Ao lançar o Fusca 1600-S, em 1974, no Brasil, a Volkswagen tascou no carro de 56cv líquidos o apelido de Bizorrão, uma brincadeira com o popular besourão. Uma alcunha que serviria como uma luva para a criação do austríaco Sigfried Rudolf, preparador que extrapolou a velha cartilha de se colocar no pequeno VW a mecânica de um Porsche. Não se trata apenas de um transplante cardíaco. Dono da restauradora CarMaxx, especializada em reformar antigos Fuscas e Porsches, Rudolf teve a ideia quando estacionou o seu belo VW Sedan 1973 ao lado do Boxster S 2000 da esposa. Foi nessa hora que o mecânico notou a similaridade dos carros na distância entre-eixos. Mesmo com comprimentos bem diferentes, 4,02 metros no Fusquinha e 4,31 m no roadster, as distâncias entre-eixos são bem próximas, com 2,40m no VW e 2,41m no modelo de Stuttgart. Foi o que bastou para acender uma centelha na mente e no maçarico de Rudolf.
Clique aqui e veja mais fotos!
Depois de muitas horas de trabalho, com fita métrica, solda e serras, o preparador criou um plebeu de alma nobre. O carro foi batizado como Bugster, uma corruptela das palavras Bug (inseto, um dos apelidos do VW em países anglo-saxões) e Boxster. Por fora, parece o mesmo VW de sempre. Até um pouco diferente dos produzidos no Brasil em detalhes, como o para-brisa maior, suspensão evoluída e a frente espichada, que passaram longe daqui. Mas há pistas em toda parte. A começar pelos para-lamas ultra-largos, estendidos para acomodar o belo jogo de rodas BBS aro 18, outro forte indício. Complementam o jogo de erros as entradas de ar laterais, cuja moldura veio justamente do Boxster.
ALMA
Se por fora as coisas ainda são parecidas com o original, por baixo da casca tudo é diferente. A começar pela arquitetura vinda do Porsche. O que inclui o motor de seis cilindros boxer 3.2, capaz de gerar 270cv de potência, administrados pelo preciso câmbio manual de seis marchas da marca. Embora a CarMaxx ainda não tenha divulgado dados de desempenho, não é arriscado apostar que esse “Bizorrão” voa. Até os 100km/h, não devem se passar mais de sete segundos, enquanto a velocidade máxima pode ir bem além dos 200 km/h. Os freios são a disco ventilados, com pinças vermelhas. As suspensões tem o mesmo esquema dianteiro dos últimos Fuscas alemães, McPherson, só que aprimorado pela Porsche.
O interior guarda peças de ambos. O quadro de instrumentos, com o conta-giros central em destaque, vem do Boxster, que também empresta peças como alavancas de câmbio e de freio de mão e define o formato do painel revestido em couro. O painel só não é o mesmo por uma questão de largura. Os bancos dianteiros são do tipo concha, de competição. Já os traseiros, se foram, junto com o chiqueirinho — espaço para bagagens entre o banco e o motor. No lugar, fica o motor na posição central/traseira. Ou seja, nem adianta abrir a tampa traseira esperando vislumbrar o motor, que só aparece timidamente. O calor vindo do seis cilindros deve ser amenizado pelo ar-condicionado. Já os painéis de porta são os mesmos do Fusca, para deixar mais claro. O que diria o velho Ferdinand Porsche diante desse cruzamento de duas espécies tão diferentes, unidas apenas pelo seu nome?