Assim como o Brasil e seus vizinhos da América Latina, os países do sudeste da Ásia, com o mercado automotivo em ascensão, estão no alvo das grandes montadoras de automóveis. Para lá – exatamente como para cá – começam a ser destinados projetos de veículos voltados para países emergentes, além obviamente de haver produção de alguns modelos considerados globais. A semelhança entre nossos mercados é significativa e muitos modelos produzidos por aqui também são fabricados lá. Este ano, a região acaba de ganhar a publicação do primeiro resultado de testes de impacto (crash-tests) feitos com base em um dos mais importantes programas de avaliação do mundo, o New Car Assessment Program (NCAP) ou programa de avaliação de carros novos, cuja extensão mais conhecida é a da Europa, o Euro NCAP. No Sudeste asiático (que engloba Tailândia, Filipinas, Malásia, Cingapura e Indonésia), o programa obteve o nome de Asean NCAP, em referência à Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). O resultado, publicado em janeiro, traz a avaliação de sete modelos, três deles também comercializados no Brasil e já testados pelo Latin NCAP, extensão do programa que este ano passará pela quarta bateria de testes e que, como o nome indica, avalia os modelos comercializados na América Latina.
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Crash tests
Os testes feitos pelos Latin e Asean NCAP são realizados pelo Euro NCAP. O impacto frontal, que pega 40% da barreira deformável, é realizado a 64km/h e são avaliados os efeitos nos dummies (bonecos), tendo-se em vista os perigos x proteção para cabeça, peito, joelhos, pernas e pés. Também são usados modificadores para simular pessoas de tamanhos diferentes e em posições diferentes. Para a avaliação de proteção em crianças é usado um boneco que simula um bebê de 18 meses dentro do bebê-conforto voltado para trás e outro que simula uma criança de 3 anos já na cadeirinha virada para frente. Obviamente, no banco de trás. Os testes do Euro NCAP, no entanto, são mais sofisticados, avaliando também impacto lateral, sobre o pescoço (o chamado efeito chicote) e sobre pedestres. A partir de 2009, inclusive, foram mudados alguns critérios de classificação (razão pela qual os resultados do March/Micra são dados de maneira diferente dos do Fiesta). Vale ressaltar, ainda, que quase sempre os testes equivalentes não foram realizados no mesmo ano porque nem sempre o carro é lançado simultaneamente em todos os países. Pelo contrário, normalmente chega primeiro aos países de primeiro mundo. Razão pela qual as avaliações do Euro NCAP são anteriores às demais.
Todos os testes podem ser acessados nos sites: www.aseancap.org/?pg=result, latinncap.com/po/ e www.euroncap.com/home.aspx.
A globalização facilitou a disseminação das diversas plataformas de veículos que possibilitam a produção de um mesmo modelo em vários países do mundo. Isso, no entanto, não significa que o modelo tenha características estruturais idênticas nem tampouco os mesmos equipamentos de segurança. Veja as diferenças encontradas pelo New Car Assessment Program (NCAP) ou programa de avaliação de carros novos nos testes feitos na Europa (Euro NCAP), sudeste asiático (Asean NCAP) e América Latina (Latin NCAP).
Nissan March/Micra O modelo testado pelo Asean NCAP em novembro de 2012, 1.2 litro a gasolina, é produzido na fábrica da Tailândia. Já começou o teste sendo elegível em no máximo 4 estrelas (num total de 5) por não ter o controle eletrônico de estabilidade (ESC), pré-requisito do Asean NCAP. Além disso, tinha aviso para uso do cinto de segurança (seatbelt reminder) apenas para o motorista. Outro pré-requisito para os testes no Sudeste asiático. Mesmo assim, obteve as 4 estrelas no que tange à proteção para adultos. Mas se saiu mal na proteção infantil, obtendo índice de apenas 48% de aprovação. A pontuação geral foi de 11,66 em 16 possíveis. A unidade testada pesava 940kg e tinha apenas um airbag (motorista).
O Latin NCAP testou a versão 1.0 flex produzida no México (de onde vem o modelo vendido no Brasil) e o teste foi publicado em novembro de 2011 em modelo bem mais pesado: 1.175kg. Apesar de ter dois airbags, o resultado para adultos foi muito inferior, com a obtenção de apenas 2 estrelas. Segundo a publicação, foi observada uma fraca proteção para as pernas do motorista, além da existência de estruturas perigosas na parte baixa do painel, com risco para os joelhos dos ocupantes da frente. Pior para as crianças, cujo teste mereceu uma única estrela.
O modelo, comercializado na Europa com o nome de Micra, também teve teste publicado pelo Euro NCAP em 2010, com motor 1.2, peso de 945kg e seis airbags. Obteve 4 estrelas no total, merecendo índice de 84% de proteção para adultos; 79% para crianças; 58% para pedestres; e 57% em relação aos equipamentos de assistência de segurança (safety assist).
No que diz respeito ao teste para crianças, é importante lembrar que nos modelos avaliados pelo Asean NCAP e Latin NCAP os equipamentos de retenção para crianças (cadeirinhas e bebê-conforto) foram presos com o cinto de segurança, enquanto na Europa foi usado o sistema Isofix, que é muito mais seguro.
Honda City O modelo fabricado na Malásia foi muito bem avaliado pelo Asean NCAP em 2012, com 15,44 pontos em 16, obtendo 5 estrelas para adultos e 81% de proteção para crianças. Estava equipado com dois airbags (além do ESC e seatbelt reminder para motorista e passageiro da frente) e pesava 1.142kg, com motor 1.5 a gasolina. Já o modelo testado pelo Latin NCAP, válido para toda a América do Sul, exceto o Chile, cujo teste foi publicado em junho de 2012, obteve 4 estrelas para adultos, também revelando fragilidade na proteção para os joelhos, e 4 estrelas para crianças. Também tinha airbag duplo e o peso era de 1.380kg. Em ambos os testes, a fixação dos dispositivos de retenção para crianças foi com Isofix. O City é denominado Fit Aria no mercado europeu, mas não há teste disponibilizado pelo Euro NCAP.
New Fiesta Sedan/hatch Com 15,73 pontos (em 16), recebendo 5 estrelas para adultos e índice de 66% de proteção para crianças, também passou no crivo dos asiáticos. Porém, foi testado o modelo sedã 1.6 a gasolina automático (1.147kg) produzido na Tailândia, o que invalida uma comparação direta com os testes feitos pelo Latin e Euro NCAP, que jogaram na parede o New Fiesta hatch. Mas vale a observação. Além dos equipamentos de segurança considerados pré-requisitos pelo Asean NCAP, a unidade testada tinha sete airbags.
Por aqui, o modelo avaliado (publicação em junho de 2012) – na carroceria hatch – tinha dois airbags e pesava 1.399kg. Obteve 4 estrelas tanto na classificação para adultos quanto para crianças (fixação por Isofix). Além da notada fragilidade na proteção para os joelhos, outro problema foi que a cabeça do motorista tocou o fundo do airbag. A proteção para crianças foi adequada, mas foram constatadas falhas com relação às advertências sobre o uso das cadeirinhas.
O modelo produzido no México, que era comercializado no Brasil até o fim do ano passado (ainda este semestre começa a produção do novo Fiesta no Brasil), corresponde à geração cujo teste foi publicado na Europa (NCAP) em 2008 (Fiesta hatch 1.25 gasolina com peso de 1.063kg e sete airbags) também com resultado superior ao encontrado pelo Latin NCAP. Na época, o compacto da Ford obteve 5 estrelas para adultos, 4 para crianças e 3 para pedestres. Ao contrário do que ocorreu com o modelo latino, foi verificada boa proteção para os joelhos e fêmur tanto do motorista quanto do passageiro. No caso das crianças, o problema estava nas instruções de uso.
Nissan, Honda e Ford foram consultadas para comentar os testes, mas não responderam até o fechamento desta edição.