O conceito mais controverso de carroceria é o dos utilitários-esportivos, ou SUVs (do inglês, sport utility vehicle). O problema sempre esteve justamente na denominação 'esportivo', já que, apesar de muitas vezes terem motores poderosos, esses veículos não esboçam a menor performance de fato esportiva. Para se ter ideia, o Willys Jeep Wagon (de 1938) é considerado o primeiro utilitário-esportivo, apesar de não ter sido chamado assim à época. O modelo, equivalente à nossa Willys Rural, nada mais é do que uma espécie de perua forjada a partir do Jeep Universal. Diga a verdade: estas formas sugerem alguma esportividade?

MAIS CONFORTO

O tempo passa e, naturalmente, os utilitários-esportivos evoluíram (ou involuíram?). Lançado nos Estados Unidos em 1984, o Jeep Cherokee XJ pode ser considerado o ícone desse desenvolvimento. Essa nova geração de SUVs foi marcada pelo interior tão confortável quanto o de um sedã e a substituição do chassi por uma estrutura em monobloco (na maioria dos casos). Entre os brasileiros, o modelo ficou conhecido como o carro favorito de 11 entre 10 jogadores de futebol e novos-ricos na década de 1990.

SUV DE GUERRA

A maior extravagância alcançada pelos SUVs foi o lançamento do Hummer, versão civil lançada pela General Motors tendo como base um veículo militar, o Humvee, um projeto de... 1984! Curiosamente, assim como o Jeep Wagon, um veículo militar dá origem a um civil. Mas, por suas dimensões, peso e motor superlativos, não se trata de um veículo dócil. Uma pesquisa encomendada por uma seguradora aponta que os proprietários do modelo têm em média cinco vezes mais autuações de trânsito do que os demais motoristas.

CROSSOVER

Atualmente, o SUV anda em baixa, já que a grande maioria dos fabricantes classificam esses modelos como crossover, que nada mais é que um cruzamento entre duas carrocerias. Mas o termo utilitário-esportivo já denota a mistura entre os segmentos. Logo, crossover é uma definição um tanto vaga, já que também poderia ser um modelo com características tanto de uma perua quanto de um monovolume. Mas ficou combinado que crossover é um SUV sem as características
de fora de estrada.

O PRIMEIRO

Mas tamanha libertinagem abriu caminhos para o que alguns puristas classificaram como um verdadeiro sacrilégio. O Porsche Cayenne (de 2002) marcou a entrada de marcas esportivas no segmento de grandalhões. O modelo já está na segunda geração e é o responsável pela maioria das vendas da marca. A versão turbo, a mais nervosa, tem nada menos que 500cv de potência, 71,3kgfm de torque, acelera até os 100km/h em 4,7s e tem velocidade máxima de 278km/h.

MAIS

O último choque dos puristas aconteceu neste Salão de Pequim, quando a Lamborghini mostrou um utilitário-esportivo conceito chamado Urus. Com capacidade para quatro ocupantes, o modelo ganhou o DNA da marca e não parece ter dimensões exageradas. Também na China, a inglesa MG apresentou o conceito Icon, o primeiro SUV da marca. O resultado foi um equilíbrio de linhas tradicionais e tendências futuras. Enquanto a dianteira foi inspirada no clássico MGA (de 1955), a traseira recebeu as linhas do MGB GT (de 1965).

DEU O QUE FALAR

A repercussão do conceito de utilitário-esportivo EXP 9 F no último Salão de Genebra foi tão negativa que os executivos da Bentley encomendaram várias mudanças para o modelo de produção, que deve chegar ao mercado em 2015. Parece que todos acharam um exagero mimos como uma mesa de piquenique, as caixas com copos, pratos e talheres finos, além da tampa traseira que, quando aberta, vira um confortável sofá de couro. Durante o Salão de Frankfurt de 2011, a Maserati apresentou o estudo Kubang, que virá a ser o primeiro SUV da marca. Por não trazer as linhas tradicionais da marca, o Kubang de produção é um forte candidato ao fracasso.

EU NÃO!

Uma marca que patinou, mas acabou não se rendendo aos encantos do mercado foi a Ferrari. Quando surgiram rumores de que a marca lançaria seu SUV, Sergio Marchionne , diretor-executivo da Fiat, tratou de deixar bem claro que ele não está nos planos da marca. Acredita-se que a fofoca começou quando a Ferrari apresentou o modelo FF, uma shooting brake com quatro lugares e tração nas quatro rodas (abandonando a tração traseira).