O rodízio de veículos é uma medida paliativa e pouco popular que ainda não deve ser implantada em Belo Horizonte. De acordo com a BHTrans, outras alternativas estão sendo estudadas e implantadas e a adoção de regras mais rígidas ainda dependerá de muita discussão, envolvendo, inclusive, a participação da população. Especialistas no assunto também acreditam que é cedo para a implantação do rodízio.
"Sou completamente contra o rodízio em Belo Horizonte. Acho que é a última alternativa, pois é cercear a liberdade das pessoas", afirma o consultor em transporte e trânsito e ex-presidente da BHTrans Osias Baptista Neto. Segundo ele, antes de se pensar em rodízio, há muito o que fazer, principalmente com relação à organização do trânsito na capital: "Motoristas estacionam onde querem, fecham cruzamentos, param em fila dupla. Não adianta punir quem está correto, fazer com que uns andem de ônibus, enquanto outros vão continuar fazendo essas coisas, que prejudicam o tráfego". Assim, Osias acredita que a primeira providência é fazer com que se cumpra a legislação. Ele afirma que também é preciso se ter uma política de estacionamento mais definida e a melhoria do transporte público.
Pedágio
Para o professor da Escola de Engenharia da UFMG, especialista em tráfego e transportes urbanos, Ronaldo Gouvea, o rodízio é uma medida que reduz o tráfego instantaneamente, mas, a médio prazo, o problema volta porque a frota continua crescendo. "É o que aconteceu no México. Hoje, 80% da frota é maior do que toda a frota há 15 anos, quando implantaram o rodízio". Para ele, em Belo Horizonte seria mais adequado se implantar o pedágio urbano. "É mais democrático, porque você não é impedido de circular. Pode ir ao hipercentro, só que paga uma taxa, que ser revertida para o transporte público", diz. ?O pedágio dificulta a entrada de veículos no centro, mas não cerceia o direito do motorista?, concorda Osias.
"Em Cingapura, uma medida adotada permitia que só entrasse no centro veículo com mais de uma pessoa. Isso criou um emprego informal. Pessoas se ofereciam para ir até o centro, em troca de receber uma quantia. Acredito que, no Brasil, esse tipo de medida teria mais sucesso, pois ninguém põe um estranho no carro", continua Gouvea. "Enfim, o rodízio é uma das formas. Não é a única, nem a melhor", conclui.
Metrô
Já a professora do departamento de Ciências Sociais da PUC Minas Andréia dos Santos acredita que o volume de veículos da capital ainda não justifica o rodízio. Segundo ela, medidas como a criação do Plano da Área Central (Pace), que vem remodelando o hipercentro e tirando veículos gradativamente da área central, da Linha Verde, e a adoção dos microônibus, nas regiões de mais baixa renda, facilitam a fluidez do tráfego. "Daqui a um ano, com o término da duplicação da Avenida Antônio Carlos e a criação de mais corredores específicos para os ônibus, acho que teremos uma melhoria sensível no tráfego", diz. De acordo com a professora, com a expansão do espaço urbano, outra tendência é que as pessoas trabalhem cada vez mais próximas do trabalho, o que também reduz a circulação no espaço público.
Mas, para que tudo isso funcione, é preciso que se invista num transporte público de qualidade. Andréia acrescenta que "a alternativa pouco trabalhada, e quase intocável, é o investimento no metrô. É inviável que não se pense nesse tipo de medida que, infelizmente, já virou lenda em Belo Horizonte".
Participação
De acordo com o gerente de Mobilidade da BHTrans, Tomás Alexandre Ahouagi, a implantação do rodízio na capital, por enquanto, é apenas uma discussão e é importante que se saiba a opinião da população, por meio de fóruns. O mesmo vale para o pedágio urbano. A princípio, a BHTrans estuda outras medidas. "Uma coisa que está clara é que muitas pessoas que passam pela área central não se destinam ao Centro. Assim, uma medida positiva é criar outras rotas para que as pessoas deixem de passar pelo Centro, como uma provável ligação, no Complexo da Lagoinha, entre as avenidas Pedro II e Antônio Carlos", diz. Outra alternativa é a criação de mais estações de integração para ônibus, evitando que a maioria passe pela área central, como ocorre hoje, por ineficiência do sistema. Também são estudados linhas de integração com metrô e mais corredores exclusivos para ônibus, além de soluções por engenharia de tráfego e de investimento no controle semafórico.
"Mas não adianta só diminuir o tráfego no Centro, pois isso atrairia outros veículos", pondera Ahouagi. Neste sentido, ele explica que outra medida é a priorização do pedestre, com a continuação de recuperação e alargamento de calçadas, dando conforto e segurança para quem anda a pé. Também precisam ser repensados os estacionamentos. "Na área central, a quantidade de rotativos é menor, mas há os estacionamentos particulares, que também causam impacto na hora de pico, pois quando os carros saem, é quase de uma só vez", pondera. "As pessoas não vão parar de comprar carro. E é bom que tenham carro, mas o problema é como usá-lo. A cidade não cabe".
Opiniões
"Acho que o rodízio não dá certo. As pessoas vão comprar um carro mais velho, com outra placa, e andar do mesmo jeito", Lorena Dangla, estudante.
"São dois ângulos diferentes. Para o motorista, não é bom, mas, considerando-se o fluxo de veículos, acho válido", Márcio Alves, supervisor.
"Não acho correto. Primeiro têm que melhorar o transporte coletivo", Ramon de Faria, analista de sistemas
"Pra mim, acredito que não iria atrapalhar, porque trabalho à noite. Mas a grande maioria das pessoas iria ficar na mão. Muita gente que mora longe e que não abre mão do carro. Mas sou a favor porque o trânsito está um caos. Só que acho que antes tinham é que acabar com esse monte de carro velho nas ruas e dar incentivo para as pessoas trocarem por um novo", Carlos Kroeff, DJ
"Acho ótimo. Vai melhorar. Tem muito carro na cidade",
Ricardo José de Deus, taxista
"Com certeza tem que ter. O número de carros está muito grande", André Firmino, designer