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Viagens - Cinco mulheres, cinco volantes

Livro Mulheres sobre rodas reúne histórias de jornalistas de turismo que, depois de alguns anos nas estradas e muitos quilômetros rodados, têm o que contar sobre o Brasil

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Publicação revela experiências vividas pelas repórteres Karina Greco, Sonia Xavier, Alexandra Gonsalez, Cristina Capuano e Beatriz Santomauro de carro pelo país

Elas escolheram o jornalismo como profissão. Cinco repórteres de turismo viajam sozinhas com a missão de avaliar lugares, hotéis e dar boas dicas aos apaixonados por viagens. O resultado dessas pesquisas está no livro Mulheres sobre rodas, escrito por Alexandra Gonsalez, Beatriz Santomauro, Cristina Capuano, Karina Greco e Sonia Xavier. A obra, publicada pela Geração Editorial, é dividida em capítulos temáticos e cada um deles apresenta um pouco da cultura brasileira. Foram sete anos de estrada e 87 mil quilômetros percorridos em mais de 25 viagens pelo Brasil. O livro chegou às livrarias no mês em que é comemorado o Dia Internacional das Mulheres, por R$ 34.

Nuvem
A jornalista Cristina Capuano dirigiu em algumas das suas viagens um Fusquinha 1970, apelidado carinhosamente de Nuvem, pela cor azul. Mas nem sempre o Fusca pega a estrada para valer. Em 2007, ela se mudou para Salvador e o automóvel foi transportado de cegonha. Afinal, como Cristina diz, ele é "um senhor de 38 anos e merece respeito". De volta da cidade baiana, em novembro, trouxe o Fusca, que novamente veio de carona, com a mudança. O Fusca é o único carro da jornalista, que já pensou em vendê-lo depois de alguns transtornos. Mas a relação entre os dois é um caso de amor e logo ela desiste da idéia.

Quando não tinha a companhia do Fusca nas viagens, Cristina guiava sempre algum carro 1.0 alugado. Atualmente, trabalhando como editora da revista Viagem e Turismo, da Editora Abril, não precisa mais se preocupar com companhia, uma vez que viaja sempre com um fotógrafo. Mas na lembrança dela não há só bons momentos. Ela conta que, certa vez, num lugar chamado Polígono da Maconha, em Pernambuco, foi perseguida por um desconhecido. Além desse importuno, já deu perda total num carro alugado, numa estrada pantaneira. Como não tinha ninguém para socorrê-la, Cristina teve que sair pela janela. "Saí sem um arranhão, por sorte", diz.


Estepe ecológico
A jornalista Sônia Xavier, que trabalha na área de turismo desde 1996, também teve seus apertos nas estradas. Em janeiro de 2003, ela fez uma viagem que começou em Brasília, passando por Goiás, Tocantins, Maranhão, atravessando de leste a oeste, e depois subiu em direção a Teresina, no Piauí. Nesse percurso, as estradas eram perigosas e precárias. Na volta, saindo de São Raimunto Nonato (PI), ela se deparou com a pior estrada da sua vida. "Encontrei tantos buracos pela frente que um pneu furou. Não havia ninguém na estrada, achei engraçado trocar pneu e parti para a lida. Suei para tirar os parafusos, mas fiz tudo direitinho e logo estava de volta à estrada", conta a jornalista. Porém, Sônia não contava com outro imprevisto. Depois de rodar por cinco quilômetros, o segundo pneu furou.

Ela então dirigiu por mais um quilômetro e encontrou um caminhoneiro, que estava com seu caminhão quebrado. Como ele estava com a família, a jornalista parou e pediu auxílio. Das 9h às 16h, ninguém parou para ajudar. Até que apareceu um taxista e veio direto com a solução. Para sair daqui, só colocando capim no pneu. Nem ela nem o caminhoneiro jamais ouviram algo semelhante, mas resolveram arriscar. "Enquanto o caminhoneiro separava parte do pneu da roda, eu fui cortar capim. Preenchemos todo o vão e, com meu 'pneu ecológico", pude continuar a viagem até uma vila" relata Sônia. Da vila, ela pegou carona até a cidade mais próxima e arrumou o único pneu possível, para terminar a viagem, que mesmo com todos os problemas considera a melhor de sua vida.

Na estrada
No tópico Sobrevivência na estrada, a jornalista Alexandra Gonsalez relata a dificuldade enfrentada numa viagem no verão de 2000. Na busca por estradas nos mapas e com a intenção de descobrir novos caminhos, ela passou por maus bocados numa viagem entre Barretos e Ribeirão Preto. Numa estrada cercada por infindáveis plantações de cana-de-açúcar, ela foi surpreendida por uma chuva torrencial. Para piorar a situação, o carro dela era ultrapassado por caminhões carregados de cana, que a empurravam para o lado numa estrada em que acostamento, nas palavras dela, eram 'ficção', pois estavam cobertos por mato. E o pesadelo ainda estava por vir: em meio a chuva e caminhões, o pneu furou. Sem nunca ter trocado um pneu, viu-se obrigada a colocar a mão na massa e conseguir chegar a seu destino. Sua única reclamação foi a falta de solidariedade dos caminhoneiros, que a deixaram na mão.

Companhia
Já a jornalista Beatriz Santomauro diz no tópico Desesperar? Jamais como é bom rodar pelas estradas boas de São Paulo. Para ela, o complicado é seguir pelas rodovias esburacadas, pelos caminhos de terra, sem nada à vista. Beatriz diz que, quando tudo saía como o planejado, se sentia a "rainha da cocada". Já nas andanças por estradas de terra, sem ninguém por perto, o melhor amigo acaba se tornando o retrovisor, refletindo a imagem do condutor.