De Brasília - Sabe aquela impressão de que o Brasil está ficando para trás quando o assunto é carro híbrido ou elétrico? A mais do que justificada noção pode estar para ser mudada. Foi o que ficou claro durante o TEC-VE, maior seminário sobre veículos elétricos já feito no país, realizado entre nos dias 21 e 22, em Brasília. Com a perda de parte do peso político do etanol diante da crise da entressafra, o governo retomou os planos de incentivos a elétricos e híbridos, que seria divulgado em maio de 2010. "Precisamos ter um programa brasileiro de eletromobilidade, uma estratégia para introduzir o Brasil nesse novo cenário de maneira competitiva", conclama o secretário- executivo adjunto do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ricardo Schaefer.
A ação será parte da nova política industrial do governo federal, a ser apresentada, de acordo com Schaefer, na segunda quinzena de julho. Como antes, resta saber quais serão os incentivos. "A nova política preconiza esse incremento de tecnologia. Estamos pensando em inserir critérios de emissões de CO² (um dos gases responsáveis pelo efeito estufa), além de exigências de desenvolvimento nacional", adianta o secretário.
PROPOSTAS A indústria também levou propostas, entre elas o exemplo da presidente argentina Cristina Kirchner, que anunciou desconto no imposto de importação para elétricos. "Na Argentina foi criada uma cota de importação de até 300 carros/ano, que pagarão apenas 2% de imposto de importação e nada de IPVA. Hermanos um, Brazil zero", ironizou o diretor de Relações Institucionais da Renault do Brasil e vice-presidente da Anfavea, Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, Antônio Calcagnotto. Porém, descontos na tarifa de importação foram rechaçados por representantes do governo. "Isso só beneficiaria os importados. Do ponto de vista ambiental, faz sentido, só que não pelo lado do desenvolvimento nacional", lembra o secretário-executivo adjunto do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Nelson Barbosa Filho.
Atualmente, os híbridos pagam IPI de acordo com a cilindrada do motor a combustão. O Ford Fusion Hybrid, por exemplo, tem motor 2.5 e, por isso, paga 25%, a alíquota máxima. Na falta de uma política definida em relação aos elétricos, os carros do tipo pagam a mesma alíquota. Atualmente, o incentivo público se resume a isenção de IPVA para elétricos em sete estados: Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Sergipe. Outros estados, como Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, estabeleceram descontos no IPVA. “O consumidor tem que ser motivado, senão fica difícil ver vantagens na ponta do lápis”, defende o presidente da Ford Brasil e Mercosul Marcos Oliveira.
Uma solução capaz de agradar tanto aos defensores do etanol quanto aos que preferem a eletrificação é a combinação de um motor flex a outro híbrido, receita tupiniquim que já começa a ser aplicada em protótipo de ônibus urbano feito pela MAN. Porém, ainda longe de uma unanimidade, cada marca tenta vender o seu peixe. “Não se sabe se o híbrido flex seria um sonho ou pesadelo. São três tecnologias em um só carro. Imagine o custo”, desdenhou Calcagnotto, da Renault, que concentra as suas apostas nos elétricos.
BARATEAMENTO O diretor de Engenharia da Mitsubishi do Brasil, Reinaldo Muratori, apresentou o cálculo de barateamento. Segundo o executivo, se a alíquota do IPI para elétricos fosse reduzida de 25% para 7%, tal como os populares, o preço já cairia para 84% do praticado atualmente. Se o imposto de importação passasse de 35% para apenas 5%, o preço ficaria em 75% do atual. No caso do i-Miev, cujo custo é estimado em R$ 200 mil, o patamar poderia baixar também por conta da redução de custo de produção, projetada entre 25% e 30%. "Com tudo isso, conseguiríamos vendê-lo aqui por 50% a menos, cerca de R$ 100 mil. Não seria barato, mas já é um belo desconto", aposta Muratori, que lembra outra vantagem: o custo de manutenção de 10% a 15% mais em conta. Comparado a um Volkswagen Gol 1.0 pelas ruas de São Paulo, chegou-se a conclusão que o microcarro gasta 0,03 centavos para rodar um quilômetro, enquanto o VW rodando com gasolina marcou 0,22 centavos. Um barato que ainda sai caro.
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