Vermelho para parar. Amarelo, atenção. Verde, siga em frente. É assim que a maioria dos motoristas interpreta o sinal de trânsito. Mas nem todos podem enxergar o mundo dessa forma. É o caso dos daltônicos, pessoas que têm dificuldade para diferenciar certas cores. O advogado Bernardo Barros tem daltonismo leve e não distingue bem o vermelho do verde em tons mais claros. Assim, quando o sinal tem boa luminosidade, ele não vê muito problema.
O médico Braulon Rodrigo Viana também tem a doença. Ele tem dificuldade para diferenciar o verde e vermelho, mas garante que isso não o atrapalha a dirigir. “Além das cores, a sinalização do trânsito respeita outras variáveis, como o formato das placas e ordem da luminosidade. Acho que é por isso que não sinto dificuldades”, relata. Segundo a oftalmologista Rita Moura, da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), de fato os daltônicos se guiam pela luz e a disposição tradicional das cores.
Ainda de acordo com a médica, existem vários graus de daltonismo, o que dificulta estabelecer quem tem capacidade para dirigir. Em maior ou menor grau, o daltonismo atinge nada menos que 8% da população masculina brasileira e 0,5% das mulheres. Apesar disso, nunca foi adotado em grande escala qualquer medida para auxiliar os daltônicos a identificarem melhor a sinalização.
CONTROVÉRSIA A Resolução 267 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) dispõe que os “candidatos à direção de veículos devem ser capazes de identificar as cores verde, amarela e vermelha”. A oftalmologista Adriana Mezzasalma, médica de tráfego e membro da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), afirma que a importância da distinção das cores verde, amarela e vermelha para a capacidade de dirigir um veículo com segurança ainda é controversa. “Acho que a exclusão para determinadas atividades simplesmente pelo fato de a pessoa ser portadora de daltonismo extremamente discriminativa. Para esses pacientes avaliações práticas deveriam ser feitas antes de qualquer exclusão”, opina Braulon.
“A associação médica canadense recomenda a exigência da distinção das cores apenas para as categorias profissionais, assim como a associação médica americana. A comissão europeia já eliminou a exigência da distinção das cores para os motoristas. Por aqui o poder público precisa adequar os sinais para os daltônicos”, afirma Adriana, citando o Projeto de Lei 4937/2009, tentativa de auxiliar os daltônicos ao acrescentar formatos geométricos às lentes dos faróis, que foi arquivado pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.
PROJETO Especialista em segurança viária, Eduardo Rezende Tondato desenvolveu um projeto destinado à inclusão dos daltônicos. Ele, que também convive com a doença, cita diversas situações em que mesmo o daltônico que consegue se orientar por meio da ordem das luzes do sinal pode se confundir e acabar provocando um acidente: inversão da ordem das cores durante uma manutenção, incidência do sol sobre o semáforo, presença do sol no campo visual dos condutores, ofuscamento pelos faróis dos veículos que trafegam em sentido contrário, chuva e neblina.
Assim, o projeto propõe manter as atuais posições e cores dos sinais e acrescentar uma figura geométrica distinta para cada uma das lentes coloridas: um círculo para o vermelho, triângulo para o amarelo e quadrado para o verde. A mudança poderia ser feita simplesmente colocando as formas geométricas sobre as lentes coloridas que já existem (como um adesivo). Porém, conforme Tondato observou, o pequeno diâmetro das lentes tornaria as figuras imperceptíveis a longa distância. Por isso, sua outra proposta, essa mais dispendiosa, visa substituir as lentes planas e circulares por peças em relevo (calotas, piramides e cubos), permitindo que aquela sinalização seja vista inclusive por pedestres e veículos localizados em outras vias.