O coro de proprietários da Mitsubish L200 Triton é uníssono. Muitos têm se manifestado (por e-mail, sites de relacionamento, fóruns e comentários de notícias) sobre um problema típico desse modelo: geralmente o vício se manifesta na estrada, quando a velocidade é maior e o condutor eleva as rotações do motor, quando de repente a luz da injeção eletrônica se acende e o veículo perde potência e velocidade, não conseguindo mais passar dos 60 km/h. São tantos os casos que foi formada uma corrente em que um insatisfeito passa o contato de outro descontente.
Quando o veículo chega à concessionária, é certo que o filtro de combustível será trocado. Acontece que isso não resolve a questão. Para o gestor de custos Leonardo Silva Prado, o problema já é rotina. Ele precisou trocar o filtro de sua L200 sete vezes. A picape do advogado Alexandre Martins, de Barra Mansa (RJ), também teve o componente trocado quatro vezes. "Levei o veículo à concessionária Yen, no Rio de Janeiro, onde inicialmente eles atribuíram as falhas à qualidade do diesel que eu estava usando. Tenho dois amigos que foram lá e ouviram a mesma ladainha", conta Alexandre. O engenheiro Rafael Monteiro é outro que precisou trocar o filtro de seu veículo sem ter o defeito solucionado.
PERIGO
Apesar de não se tratar propriamente de um problema de segurança, que deve ser sanado obrigatoriamente por recall, alguns motoristas passaram por maus bocados devido à pane. O veículo de Alexandre Martins apresentou os sintomas quando ele e a família trafegavam pela Linha Amarela, via expressa movimentada e violenta do Rio de Janeiro. Já a L200 do promotor de Justiça Heleno Portes falhou no meio de uma ultrapassagem na BR-381. Ele abortou a manobra e o motor se desligou. Leonardo Silva Prado passou pelo mesmo problema, sua picape perdeu potência durante uma ultrapassagem e o obrigou a frear e entrar rapidamente atrás de um caminhão. 'Isso sem contar o aborrecimento que é ficar sem carro, porque esse tipo de conserto demora quase uma semana', desabafa Alexandre.
UMA LUZ
O defeito incomoda os donos da L200 Triton já há alguns anos, mas recentemente, de tanto conviver com as trocas de filtro, alguns proprietários ficaram tão íntimos das oficinas que acabaram descobrindo o defeito. Numa conversa com um consultor técnico e o chefe de oficina da Mit Car, Rafael Monteiro ficou sabendo que o tanque do modelo tem uma película que se solta e entope o filtro. Outros clientes também tomaram conhecimento da real causa do defeito em outras concessionárias: Leonardo Silva Prado conta que ouviu a mesma explicação, dada pelo gerente da Via Jap, e Alexandre Martins também escutou essa justificativa do chefe de oficina da concessionária Yen.
CONFIRMAÇÃO
Com um cliente que tem uma L200 Triton apresentando os problemas clássicos, a reportagem entrou em contato com um funcionário da oficina da Via Jap. O atendente foi honesto, explicando que de fato existem lotes de tanques problemáticos. De acordo com ele, a composição do diesel brasileiro remove o tratamento químico que reveste o tanque, o que ocasionaria todo esse problema.
Mas, ainda segundo o funcionário da Via Jap, várias L200 Triton equipadas com o modelo de tanque não defeituoso também chegam à concessionária com problemas no filtro de combustível. Isso dá aval a outra suspeita de alguns clientes, que afirmam que esse filtro não funciona direito. Foi a explicação que Heleno Portes ouviu na Mit Car quando sua L200 apresentou o problema com menos de mil quilômetros rodados. "Disseram que o filtro era muito fino para o diesel usado no Brasil. E quando o veículo voltou a apresentar o defeito, com 15 mil quilômetros, a concessionária recomendou o uso de um aditivo que daria mais fluidez ao combustível", conta o promotor de Justiça. Aos 25 mil quilômetros, durante uma revisão, o filtro da picape foi trocado novamente por um que, em tese, daria solução ao problema. Alexandre Martins conta que foi recomendado na Yen a usar o filtro da L200 Outdoor, que seria maior e funciona por mais tempo sem entupir.
MITSUBISHI
Até o fechamento desta edição a Mitsubishi não respondeu se existe uma determinação para as concessionárias trocarem os tanques inadequados ao combustível brasileiro.