Quem tem ou já dirigiu uma picape com a caçamba vazia sabe quanto o veículo fica desconfortável e inseguro, nessa condição, principalmente ao fazer curva em piso irregular. A tendência é pular mais e se deslocar para a lateral, em movimento conhecido na engenharia mecânica como side thrust (deslocamento lateral). Pensando em encontrar solução para o problema, o engenheiro de desenvolvimento de produtos da Dana (fabricante de componentes automotivos) Cláudio Crivellaro desenvolveu sistema de suspensão semi-ativa, que, com amortecedores magnetoreológicos, reduz as vibrações na carroceria. O projeto também será tema de sua tese de doutorado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo Crivellaro, a idéia de buscar solução com esse tipo de amortecedor surgiu do contato, em congressos de engenheiros, com o professor Antônio Bombard, da Universidade Federal de Itajubá, que trabalha com fluidos magnetoreológicos. "Esse tipo de fluido contém partículas de ferro (do tamanho de cinco microns) e alguns aditivos (para manter a mistura estável), e muda sua propriedade, passa a ficar mais grosso, com a aproximação de um campo magnético. Pensamos então em usar esse fluido no amortecedor", explica. Dentro do amortecedor, há uma válvula (um eletroimã), que permite a passagem de corrente elétrica e controla o campo magnético.
Sensores
Além dos quatro amortecedores, o sistema projetado pelo engenheiro da Dana tem oito sensores, sendo quatro de aceleração (chamados acelerômetros), posicionados na carroceria, sobre as rodas; e quatro de deslocamento linear, instalados nos próprios amortecedores. Um microprocessador 'lê' as informações vindas dos sensores, e envia sinal elétrico para cada amortecedor, endurecendo-o ou amolecendo-o, conforme a necessidade. Cláudio trabalha no projeto desde 2003, quando se iniciaram as primeiras pesquisas, e, este ano, começam os testes práticos e a defesa da tese. Depois dessa fase, o sistema será apresentado às montadoras.
De acordo com Crivellaro, as vantagens desse sistema semi-ativo, em relação aos conjuntos ativos, são o uso de energia vinda da bateria, que é suficiente para controlar os amortecedores e não aumenta tanto o consumo de combustível, e a simplicidade. "Os sistemas ativos, hoje presentes em veículos mais sofisticados (como os modelos Cadillac, os Corvettes, o Audi TT e a Ferrari F599 GTB Fiorano), usam, em sua maioria, atuadores hidráulicos para gerar força nos amortecedores, em todos os sentidos, e a qualquer momento. Mas, como essa pressão tem que ser muito elevada (mais ou menos 200bar) e a vazão é muito alta (porque os amortecedores se movimentam rapidamente), é necessário retirar energia do motor, com compressores hidráulicos, o que aumenta consumo e os custos do sistema", argumenta.
Atualmente, as picapes produzidas no Brasil têm sistema considerado passivo e, por isso, não existe interferência para alterar seu funcionamento, de acordo com a necessidade. Segundo Klauss Melo, supervisor de dinâmica veicular da Ford, o desafio das montadoras, no caso das picapes, é desenvolver sistemas que conciliem a capacidade de carga (os modelos a diesel, por exemplo, são obrigados a carregar pelo menos uma tonelada) com a oferta de conforto e segurança, além de atender os critérios de durabilidade. Por isso, o desenvolvimento é constante. Ele cita como exemplo a 'picapona' F-250, que recentemente recebeu modificações na suspensão traseira (reposicionamento de amortecedores), para melhorar as 'saídas de traseira', quando está com a caçamba vazia.