A Toyota anunciou que vai recorrer da decisão do Procon Estadual que impede a comercialização e o emplacamento do sedã Corolla em Minas Gerais. A proibição da venda começou a vigorar ontem e, segundo a decisão do promotor de Defesa do Consumidor Amauri Artimos da Matta, deve valer até que as falhas no sistema de fixação do tapete sejam corrigidas pela empresa. A montadora deverá ainda substituir os componentes que já estão no mercado e informar com clareza os riscos do produto, sujeito a agarrar no pedal do acelerador e provocar a aceleração espontânea. A filial brasileira da Toyota, no entanto, não está disposta a resolver o problema, pois, apesar de admitir a falha, durante audiência na Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia Legislativa de Minas Gerais no início deste mês, preferiu recorrer para tentar voltar a vender o carro, que, segundo a análise do promotor coloca a vida do consumidor em risco.
Risco a que a assistente social Noêmia Christine Resende, grávida de nove meses, foi submetida no dia nove deste mês (dois dias depois da audiência na ALMG) e escapou ilesa por sorte. "Avistei uma vaga, no sentido 45 graus, reduzi a velocidade e comecei a fazer a manobra de estacionamento, desacelerando o veículo. No momento em que acertei a direção e pisei nos freios, eles não responderam ao comando e o veículo acelerou bruscamente, fazendo barulho de alta rotação, causando a colisão frontal com o muro do supermercado", relata Noêmia.
A previsão é de que a filha de Noêmia nasça até o fim deste mês e, diante disso, ela acredita que teve muita sorte: "Não sofri nada, só o susto, mas fico imaginando se o defeito acontecesse em uma via de grande movimento ou até mesmo na rodovia? Poderia ter causado uma tragédia". Outro agravante destacado por ela é que no momento passava um pedestre em frente e, por muito pouco, não o acertou. O carro saiu rebocado do local da batida e foi para concessionária Toyota Green, onde está até hoje. Noêmia diz que a informação inicial foi de que o tapete dela não tinha as presilhas e que isso poderia ter provocado o acidente, mas que ainda será feita uma avaliação mecânica. A Toyota foi contatada sobre o caso e informou, via assessoria de imprensa, que aguarda análise.
No ano passado a NHTSA, órgão de segurança para o trânsito nos Estados Unidos, determinou a retirada do tapete e depois o recall do componente, mas os acidentes continuaram a ocorrer. Foi determinado um recall do pedal do acelerador. Até ser encontrada a solução, a produção de oito modelos da marca chegou a ser interrompida. O pedal problemático é da fabricante canadense CTS. No Brasil, o pedal do acelerador é da fabricante japonesa Denso. Mesmo depois de substituir o pedal, os carros voltaram a apresentar problema de aceleração espontânea. Sem saber a razão, a NHTSA solicitou a ajuda da Nasa, a agência aeroespacial dos Estados Unidos, para tentar encontrar a razão das falhas. A NHTSA também multou a Toyota em US$ 16,3 milhões por demorar a tomar uma atitude, mesmo tendo conhecimento antecipado de acidentes.
A Toyota informa no manual sobre os riscos do tapete e os problemas de fixação, mas somente em outubro do ano passado passou a costurar uma etiqueta no tapete com a orientação. Em consulta, as revendas Kawaii e Green ambas informaram que não podiam vender o Corolla ontem e pediam o nome dos clientes para retornarem os contatos depois. Se alguma das 12 concessionárias do estado vender algum Corolla durante a proibição será aberto um processo administrativo, que pode acarretar uma multa que vai de R$ 300 a R$ 3 milhões.
Em nota, a Toyota voltou a afirmar que os problemas dos carros brasileiros não têm relação com a série de recalls no exterior. Também garantiu a segurança dos tapetes genuínos que equipam seus carros. Informou, que ?respeita, mas não concorda com a decisão de suspender as vendas do Corolla no estado de Minas Gerais e que tomará as medidas necessárias que preservem seus direitos?.
ENTENDA O CASO
NO RESTO DO MUNDO
>> Nos EUA aconteceram acidentes, inclusive vários com mortes, devido à aceleração involuntária.
>> Primeiramente, a Toyota afirmou que o problema era o tapete, que prendia o pedal do acelerador e fez o recall do tapete.
>> Depois, fez um recall alegando que o problema também poderia ser motivado por falha no acelerador.
>> As vendas de oito modelos chegaram a ser suspensas até ser encontrada uma solução.
>> O recall se estendeu para a Europa e China.
>> Outro problema, dessa vez no freio, atingiu os modelos híbridos da marca, também gerando um recall.
>> James Lentz, diretor de operações da Toyota nos EUA, admite que os recalls do pedal do acelerador não foram suficientes e que o problema pode ter origem eletrônica.
>> NHTSA (a Agência de Segurança nas Estradas dos EUA) informa que dezenas de carros que passaram pelo recall voltaram a apresentar problemas.
>> NHTSA solicita ajuda da Nasa para tentar resolver o problema.
>> NHTSA aplica multa de US$ 16,4 milhões pela demora em assumir o defeito.
NO BRASIL
>> A Toyota do Brasil nega a possibilidade de aceleração involuntária.
>> A empresa argumenta que o pedal utilizado aqui (Denso) é diferente dos problemáticos (CTS).
>> Atribui o problema em cinco dos 11 casos noticiados pelo Estado Minas a falhas de fixação no tapete.
>> Nos outros seis casos, não explicou a origem do problema, sendo que um desses o carro teve perda total.
>> A Toyota também não convocou um recall para o tapete que apresenta falhas de fixação, apesar de reconhecer o problema com os consumidores.
CASOS NO BRASIL
1 ? Maria do Carmo Barros de Melo, de Belo Horizonte
>> Situação: Carro desceu disparado e entrou na Avenida do Contorno em alta velocidade. Conseguiu parar colocando o câmbio na posição N e desligando na chave.
>> Posição da Toyota: Tapete mal fixado.
2 ? Niarley de Pinho Tavares, de Sabinopólis (MG)
>> Situação: Carro disparou na estrada, usou muita força para pisar no freio, mas só parou colocando na posição N.
>> Posição da Toyota: Tapete mal fixado.
3- João Sena, de Belo Horizonte
>> Situação: Carro já disparou duas vezes com ele.
>> Posição da Toyota: Tapete mal fixado.
4- Daniela Moreira Lima, de Natal (RN)
>> Situação: Carro disparou e subiu em cima do canteiro central de uma avenida.
>> Posição da Toyota: O tapete não era original e por isso provocou o problema.
5 ? Patrícia Correa, de Belo Horizonte
>> Situação: Carro disparou na entrada da garagem, bateu na pilastra, os airbags dispararam e teve perda total.
>> Posição da Toyota: Não avaliou o carro
6 ? Joseli Lannes, do Rio de Janeiro
>> Situação: Carro disparou duas vezes, sendo que na segunda a consumidora já havia retirado o tapete.
>> Posição da Toyota: Nenhuma.
7 ? Manuel Costa, de Camaçari (BA)
>> Situação: Carro disparou duas vezes.
>> Posição da Toyota: Tapete mal fixado.
8 ? André Valente, de Cuiabá (Mt)
>> Situação: Carro disparou duas vezes.
>> Posição da Toyota: Não avaliou o carro.
9 ? Marlene Lochs, de Porto Alegre
>> Situação: Disparou duas vezes
>> Posição da Toyota: Não se manifestou
10 ? Renata Kirkwood, de Belo Horizonte
>> Situação: Disparou duas vezes
>> Posição da Toyota: Analisou o carro e não encontrou nenhum defeito.