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Rolimã - Cantando os carros na viola

Do Fuscão Preto ao Camaro Amarelo, automóveis são objeto de desejo e pivôs nos 'causos' cantados pelo artistas sertanejos há décadas. Vrum mostra algumas das principais tramas que normalmente misturam o 'poder dos carros' com a conquista de um grande amor

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Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação

Xuxa se rende ao amor do Fuscão Preto em filme gravado ao lado do próprio Almir Rogério

Não importa se o carro é clássico ou acabou de sair da fábrica. Ser de luxo ou popular também faz pouca diferença. Todos tem seu espaço nas tramas cantadas pelos músicos sertanejos. Da Kombi ao Dodge Ram, os compositores brincam com as características dos automóveis que, invariavelmente, tornam-se ferramentas fundamentais na conquista de um grande amor. Se no mundo real muitas das leitoras vão questionar (com toda razão) o poder de sedução exagerado que é atribuído aos carangos, no imaginário sertanejo ter fuscas, chevettes, camaros e golfs faz toda a diferença, como mostram canções – da moda de viola ao sertanejo universitário – selecionadas pelo Vrum.

O CLÁSSICO FUSCÃO PRETO

O ''Fuscão Preto com o seu ronco maldito'' não só levou embora a dama do personagem na saga cantada por Almir Rogério, na década de 80, como também se tornou uma das faixas mais famosas do gênero no período. Há quem insista em classificar a música como brega e a grande maioria a trata como uma moda de viola, no entanto, em sua composição original a canção é considerada uma guarânia – gênero musical de origem paraguaia, em andamento lento, geralmente em tom menor.

A música conta a história de um homem que soube por outras pessoas que sua amada tinha sido "vista com outro, num Fuscão Preto pela cidade a rodar". Ele roga a Deus que desminta o fato ou então o esclareça, quando então vê "os dois juntos se desmanchando de amor". Mais ou menos como na história do cara que pega a mulher com o amante no sofá da sala e se livra do sofá, o protagonista da canção culpa o Fusca pelo acontecido.

O que pouca gente sabe é que Almir Rogério não foi o primeiro a apostar no ''causo'', que virou até filme da Xuxa, em 1983. Antes dele, a faixa foi gravada em 1978 (ano de sua composição) pela dupla Giovanti e Mariel, numa prensagem particular e em 1980, pelo trio mineiro Vandeirante, Zé Batista e Darlon. Ainda no fim daquele ano, Zé Tapera e Teodoro gravaram para a RCA. Estas tentativas, no entanto, não obtiveram muito êxito. Foi em 1982, regravada pelo Trio Os Gladiadores, que a música iniciou sua trajetória de sucesso, com mais de 100 mil cópias vendidas. Depois, além de Almir, a canção também ganhou muito destaque na interpretação do Trio Parada Dura. Relembre a gravação:



MOTOQUEIRO E O FIM DO FUSCÃO

E a história do Fusca não termina quando a música acaba. Ao contrário do que se possa imaginar, o "outro" não se dá bem e perde a amada no dia do casamento para um motocliclista, em nova canção composta e interpretada pelo próprio Almir Rogério, que cantou: "que destino traiçoeiro / destruiu meu coração / pois trocou o meu fuscão / pelo amor de um motoqueiro". Confira:



KOMBI: BEM MENOS ELEGANTE

O cantor e compositor sertanejo Renato Botacin, de Rio Claro (SP), dedicou em 2010 uma composição à perua. Com uma interpretação muito menos elegante e sem uma história tão famosa em sua letra como a do Fuscão, o hit "Kombi" foi divulgado no Youtube e conseguiu mais de quatro mil acessos em um clipe que pode parecer para muitos de gosto pra lá de duvidoso. No entanto, a faixa agrada muitos dos marmanjos que são fãs do veículo, já que a letra de Botacin associa o modelo - normalmente lembrado de forma maldosa por seus incêndios e uso em carretos - à sua incrível capacidade de transportar pessoas e, principalmente, mulheres.

Capacidade e levar passageiros da Kombi é lembrada: 'transporte de mulheres'

CHEVETTE OU GOLF GTI?

Ainda em 2010, com os famosos Fernando e Sorocaba, entra em cena um Chevette e um Golf GTI no DVD Acústico da dupla. Encantado com uma mulher linda, mas interesseira, o herói da canção "Chevetão" (com um t só mesmo) se arrepende depois de vender seu velho carro e se afogar em parcelas para comprar o modelo mais moderno na tentativa de impressionar a amada. Mas nem isso adiantou. A moça "não curtia" a bota do caipira e até "tocou fogo" em seu chapéu. Ao final da música, o personagem decide não voltar mais para a "patricinha", mas fica sem o seu Tubarão.

A dupla. Fernando e Sorocaba são representantes do estilo universitário do gênero, mas mantêm a pegada mais romântica que fez sucesso no sertanejo dos anos 90, com algumas pitadas de country. Ouça "Chevetão":



Velho "Chevetão" fica só na lembrança e Golf GTI vira arma de conquista

CAMARO AMARELO

Citada esta semana no site da Billboard americana como exemplo do sertanejo que faz sucesso no Brasil atualmente, a faixa "Camaro Amarelo", da dupla Munhoz e Mariano, é o oposto da história do Fuscão. Desta vez a moto não deu certo. A música conta sobre um homem que não conseguia atrair a atenção da mulher por quem era apaixonado com sua Honda CG. Porém, ele compra um Camaro Amarelo e fica "doce igual caramelo" (só para não perder a rima fácil). Ao invés de ficar com a mulher com quem sonhava, o personagem se dá ao luxo de escolher outra por causa de seu novo carrão. A letra é chiclete – feita para grudar na cabeça – e mostra bem o que é o sertanejo universitário, com rimas fáceis e letras bem menos interessantes que as modas de viola. Ouça o hit:



Camaro Amarelo aposta na rima fácil de Munhoz e Mariano: doce feito caramelo

DODGE RAM: A MESMA HISTÓRIA

A faixa "Vem ni mim, Dodge Ram", sucesso na voz dos cantores Israel Novaes e Gusttavo Lima, estourou primeiro no Nordeste. Hit na web, a letra conta a história de um homem que cansou de "não pegar ninguém" por andar a pé e resolveu dar uma virada na vida. A esperança de uma mudança pelo personagem está diretamente ligada com a compra de seu Dodge Ram e de uma lancha Focker 280. Anterior ao hit do Camaro, a música segue o mesmo estilo e a história é igual: o carro como única possibilidade de conquistar uma mulher (mais uma vez, espaço para as vaias de nossas leitoras). Confira a música:



Israel Novaes e Gusttavo Lima apostam no Dodge Ram para seduzir as mulheres

LAND ROVER X FIORINO

No mesmo embalo dos sertanejos anteriores surge "Land Rover", faixa de forró que estourou no nordeste com diferentes bandas seguindo a mesma receita questionável: carro como sinônimo de sucesso garantido com as mulheres. Só que desta vez veio a resposta. Em uma letra divertida, o cantor Gabriel Gava questiona: "De Land Rover é fácil, é mole, é lindo, quero ver jogar a gata no fundo da Fiorino". Como nas outras letras, a canção brinca com as características do carro e atribui ao Fiat um motor 1.6 que andaria "bebendo igual um pagodinho". Com certeza é bem mais divertida que as concorrentes, mas ainda é bem machista e, como as demais, também passa longe do brilhantismo do eterno Fuscão Preto. Veja o clipe:

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