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Chegou a gasolina sintética da Porsche. Gota d’água no oceano

Brasil também tem o seu e-Fuel, muito mais barato e já disponível nos postos: o etanol...

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A gasolina sintética da Porsche é produzida no Chile desde 2022 é alternativa contra a poluição
A gasolina sintética da Porsche é produzida no Chile desde 2022 é alternativa contra a poluição Foto: Porsche/ divulgação

O início do fim dos motores a combustão tem data prevista pela legislação europeia: a partir de 2035 eles não poderão mais deixar as linhas de montagem. Mas, nestes próximos 10 anos, a indústria será capaz de uma completa reviravolta em seus métodos seculares de produção?

Pouco provável e, por isso, já tiveram início as “exceções”. A primeira foi o “e-Fuel”, ou combustível sintético, não derivado do petróleo. Um projeto já desenvolvido pela HIF, uma associação de empresas, Porsche entre elas, que investiu US$ 100 milhões numa usina para produzi-lo no Sul do Chile. O combustível é produzido a partir de energia renovável e dispensa recursos fósseis, capturando o CO² da atmosfera e agregando-o quimicamente ao hidrogênio (H²) para obter – inicialmente – o e-metanol e, então, transformá-lo em gasolina após vários processos químicos.

Bico da bomba de etanol na mão do frentista no posto de combustível
O etanol é uma das opções mais eficientes na busca pelo combustível limpo Foto: Arquivo EM

Não chega a ser uma novidade: na Segunda Guerra Mundial, os alemães também criaram solução semelhante, com uma “ligeira” diferença – era obtida a partir de um gás proveniente do ... carvão.

Este combustível complementaria as demais opções energéticas que se desenvolvem para manter em operação os atuais automóveis a combustão. A Porsche, especialmente, tranquiliza seus clientes com uma gasolina que os permitirá continuar rodando com suas relíquias de qualquer época.

A usina piloto da Porsche no Chile já iniciou sua produção em volumes menores, mas pretende atingir 550 milhões de litros anuais em 2027. A ideia da HIF é implantar outras duas usinas produzindo volumes semelhantes na Austrália e nos EUA, para substituir gradualmente a gasolina obtida do petróleo, num total teórico de 1,65 bilhões de litros por ano.

Mais mercadológico que real

Com o pequeno volume atual, a Porsche inicia sua utilização em competições como a Porsche Cup, estendendo-a depois para outras categorias. As pistas seriam, portanto, a primeira demonstração da viabilidade de se utilizar o e-Fuel em substituição à gasolina. Uma iniciativa meritória, porém, de resultados mais mercadológicos que reais, imaginando-se que a frota de automóveis no mundo supera o bilhão de unidades e consome na ordem de trilhões de litros anualmente. Ou seja, o e-Fuel terá volume irrisório ao lado da demanda dos motores a combustão.

Além disso, o custo para se obter o CO² é elevadíssimo, pois sua presença no ar é mínima. E a obtenção do hidrogênio por meio do processo catalítico também exige grandes investimentos.

Alguns jornalistas brasileiros foram convidados pela Porsche para conhecer seu combustível chileno e teceram loas ao que poderia ser “uma solução para os motores a combustão”. Seria de fato, não fosse um combustível caríssimo e de importância apenas institucional. A própria Porsche deu a entender que seu desenvolvimento é para “garantir a operação dos motores de seus clientes no futuro”.

Máquina agrícola vista de frente durante processo de colheita mecanizada de cana-de-açúcar, que servirá para a produção de etanol
Brasil é grande produtor de cana-de-açúcar, o que faz com que haja grande oferta de etanol combustível no mercado Foto: Eduardo Bocci/Divulgação

Solução para milionário

A rigor, será um solução exclusiva para tanques de Porsche, Ferrari, Lamborghini, Rolls Royce e outros esportivos e luxuosos. O preço do e-Fuel é pelo menos cinco vezes maior que o da gasolina e até poderá ser reduzido ao escalar a produção. Mas dificilmente competitivo e capaz de viabilizar o abastecimento de um Uno Mille ou Chevrolet Onix.

Não tem dúvida ser um passo importante para a redução das emissões e descarbonização do planeta, pois a gasolina sintética é obtida a partir do CO² presente na atmosfera.

Entretanto, o Brasil tem (por acaso...) outro combustível que também absorve o CO² da atmosfera por um processo bem mais simples e mais barato: a fotossíntese da cana de açúcar quando cresce no campo.

Se a gasolina da Porsche pode ser utilizada sem nenhuma modificação dos motores, nosso etanol exige apenas pequenas alterações do motor atual para se tornar um combustível tão limpo quanto.

Outros países não contam com a opção do etanol como alternativa energética por falta de condições geográficas e climáticas. E investem em outras soluções como os elétricos, a hidrogênio, gás, híbridos e outros.

Já passou da hora de o Brasil encarar o etanol com a seriedade que ele merece, a começar do incentivo aos automóveis que o tenham como único combustível.

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