Há momentos em que fica difícil entender o descompromisso de determinados cidadãos com os princípios básicos da boa convivência. É como se tivessem um lapso de memória e esquecessem que estão vivendo em sociedade, ignorando solenemente o direito do próximo. São atitudes que irritam e geram sentimento de revolta, mas que infelizmente, no Brasil já são vistas como coisa normal. É o malfadado jeitinho brasileiro! Mas se você é uma pessoa com os nervos à flor da pele, cansado de tanta sacanagem, pode ficar irado e chegar ao extremo, como o personagem William Foster, vivido por Michael Douglas no filme Um dia de fúria
(EUA - 1993).
NO LIMITE
Na ficção, o homem desempregado fica completamente descontrolado durante um congestionamento em Los Angeles e resolve combater com as próprias mãos a escória da sociedade. Uma atitude um tanto quanto radical, que certamente terá consequências graves. Imagine se resolvermos brigar toda vez que ocorre uma contrariedade no trânsito, um cenário propício para esse tipo de situação? As ruas das grandes cidades vão se transformar em verdadeiras praças de guerra. Mas se analisarmos as atitudes de muitos motoristas – parando em fila dupla, estacionando em porta de garagem, avançando sinal vermelho, mudando de faixa de rolamento sem sinalizar etc – fica fácil entender por que muitos perdem a cabeça e partem para a ignorância.
PASSA POR CIMA
O exemplo mais recente da intolerância com o desrespeito ao direito alheio no trânsito ocorreu em Vilnius, na Lituânia. O prefeito da cidade, Arturas Zuokas, resolveu apelar contra um cidadão que deixou seu Mercedes-Benz Classe S estacionado sobre uma ciclovia na área central da cidade. Sem pensar duas vezes, o prefeito entrou em um veículo blindado militar e pediu que o motorista seguisse em direção ao automóvel estacionado em área irregular. Ele não teve dúvida: determinou que o blindado passasse por cima do Mercedes-Benz, que ficou destruído.
MARKETING
Uma atitude extrema do chefe do Executivo local, que mais parecia um artista de filme de aventura diante dos fotógrafos, que já estavam ali posicionados para registrar a cena. Ficou parecendo jogada de marketing de Arturas Zuokas, que com isso ganhou notoriedade em jornais, sites e redes sociais em todo o mundo. Conseguir um blindado já não é coisa fácil e escolher logo um Classe S para destruir é, no mínimo, curioso. Ele poderia ter optado por um modelo mais acessível, comum no Leste europeu, mas preferiu o pomposo automóvel alemão. Chamou mais a atenção. Há quem afirme que o carro de luxo foi apreendido da máfia local e colocado propositalmente naquela ciclovia.
E POR AQUI?
Agora, imaginem os senhores se o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, resolvesse tomar atitude semelhante para reagir contra todos os motoristas que estacionam nas ciclovias. Certamente passaria um dia inteiro passeando de carro blindado. Na ciclovia da Rua Professor Moraes, no Bairro Funcionários, os abusos começaram logo depois da inauguração. Motoristas inescrupulosos e vândalos arrancaram as proteções de concreto e abriram espaço para carros, caminhões, motos etc. O prefeito vai ter muito trabalho para passar por cima de tantos veículos, que continuam sendo vistos diariamente estacionados na ciclovia.
SUJEIRA E o pior é constatar que o problema não ocorre somente na Rua Professor Morais. Nas ciclovias da Avenida Doutor Álvaro Camargo, próximo ao Bairro São João Batista, Região de Venda Nova, e da Avenida Tereza Cristina, a situação não é diferente. Ou são carros estacionados ou é sujeira e entulhos dificultando o tráfego dos ciclistas. Pensar em alternativas de transporte, como a bicicleta, sem se preocupar com a manutenção e preservação da via é hipocrisia. Cabe aos cidadãos motorizados respeitar o espaço, e ao poder público, fiscalizar.
