Aficionados por automóveis raramente veem um carro com a mesma visão daquele cidadão que não se apega às seduções da máquina de quatro rodas. Dependendo do grau de paixão pelo produto, o maníaco por carros consegue viajar nas ideias e imagens, criando uma visão particular que pode ser interpretada de diferentes maneiras. O jornalista João Veloso, natural de Santos, é um desses apaixonados confessos, mas não só por carros, e sim por todos os tipos de meio de transporte. De teleféricos a aeronaves. Em sua cansativa, porém empolgante, rotina de trabalho, com constantes viagens pelo mundo, ele não perde a oportunidade de registrar imagens de diferentes meios de locomoção. E as modernas e eficientes câmeras de celulares facilitam o trabalho. Para dar um efeito alucinógeno, Veloso usa três tipos de filtros: instagram, snapseed e simply HDR. Confira alguns clicks do jornalista pelo mundo.
OLHA O TREM
Quando João esteve na Itália, mais precisamente em Turim, para o lançamento da Alfa Romeo Mito, em 2010, viu-se diante de uma cena que julgou ser de imprescindível registro. O belo carro esportivo, com linhas que remetem ao passado, diante do portal de uma antiga igreja formou a cena. As marcas do tempo nas paredes brancas foram ainda mais reforçadas pelos efeitos fotográficos. Dali, seguindo pelas estradas italianas, ele encontrou uma interessante locomotiva a vapor da Segunda Guerra Mundial repousando sobre um pedaço de trilho nas proximidades do Lago Maggiore.
A CAVALO
Em um mundo cada vez mais possuído e dominado pelo automóvel, chamou a atenção do jornalista o charme das carruagens que transportam turistas em Berlim, na Alemanha. O fascínio por esse tipo de transporte comprova que os veículos a tração animal terão vida longa. Em Praga, na República Tcheca, a agressividade dos condutores de Trolley, um tipo de bonde mais moderno, impressionou. Eles não param nem se virem pela frente turistas incansáveis com suas máquinas fotográficas. João presenciou o atropelamento de dois cidadãos, que só não teve consequências graves por mera obra do destino.
COMO É QUE É?
Mas na Colômbia ele foi seduzido por um tipo de meio de transporte ainda muito comum em países da América do Sul. São as busetas, pequenos ônibus urbanos que trafegam pelas ruas de Bogotá. João viu busetas de cores variadas, contrastando com as tradicionais paredes de tijolos vermelhos, porém a maioria em péssimo estado de conservação. Trata-se de um tipo de transporte coletivo que resiste ao tempo e ignora alguns conceitos básicos, como o de segurança.
ENGENHOCA
De volta a Turim, dessa vez no Museu Internacional do Automóvel, o destaque registrado pelas lentes com efeito foi o estranho carro projetado pelo gênio Leonardo da Vinci, em 1478. A engenhoca feita de madeira, com roldanas e barbantes, em nada lembra um automóvel convencional, exceto pelas rodas. Mas é interessante pensar que mesmo antes da descoberta do Brasil Da Vinci já estava preocupado com a mobilidade e idealizava um meio de transporte mais moderno.
NO BALANÇO
Na linha do Equador, em Quito, um teleférico leva turistas a mais de 4 mil metros de altitude. A cabine para quatro pessoas, com tecnologia francesa, é semelhante a várias outras que prestam o mesmo tipo de serviço em outras partes do mundo. Porém, João destacou que a diferença estava no balanço excessivo, o que acrescenta certa dose de adrenalina ao passeio. Apesar disso, ele garante que é melhor o teleférico do que subir a montanha a pé.
NA BEIRADA
Uma das mais belas fotos feitas por João Veloso foi durante uma viagem de trem de Durango a Silverton, no Colorado. Trata-se do trem privado mais antigo em operação nos EUA. É de 1880 e funciona a carvão, ou seja, polui muito. A imagem foi feita quando a composição passava por um desfiladeiro, em um belo cenário de montanha, e João fez o registro no último vagão .
MAGRELAS
A bicicleta é um meio de transporte que, assim como os veículos movidos a tração animal, resistem ao tempo. Em alguns países da Europa elas ainda marcam forte presença. Em Amsterdã, na Holanda, Veloso encontrou próximo à estação central um verdadeiro mar de bicicletas, com todos os tipos de modelos. Registrando a cena, ele ficou imaginando como seria difícil encontrar uma bicicleta ali, no meio de tantas outras tão iguais. Uma tarefa difícil.
DEMÔNIO
No Salão de Genebra de 2010 chamou a atenção de João o Fiat SB4, também conhecido como Mephistopheles (ou demônio), um carro produzido em 1908 e que bateu o recorde de velocidade em 1924. Atingiu a marca de 234,97km/h, considerado um feito para a época. Atualmente, o modelo descansa no museu da Fiat, em Turim.
BICUDO
Louco por automóveis, louco por velocidade, louco por corridas. Essa é uma sequência lógica que também faz parte da rotina de João Veloso. No Grande Prêmio de F-1 em Interlagos, no ano passado, ele registrou algumas imagens nos boxes antes da corrida. Claro que passou pelo da Ferrari e fotografou o bico do bólido desmontado, enquanto mecânicos trabalhavam no carro.
DETONADOS
Na Zona Sul de São Paulo, uma cena do cotidiano da grande cidade formou um quadro na mente de João. Ele fotografou um Fiat 147 (e) e um Fusca (d) deteriorados, assim como as construções e a calçada no local. Uma imagem que comprova o abandono e o descaso com as coisas, que se perdem diante da correria e da falta de cuidados.
BOIZÃO
Passando pelo deserto de San Diego, nos Estados Unidos, chamou a atenção um Chevrolet 1954, em estado impecável, estacionado em frente a um restaurante. João parou para ver de perto e ficou ainda mais impressionado ao saber que o carro, todo original, trazia no motor um kit de preparação que elevava a potência para 430cv. Um foguete à moda antiga.
TRANQUEIRA
Passando pelo Salão do Automóvel de Frankfurt, na Alemanha, em 2009, o jornalista fotografou um Trabant NT. Era um protótipo apresentado pela extinta fábrica, que procurava investidores para produzir o modelo. Mas a ideia morreu ali mesmo. De acordo com João Veloso, o carro era muito ruim, com uma história bem maior do que o próprio produto.