidos: maior rigidez ao conceder a habilitação, na inspeção veicular e a confiabilidade das entidades encarregadas de avaliar a proteção aos ocupantes por meio de “crash tests”.

No Brasil, não faltam programas governamentais, de ONGs e outras entidades na tentativa de por um fim – ou pelo menos reduzir – esta carnificina rodoviária. Mas nenhum deles alcança seus objetivos. Davi Duarte, presidente do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito, diz que “não sai do papel o Programa Nacional de Redução de Mortes no Trânsito”. E acrescenta que “estamos perdendo o jogo na questão do trânsito”.

O Dr. Alysson Coimbra, médico especialista em tráfego, afirma que o poder legislativo também joga contra e que a maioria da população, a que não tem a CNH, deveria “se levantar contra ações de cunho político que ignoram os riscos e consequências para a coletividade”. Mas, as vozes que poderiam defender os cidadãos são os parlamentares. Muito mais preocupados em conquistar votos e cargos do que com a segurança veicular.

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