Sérgio Rodrigo Reis - EM Cultura
A regionalização da TV brasileira, apesar de muito prometida, nunca ocorreu. Desde a década de 1950, as redes nacionais sempre privilegiaram atrações produzidas no eixo Rio-São Paulo. Exceção à regra surgiu no último fim de semana, com a exibição em rede nacional, pelo SBT/Alterosa, do Vrum, programa automobilístico realizado pela equipe da TV Alterosa em Minas Gerais. Em sua estréia, no domingo passado, às 8h, o Vrum trouxe crescimento de 80% à audiência do horário do SBT na Grande São Paulo. A audiência média, na casa dos 2,1%, saltou para 3,8% e conseguiu chegar a picos de 5,05%.
"Há muito preconceito das redes nacionais em relação aos produtos de outros estados. Sem dúvida, o Vrum está abrindo portas não só para nossos outros produtos, como para os de outras afiliadas", comemora Rodrigo Scoralick, gerente de produção e programação da TV Alterosa. Desde que entrou no ar em Minas, a atração (anteriomente exibida no estado como Auto papo) virou uma espécie de referência no setor. "Ele sempre foi considerado o melhor programa do gênero, pela abordagem jornalística e pelo tratamento popular dado ao assunto", lembra Scoralick.
No dia-a-dia, os produtores percebiam o interesse do telespectador. "Havia falta de programas como esse. Quem entende de automóveis como eu e o Boris é exceção. Por outro lado, o tema é apaixonante", afirma o jornalista especializado Emílio Camanzi, responsável pelo conteúdo e comando da atração, ao lado do jornalista Boris Feldman e da apresentadora Mônica Veloso. "A boa repercussão se deve ao fato de mostramos as virtudes e os defeitos dos veículos. Fazemos testes de todos os nacionais. São carros que circulam aí pelas ruas, mas também não vamos deixar de lado os sonhos", diz. Na próxima semana, por exemplo, o Vrum vai contar tudo sobre o Plantom, Rolls-Royce vendido no mercado brasileiro por R$ 2 milhões.
"Acabei de chegar do salão de automóveis de Genebra, na Suíça, e vamos falar das novidades de lá", adianta Camanzi. Para ele, a boa repercussão da estréia abre espaço importante. "Temos condições de mostrar muito mais. Assim como o Vrum, há outras atrações locais, como o Feminina, que poderiam perfeitamente ser exibidas em todo o Brasil", sugere.
Não só a resistência das redes nacionais às atrações produzidas fora do eixo Rio-São Paulo impede a veiculação de programas com temáticas, abordagens e perspectivas diversificadas. A engrenagem por trás de uma operação como essa passa por aspectos mercadológicos. "Para se ter vida longa na televisão, é preciso equacionar audiência e público. Necessariamente nessa ordem", explica Boris Feldman. Atualmente, são exibidas no país cerca de 30 atrações voltadas para o automobilismo e, na opinião do jornalista, o sonho da maioria é se tornar nacional. Nem todos estão credenciados. "É preciso oferecer produto de alto nível e esquema comercial montado. Senão, fica difícil. A grande concentração de anunciantes está em São Paulo, é caríssimo realizar produções como o Vrum", pondera.
A jornalista Mônica Veloso, que há 10 anos se dedica a produções independentes de TV, sabe bem o que significa a abertura do SBT ao conteúdo gerado pela Alterosa. "É muito difícil emplacar algo parecido. O pioneirismo é total. Com produtos de qualidade e demanda do mercado, a possibilidade de isso voltar a ocorrer é grande", avisa. "Nunca se venderam tantos carros no país", lembra Mônica. Feliz com a repercussão do programa, ela recebeu pessoalmente do "patrão" Silvio Santos os parabéns pela estréia, ao participar do quadro Qual é a música. Na disputa, que irá ao ar nos próximos dias, houve empate. O mesmo não ocorreu em relação à audiência do Vrum, que ampliou a audiência do SBT. "O Silvio disse que estreamos bem e conseguimos dobrar a audiência do horário", afirma a jornalista.
A possibilidade de ampliar o alcance da produção da TV mineira para o mercado nacional foi comemorada. "Em um evento do setor automobilístico, todos brindaram quando o Boris Feldman deu a notícia. Isso comprova o sucesso do projeto", comenta Renato Neves, diretor da AIM Comunicação. De acordo com o especialista, a boa repercussão é antiga, começou no rádio. "Isso se deu até mesmo com o público feminino, porque sempre se falou de forma fácil de entender. Depois, o programa de rádio passou a ser veiculado fora de Minas. Ao migrar para a televisão, repetiu o êxito". Para Renato, o que garante a acolhida à idéia é a credibilidade dos comentários de Boris Feldman, que, além de atuar no rádio e na TV, edita o caderno Veículos do Estado de Minas.
"Há muito preconceito das redes nacionais em relação aos produtos de outros estados. Sem dúvida, o Vrum está abrindo portas" - Rodrigo Scoralick, gerente de programação da TV Alterosa.
"É muito difícil emplacar algo parecido. O pioneirismo é total" - Mônica Veloso, jornalista.