Como estabelecer uma conexão entre o Brasil e o Salão de Veículos Comerciais de Hannover, na Alemanha? Para responder é preciso tentar compreender as realidades pelas quais passam os mercados brasileiro e europeu. A primeira delas e que está sendo exaustivamente explorada nesta feira (que começou quinta-feira e termina dia 27, com 1.904 expositores ocupando uma área de 260 mil metros quadrados) são os dois momentos distintos das legislações antipoluição: enquanto o Brasil ainda engatinha na Euro 5, o mercado europeu já entrou na fase do Euro 6, bem mais rigorosa e que, por enquanto, é opcional, mas que passa a ser obrigatória a partir de janeiro de 2014. A segunda é que os fabricantes europeus estão apostando no crescimento dos Brics (Brasil, Rússia, India, China e África do Sul) e que o nosso mercado é tão competitivo que tem a presença de todas as grandes marcas mundiais.
Por isso, essa palavrinha mágica (Euro 6) passou a ser estampada na maioria dos lançamentos. Não se trata apenas de uma corrida tecnológica, mas a pressa se deve ao fato de que alguns países já estão oferecendo incentivos (como redução do preço de pedágios) para aqueles veículos que incorporaram essa tecnologia. E na Europa, assim como no resto do mundo, os transportadores querem reduzir qualquer custo possível, e qualquer diminuição entra na conta. Por isso, a feira girou também em torno dos novos sistemas de gerenciamento (em tempo real) de frotas – que são oferecidos quase que como um pacote atrelado ao novo modelo)–, possibilitando ao empresário controlar com precisão os gastos com manutenção, combustível etc. No quesito segurança, tecnologias como os sistemas de freios inteligentes, que podem parar o veículo totalmente sem a intervenção do motorista se detectar algum obstáculo à frente, são cada vez mais comum nos pesados.
PESADOS Para o Brasil, a principal notícia nesse segmento é o anúncio da Iveco de que começará a produzir ainda este ano, na fábrica de Sete Lagoas (MG), o novo Hi-Way, que está sendo lançado oficialmente no mercado europeu e que ganhou esta semana o cobiçado prêmio Caminhão do Ano na Europa. A novidade ganha um peso maior se for levado em conta que os lançamentos na Europa demoram cerca de dois anos para desembarcarem aqui. A Volvo também divulgou que vai produzir no Brasil, em sua fábrica em Curitiba (PR), o novo FH, que faz sua estreia no salão. Mas não disse quando. A empresa, que atualmente representa no Brasil a Mack (americana), a Renault e UD (antiga divisão de caminhões da Nissan), anunciou também que estuda a introdução de uma segunda marca em nosso mercado. Especialistas apostam que esta seria a linha de caminhões leves da Renault, para complementar o leque de opções da Volvo. A DAF, marca holandesa que pertence ao grupo Paccar (americano) e que está montando fábrica no Brasil (em Ponta Grossa, no Paraná), confirmou a vinda (em março de 2013) do novo pesado XF, que ganhou novo chassi e nova cabine, com mais espaço interno.
Novas soluções
Ônibus para o transporte urbano e turismo marcam presença na mostra internacional, que traz ainda furgões e vans movidos a diesel e eletricidade, além de belos conceitos
Além de anunciar que vai exportar ônibus brasileiro para a China, a anfitriã Mercedes-Benz apresenta o Citaro, que, de acordo com a marca, é o primeiro ônibus urbano com a homologação Euro 6, o que possibilitou a redução do consumo de combustível em cerca de 5%. A marca está exibindo também o luxuoso ComfortClass 500, desenvolvido pela empresa Setra (encarroçadora do Grupo MB). A Iveco mostra o Magelys Pro, que é a sua “Ferrari dos ônibus”, produzido pela empresa Irisbus (marca do grupo que usa como símbolo um golfinho) e voltado para o segmento de turismo, com várias opões de motor. Assim como nos automóveis, e nos novos caminhões, os ônibus também estão ganhando visual mais arrojado, com os faróis com luzes de LED. Usando a base do Volksbus, a Man exibe um ônibus desenvolvido para o conceito BRT (o passageiro paga antes e embarca em uma plataforma) no Brasil, com motor flex, que consome diesel e gás natural.
AERODINÂMICA Fora as tecnologias de recirculação de gases, filtro de materiais particulados, diesel com menos enxofre e vários tipos de catalisadores, os fabricantes de caminhões e ônibus também estão recorrendo à aerodinâmica para atender as exigências da Euro 6 de reduzir o consumo de combustível e, consequentemente, as emissões de poluentes. O melhor exemplo da feira nesse sentido é um kit desenvolvido pela Mercedes-Benz para o conjunto cavalo mecânico/reboque, que reduz o consumo em cerca de 4,5%. A maioria dos fabricantes também recorreu a desenhos de novas frentes para tentar diminuir as emissões.
ALTERNATIVOS A feira e Hannover mostra ainda que os híbridos e elétricos estão chegando com força ao mercado europeu. Destaques: o ônibus urbano Volvo 7900 Hybrid, que promete, com o uso do diesel e da eletricidade, reduzir em 37% os gastos com combustível (a marca sueca anunciou que a partir de 2014 todos os seus ônibus na Europa serão híbridos); os furgões elétricos Peugeot Partner e Citroën Berlingo, que são “irmãos” (mesma plataforma e quase a mesma carroceria) e foram colocados frente a frente nos dois estandes; e o caminhão pequeno Fuso Canter Eco Hybrid (fruto da parceria Mercedes-Benz/Mitsubishi), que mistura diesel e eletricidade e tem recipiente de baterias que suporta choques de até 50km/h e que começa a ser produzido em Portugal este ano para o mercado europeu.
CONCEITOS A edição deste ano está sendo uma das mais fracas para os conceitos. Os que estão chamando mais a atenção do público são o Volkswagen eT!, uma van elétrica com porta corrediça que se abre em três segundos e suspensão rebaixada (voltada para entregas urbanas); e o Nissan e-NT400, um caminhão compacto que usa a plataforma do elétrico Leaf. Outros destaques da feira são: uma versão aventureira da picape Amarok, batizada de Canyon (que pode servir de inspiração para uma opção brasileira); e o novos Ford Tourneo (que tem opção do novo motor 1.0 turbo EcoBoost) e Transit (que deve chegar ao Brasil dentro de dois anos), nas versões furgão e passageiros, com varias configurações.
(*) Jornalista viajou a convite da Anfavea