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Rolimã: Um dia corrido

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Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação


Passar um dia inteiro na frente da televisão assistindo ao mesmo programa talvez pareça chato. A não ser que se trate da prova 24 Horas de Le Mans. A corrida anual foi no último fim de semana, mas a história começou há quase 90 anos, em 1923. Foi a primeira competição de resistência, também conhecida como endurance, na qual a maioria dos vencedores ultrapassa os cinco mil quilômetros percorridos. O Vrum reuniu uma galeria de curiosidades e vencedores da clássica competição.

PARAÍSO VERDE

Se o circuito de Nürburgring ainda é conhecido como inferno verde, em razão da dificuldade de se andar no limite e pela densa floresta no entorno, Le Mans poderia ser considerada o paraíso verde. Na edição deste ano, quem levou a melhor foi a Audi, com o protótipo R-18 e-tron quattro. Foi a primeira vitória de um híbrido. O R-18 tem dois motores, sendo um elétrico, responsável por enviar a força às rodas dianteiras, e outro turbodiesel V6 de 510cv, que leva torque ao eixo traseiro. Os motores a diesel se tornaram vencedores depois do Audi R10 de 2006, que substituiu o R8, que só não teve uma série de vitórias entre 2000 e 2005 por conta do Bentley Speed 8 de 2003. Tudo bem, afinal, são todas marcas do grupo Volkswagen.

LE SARTHE

Embora a corrida seja conhecida como Le Mans, nome da cidade nos arredores, o circuito se chama Le Sarthe. Trata-se de uma pista mista, com bons trechos que são ruas em dias normais. Mas isso não quer dizer que a pista seja lenta. Pelo contrário, os corredores andam com o acelerador cheio a maior parte do tempo. O grande barato era a reta Mulsanne, que termina no vilarejo que tem esse nome. Com seis quilômetros de extensão para brincar, era fácil ultrapassar os 400km/h a bordo dos protótipos da categoria C. Porém, os acidentes graves ou fatais acabaram com a festa em 1990, quando foram incluídas duas chicanes na reta por pressão da Federação Internacional de Automobilismo (FIA). A entidade passou a reprovar circuitos com retas superiores a dois quilômetros. Mesmo assim, os velozes Le Mans Prototype (LMP1), que disputam a categoria máxima da atualidade, estão mais rápidos do que nunca.

FRANÇA VERSUS ALEMANHA

De uns tempos para cá, Audi e Peugeot passaram a ser rivais na prova de maneira mais frequente, ambas com protótipos a diesel. Só que a disputa de egos é uma velha constante de Le Mans. Os mais saudosos se lembrarão das famosas rusgas entre dois gênios dos carros de pista: Ettore Bugatti e Walter Owen Bentley. Enquanto o italiano criador da Bugatti acreditava na sofisticação mecânica e leveza, o britânico apostava em uma engenharia mais sólida e na litragem dos seus motores. Uma história que remonta à época daquela famosa frase de Bentley: “there is no replacement for displacement” (não há substituto para cilindrada). O primeiro vencedor foi um Chenard & Walcker Sport, mas a Bentley levou os títulos de 1924 e triunfou entre 1927 e 1930 com a receita, começando por um 3 litros e indo até o Speed Six 6.5. Bugatti os chamava de “os

caminhões mais rápidos do mundo”, contudo, só levaria a melhor em 1937 e 1939. Mesmo hoje em dia, a Bentley voltou a Le Mans para levar a melhor em 2003 com o Speed 8, enquanto a Bugatti até tem o Veyron, que é o mais rápido carro de rua, mas que nunca correu a Mulsanne para valer.





VENDETTA IANQUE

Falando em rivalidade, alguns modelos nasceram como uma provocação. È o caso do clássico Ford GT, superesportivo retrô vencido a corrida de longa duração quatro vezes, entre 1966 e 1969, acabando com o predomínio da Ferrari, vencedora entre 1960 e 1965. Tudo por conta da rivalidade criada entre Enzo Ferrari e Henry Ford II, depois que o comendador cancelou a venda da marca ao grupo americano. Uma vingança do Tio Sam.

NOMES FAMOSOS


Os grandes nomes de Le Mans são homenageados pelos fabricantes. A Audi decidiu batizar o seu superesportivo de rua como R8, nome do modelo que fez história no circuito. Mesmo um carro de alto luxo como o Bentley Mulsanne faz alusão ao circuito. A Porsche não deixou por menos: o novo superesportivo híbrido 918 faz referência ao clássico 917, o modelo que deu, em 1970, a primeira vitória na prova ao fabricante de Stuttgart. Alguém duvida que o modelo fará sucesso nas pistas?

RANKING DO PÓDIO

A Porsche é a que lidera o ranking de vencedores, com 16 vitórias, contra 11 da Audi, a segunda colocada. A Ferrari fica em terceiro, com nove triunfos, contra sete da Jaguar e seis da Bentley. A Porsche tripudiou mesmo com a série de vitórias com os modelos 935, 956 e 962C, que paparam todas entre 1981 e 1987. Entre os pilotos, o dinamarquês Tom Kristensen levou a melhor oito vezes, fazendo a fama dos Audi nos anos 2000. O belga Jack Ickx é o segundo, tendo marcado seis primeiros lugares. Claro que ninguém toca um possante de ponta a ponta, e nos intervalos dá tempo para os pilotos dormirem e se alimentarem com carboidratos. Também sobra tempo para consertar os carros, já que pequenos acidentes são inevitáveis. O vencedor deste ano, apelidado de Electra pela Audi, bateu nas barreiras duas vezes, enquanto o segundo lugar teve a frente destruída e ainda perdeu uma volta inteira depois que um enorme pedaço de borracha ficou preso na suspensão traseira.

SINISTRADO DE OURO

Os carros que correm em Le Mans costumam ser valorizados em leilões. É como um selo de qualidade que salva até os sinistrados. É o caso de um bólido que ficou famoso por ter participado do pior acidente de Le Mans: um Austin-Healey 100 S de 1953. Lance Macklin dirigia esse modelo na prova de 1955 quando fechou o Mercedes-Benz 300 SLR de Pierre Levegh ao se desviar do Jaguar D-Type de Mike Hawthorn (que ganharia aquela prova). O Benz foi catapultado sobre a multidão, matando 84 pessoas e ferindo pelo menos 120 espectadores. A tragédia afastou a Mercedes-Benz das pistas por quase 30 anos. Mesmo assim, o Austin Healey 100 S atingiu 843 mil libras esterlinas (ou R$ 2,3 milhões) em leilão realizado pela Bonhams em dezembro passado. Uma prova de que a mística supera a superstição.