Nos grandes centros urbanos, é comum as pessoas permanecerem muito tempo dentro de veículos, que se transformam quase em extensão de suas casas. Para quem já é propenso a alergias, fica a preocupação se o interior do carro pode piorar a situação.
Em diversos países, há vários estudos sobre como diminuir a procriação de agentes nocivos no habitáculo. No Brasil, ainda não há pesquisas específicas nesse sentido. No entanto, de acordo com Wilson Baccan, superintendente do Laboratório de Polímeros e Materiais de Tapeçaria da GM do Brasil, em veículos modernos não há muitos motivos para preocupação: "Mofo e bactérias e outros microorganismos proliferam mais em tecidos naturais, como algodão e juta, e hoje a maioria dos carros usa tecidos sintéticos", explica. No entanto, Baccan revela uma curiosidade. Ele afirma que o couro, material considerado nobre, é o que exige mais cuidados, pois, como é de origem animal, deve ser bem tratado no curtume para ficar imune.
Outra fonte de irritação é o famoso cheiro de carro novo. Mas aí também, de acordo com o superindente, são tomados cuidados. Os plásticos são testados pela volatilidade (liberação de gases) e controlados para cheirar o menos possível e, como não há norma nacional para o assunto, é seguido o padrão adotado na Europa.
No entanto, a diretora científica da Sociedade de Alergia e Imunopatologia da Associação Médica de Minas Gerais, Raquel Pitchon, alerta que há mais motivos que podem causar problemas dentro de um carro do que apenas o uso de um ou outro tipo de revestimento.
Em primeiro lugar, a especialista destaca a própria qualidade do ar, que tem partículas em suspensão. E ela também não isenta os materiais sintéticos de problemas, e até argumenta no sentido oposto de Baccan, da GM: "Os bancos de tecido são criatórios de agentes alergênicos. O ideal é usar uma capa impermeável ou bancos forrados em couro. O principal problema são as fezes dos ácaros, que se depositam na trama do tecido", mas concorda que os materiais naturais são mais problemáticos: "Lã e outros tipos de pêlos podem em si causar alergias respiratórias. Já os sintéticos podem irritar a pele", pondera.
Uma boa manutenção pode diminuir os problemas. E, de acordo com a médica, o equipamento mais eficiente é o aspirador com filtro de água, que não joga os materiais nocivos de volta no ar. Segundo Raquel Pitchon, o maior problema é o cigarro. "Em um ambiente como o carro, mesmo com as janelas abertas, a concentração de fumaça é muito grande, e atinge não só quem fuma, mas todos os ocupantes."
Paulo Fidelis, sócio do Centro Automotivo Pingüim, recomenda a troca do filtro de ar do sistema de ventilação a cada ano ou 15 mil quilômetros. O prazo pode ser menor para quem roda com freqüência em estradas de terra, pois o componente satura mais rapidamente. Outro procedimento importante é a higienização do sistema de refrigeração, que deve ser feita uma vez por ano, para evitar a proliferação de colônias de fungos e bactérias.
Mas o empresário alerta que o procedimento não pode ser feito de qualquer forma. "Quando a higienização for feita com spray, o cliente deve checar se o produto é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e não apenas registrado no Ministério da Saúde, o que não é garantia que o produto já foi homologado", alerta. A outra forma é por nebulização, mais eficiente, pois cria uma nuvem que gira em todo o sistema de refrigeração do veículo. Uma indicação de que fungos estão se instalando no carro é o cheiro. Na dúvida, consulte um profissional.