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Segurança - Salvo pela fita

Segunda matéria sobre os 50 anos do cinto de três pontos conta a história de Vanil da Silva, que sobreviveu graças ao equipamento em acidente há oito anos

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"Estava completamente errado. As únicas coisas que tinha feito corretamente eram ter usado o cinto de segurança e não ter bebido. Se estivesse sem o cinto de segurança, teria morrido" - Vanil da Silva Hermsdorff Neto, programador

Aos 18 anos Vanil da Silva Hermsdorff Neto se sentia invencível, um super-homem, nas palavras dele. Morador de Coronel Fabriciano, região do Vale do Aço, trabalhava na Usiminas, na vizinha Ipatinga, onde começara como mecânico, depois passou para torneiro e à época exercia o cargo de inspeção de torno. Depois de quatro noites seguidas, trabalhando em turno de 12 horas, ele deixou o serviço às 7h e não dormiu durante o dia. Foi a uma festa em Iapu, dirigindo cerca de uma hora, e na volta cochilou ao volante, passou reto em uma curva da BR-458 e caiu em um abismo, com altura equivalente a dois postes. "Estava completamente errado. As únicas coisas que tinha feito corretamente eram ter usado o cinto de segurança e não ter bebido. Se estivesse sem o cinto de segurança, teria morrido", conta.

Vanil é uma entre a mais de milhão de pessoas que teve a vida salva pelo invento do engenheiro sueco Nils Bohlin - o cinto de segurança de três pontos - , que completa 50 anos este mês. Ele quer, ao contar sua história, ser um exemplo, tanto no que fez de errado, mas principalmente naquilo que acertou, ao ter usado o cinto de segurança.

Vanil começou a trabalhar aos 13 anos, na oficina mecânica do tio, e acredita que esse tenha sido um dos motivos de ter usado o cinto de segurança. Ele se lembra de observar carros acidentados, mas com o cinto intacto e também de acompanhar relatos de pessoas que se safaram de acidentes graças ao uso do equipamento. Detalhe: apesar da consciência, ele não tinha carteira de habilitação.

Mesmo com o uso do cinto, o impacto foi expressivo. Vanil acordou no hospital de Ipatinga três dias depois, com uma série de fraturas. Quebrou a mandíbula; a clavícula; oito costelas do lado direito; uma do lado esquerdo; teve o pulmão perfurado e fraturou três vértebras da coluna, além de traumatismo craniano. Ele também teve lesão parcial da coluna e, por isso, perdeu o movimento dos membros inferiores.

Oito anos após o acidente, Vanil, hoje com 26 anos, deixou o Vale do Aço, vive sozinho, por opção, em Belo Horizonte, faz curso de design gráfico e trabalha em uma empresa de criação de software no Bairro Alípio de Melo. Se locomove de ônibus pela cidade e espera, quando puder, comprar um veículo adaptado, conseguir a carteira de habilitação e voltar a dirigir. Ele namora há dois anos e meio a fisioterapeuta que participou de seu tratamento. A namorada, aliás, foi uma das razões que motivaram sua mudança para Belo Horizonte.

Etapas

A professora de fisioterapia neurológica da PUC Minas Betim e da Faculdade Estácio de Sá Paula Scalzo ressalta que a principal função do cinto é evitar a ejeção do ocupante no momento da colisão ou de um capotamento e retê-lo no banco. Paula explica que durante o acidente existem três etapas. Na primeira, é quando acontece a batida e há uma interrupção súbita. No segundo momento, o indivíduo continua em movimento e bate contra as estruturas internas do carro. "Se ele estiver sem o cinto, pode ser jogado para fora do carro e ter lesões muito mais graves", ressalta Paula. É nessa etapa que o uso do cinto é essencial, além do que 75% das pessoas que são jogadas para fora do veículo em um acidente não resistem e morrem. A terceira etapa da colisão é quando as estruturas internas do corpo colidem entre si.