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Segurança - Careca maquiada

Pneus usados importados da Europa são vendidos no Brasil, apesar da proibição. Utilizá-los é muito arriscado, pois podem estar mais rodados do que aparentam

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Borracha estraga pelo contato com oxigênio, apesar de não apresentar desgaste aparente

João Montsserrat - Estado de Minas

Matéria-prima para remoldagem. Seria essa a propriedade dos pneus usados que são importados de países europeus para o Brasil. Porém, essa prática não é mais permitida. Mas ainda há quem insista em trazê-los para cá e, além do absurdo que representam para o meio-ambiente - se ainda não existe solução eficaz para o descarte dos pneus produzidos por aqui, que fim se pode esperar dos que vêm de fora? -, existe também o desrespeito às leis brasileiras e à segurança do consumidor, uma vez que esses são rotineiramente recolocados à venda no mercado como seminovos importados.

O caderno Veículos do jornal Estadode Minas flagrou a comercialização desses componentes na Borracharia Auto Cruzamento, no bairro Prado, região oeste de Belo Horizonte. A reportagem simulou a compra de pneus para rodas aro 16 com medida 205/55, cuja produção não é brasileira, para um automóvel Mercedes-Benz Classe C. A informação passada foi de que esses pneus, especificamente, se encontravam no mesmo estado de zero quilômetro, com exceção de não apresentar mais os excessos de borracha presentes nos novos. Informaram que trabalham com as marcas Michelin, Goodyear e também chinesas. Uma consulta para compra de pneus para rodas aro 16 com medida 215/65, de produção norte-americana, para um veículo Ford Mustang, também foi realizada. Disseram que não tinham, mas que, se realmente houvesse interesse poderiam ser encomendados e em 15 dias estariam disponíveis.

Segundo José Antônio Oka, coordenador da área de segurança viária do Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi), a falta de informação do consumidor em relação ao pneu já é agravante para que eles estejam no mercado. "A questão é o conhecimento que o comprador vai ter do produto. A data de fabricação é importantíssima de observar. Está escrito na banda lateral do pneu. Se se observar, na lateral, onde há informações do fabricante, aparece uma seqüência de códigos e no final tem quatro números cercados por um retângulo, os dois primeiros representam a semana em que foi produzido e os dois últimos o ano. Então, a borracha, apesar de não ter desgaste aparente, se estraga com o tempo por causa do contato com oxigênio. Os pneus fabricados há cinco anos ou mais não são recomendados para utilização", explica.

Outro ponto importante citado por Oka é a diferença de utilização entre os pneus fabricados no Brasil e os que são produzidos no exterior. "Há a questão do tipo de aplicação, os que vêm nos carros já da fábrica, para uso geral e os apropriados para neve, terra etc. Têm um desenho diferente. É preciso verificar se a especificação é a mesma dos usados aqui, capacidade de carga, velocidade máxima", diz. José explica ainda os perigos de comprar o pneu usado importado. "O risco que corre é porque não se sabe o que aconteceu com o pneu, falta controle de qualidade de recepção do componente. É por conta e risco de quem compra. E também, por exposição de extremos de temperatura, a borracha perde as características originais. É um risco. Não é recomendado, a não ser que tivesse um controle de qualidade, mas eu desconheço", afirma.

Por fim, o coordenador destaca o dilema ambiental em que o país está envolvido por causa das importações de usados de outros países. "Existe uma briga forte do governo em relação a esse assunto, porque o Brasil acaba servindo de solução para o lixo dos outros países. Parte dessa importação é usada para reutilização de pneus remoldados, mas os que são recolocados no mercado não têm controle nenhum, estamos importando o que era para ser descartado de forma ecológica em outros países", finaliza.