Não é segredo que alguns fabricantes odeiam as réplicas feitas sobre seus clássicos, como bem provou a decisão recente da Mercedes-Benz de destruir publicamente a carroceria de uma recriação do clássico Asa de Gaivota. Mas algumas réplicas são construídas com a permissão ou envolvimento da própria marca. É o caso de alguns Aston Martin DB4 GT Zagato Sanction II, recriações construídas nos anos 1990 que valem tanto quanto os originais da época.
O sobrenome comprido denuncia a origem do modelo. Sanction II significa segunda sanção, ou seja, é o segundo lote de modelos do tipo produzido, tudo com a sanção da marca. A série de quatro carros foi feita sobre chassis originais do DB4 e lançada em 1991, bem distante da época em que foram produzidos os 19 modelos originais, entre 1960 e 1963, mas ainda assim como se fossem daqueles anos. Ainda haveria uma terceira fornada de dois novos exemplares em 2000. A Aston estava interessada em lucrar em cima da valorização dos clássicos da Zagato.
Nos anos 1980, o então novo Aston Martin V8 Zagato trocava de mãos por mais de 450 mil libras esterlinas, R$ 1,4 milhão, pelo menos três vezes mais do que a tabela. Então por que não lançar mais uma leva dos DB4 originais? O fato é que o DB4 Zagato Sanction II é uma recriação de outra estirpe, construída pela própria Aston e pelo estúdio milanês Zagato. Como a Mercedes-Benz fez com o Benz PatentMotorwagen de 1886, recriado em pequena escala. O status de recriação de fábrica ajudou esse DB4 GT Zagato Sanction II a atingir o preço de 1,23 milhão de libras, o equivalente a R$ 3,8 milhões em leilão realizado pela Bonhams em maio, no Heritage Center (centro dedicado aos antigos da marca) na própria fábrica da Aston, em Buckinghamshire.
DIFERENÇAS
Com apenas 7.641 quilômetros rodados, esse modelo na cor verde Aston Green se diferencia dos DB4 Zagato originais em alguns detalhes. O desenho é ligeiramente diferente, incluindo uma grade menor e mais afilada do que o original. Os puristas podem até chiar, mas algumas mudanças vêm para o bem. É o caso do motor maior, também de seis cilindros em linha, como prezam os Astons clássicos, porém com 4.212cm³ contra 3.670cm³ do original. O rendimento é de 357cv de potência a 6.000rpm e 45,5kgfm a 4.600rpm contra 318cv e 38,4kgfm de antes. O câmbio manual manteve as antiquadas quatro marchas, mas isso não atrapalhou o desempenho. Até os 100km/h são necessários 5,5segundos, 0,6s a menos, enquanto a velocidade máxima chega aos 247km/h, desempenho que pode ser explicado pela leveza da construção de chapas de alumínio sobre estrutura tubular.
As rodas raiadas Borrani são aro 15 polegadas, em substituição ao antigo jogo aro 16, calçadas em pneus mais largos e baixos. O esquema de suspensão independente por duplos braços triangulares na dianteira foi mantido, tal como o eixo rígido da traseira, mudando apenas os amortecedores, que podem ser ajustados, além das barras estabilizadoras mais grossas. O diferencial tem deslizamento limitado, facilitando o despejo da força. Já os freios são a disco nas quatro rodas. Aperfeiçoamentos que ajudaram a recriação a ser tão valorizada quanto os originais.