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Rolimã: Paredes como inspiração

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Designers automotivos recorrem a uma série de inspirações. Às vezes a fonte é um outro tipo de veículo, como uma aeronave ou, até mesmo, um barco para uma série de acabamentos. Noutra, pode ser um animal. Basta ver a tendência orgânica de alguns desenhos. Quase sempre, a fonte é algo ligado ao movimento. Porém, até mesmo a paradona arquitetura serve como guia ao olhar automotivo. Reunimos na coluna Rolimã alguns exemplos de como a arquitetura e o mundo dos automóveis se cruzam.



EXTRAVAGÂNCIA TOTAL


A fusão de estilos do art déco influenciou também os automóveis, com seu inconfundível estilo de decoração. Valia a ornamentação dos automóveis, como pode ser visto em exemplos nada discretos para os padrões atuais. Nessa linha, são comuns capôs longos, para-lamas estilizados, detalhes ricos e perfis alongados. O movimento floresceu em todo o mundo, mas a sua origem é a França. Não por acaso, as criações mais chamativas vieram de lá, como esse belo Delaheye 165, de 1939.



ESTILO BURGUÊS


Até então, o cruzamento ficava mais patente na ornamentação das carrocerias feitas sob encomenda por encarroçadoras. Elementos em art déco ou até barroco não eram incomuns numa época em que os carros ainda se pareciam com as carruagens. Os anos 30 viram a ascensão do estilo moderno e funcionalista, o que não tardou a ser aplicado nos automóveis. Principalmente sob a luz da Bauhaus, escola alemã de desenho fundada por Walter Gropius. A escola fundada em 1919 trabalhava com todas as formas de arte, incluindo design gráfico, de interiores e industrial. O arquiteto alemão também desenhou carros para a Adler. Luxuosos, os modelos não tinham nada de revolucionários para a época, tendo sido lançados em 1931.



CRIAÇÃO DO MESTRE

O arquiteto suíço Charles-Édouard Jeanneret, conhecido como Le Corbusier, também foi um dos que enveredaram pelo desenho de automóveis. Em 1936, o famoso arquiteto desenhou um veículo minimalista, que em muito lembrava outros projetos racionalistas da época (marcada pela crise financeira), como o Standard Superior, Tatra 77, além do Volkswagen Fusca. O carro foi simplesmente batizado como Voiture Minimum, ou carro mínimo – minimalista até no nome –, mas nunca chegou a produção. Corbusier também influenciou o desenho dos aerodinâmicos Voisin – era amigo de Gabriel Voisin.



PÃO SOBRE RODAS


Mais interessantes eram os projetos avançados, como o curioso Hanomag 2/10 PS, de 1925. Trata-se de um pequeno roadster (outras versões foram criadas) de 2,78m de comprimento – 8cm a mais que um Smart Fortwo – e motor traseiro de apenas 500cm³ de cilindrada. Funcional, o carrinho era o ideal para a Alemanha em crise e seguia o objetivo da Bauhaus de um desenho sem firulas burguesas. Virou marco dos carros que, vistos de lado, nunca se sabe se estão vindo ou indo. O modelo ganhou o apelido de Kommissbrot, o nome de um pão de forma feito de trigo, muito consumido pelo exército germânico.



TERMO COMUM

O próprio termo arquitetura é utilizado para descrever o que é conhecido popularmente como plataforma, a base mecânica completa de um automóvel. Em época de compartilhamento cada vez maior de bases, o termo tem ganhado força na imprensa. Para se ter uma ideia, existem fabricantes que já expandiram a ideia de compartilhamento de bases para incluir praticamente sua gama inteira. É o caso da Volkswagen, que, não satisfeita em dividir bases entre as empresas do grupo, agora vai passar a usar a nova arquitetura MQB do Polo ao Passat.



SETENTA ANOS DEPOIS

O estilo do Hanomag serviu de inspiração para a Audi na criação do arrojado TT, de 1998, modelo que faz referência ao período de ouro da Auto Union – a terceira geração, que será lançada este ano, buscará outra fonte. Fonte de inspiração para os Audi que o seguiriam, o TT virou símbolo do design alemão. A funcionalidade pregada pela Bauhaus também influenciou outros desenhos automotivos, como o Citroën 2CV, lançado em 1948.



LOUNGE DEMAIS

A influência da arquitetura não fica restrita ao desenho externo. Não é raro desenhistas se inspirarem no design de interiores para criar habitáculos automotivos. É só ver os conceitos que investem cada vez mais na ideia de um lounge, um espaço para relaxar, com direito a iluminação indireta e poltronas que lembram sofás. Porém, a ideia de colocar alguém que entenda de arquitetura para fazer interiores não é nova. Foi o que fez a Land Rover quando criou o Discovery original, em 1989, cujo habitáculo foi desenhado por sir Terence Conran, mais famoso pelos seus trabalhos na criação de móveis, interiores e projetos arquitetônicos. A iluminação dos instrumentos também passou a usar elementos mais discretos, porém trabalhados, no estilo pregado pelo art déco visto em marcos como o edifício Chrysler em Nova York.



VELHA CASCATA

Embora se renove em novas escolas e tendências, a arquitetura bem-sucedida não costuma sair de moda. A influência de grandes arquitetos não esvanece. É o que prova a Ford, que, ao renovar o crossover Edge, criou um console central vazado e sinuoso. Embora guarde semelhanças com os projetos de interior da Volvo (então nas mãos da companhia americana), a Ford atribui a inspiração a famosa Casa da Cascata (Fallingwater House), construída em 1936 pelo arquiteto americano Frank Lloyd Wright na Pensilvânia. Traçada com base em princípios orgânicos, ela é considerada um dos mais belos projetos de Wright.