De São Bernardo do Campo (SP) - A Volkswagen cometeu vários erros estratégicos e deu de bandeja para a Fiat a liderança do mercado brasileiro. Mas não pretende repetir o erro no caso do Gol, líder de vendas há 21 anos apesar de o Palio estar em seus calcanhares.
Em primeiro lugar, vale ressaltar que não se trata de mais uma alteração na velha plataforma do Gol lançado em 1980: em vez de "bolinha", uma nova base mecânica, a do Polo (mesma do Fox), mas atualizada com alguns componentes ainda mais modernos desenvolvidos pela engenharia do grupo na Alemanha.
Para começo de conversa, o que vende automóvel é estilo. O do novo Gol é impecável: moderno, agradável, harmonioso e com uma pitada certa de ousadia. Nada de "ame-o ou deixe-o": é consensualmente bonito. Houve até quem percebesse muita semelhança entre sua traseira e a do BMW série 1. Ponto para a Volkswagen. Veja mais fotos do novo Gol
Acabamento
Capricho em cada item. Qualidade dos tecidos e carpetes de revestimento interno e porta-malas. Painel com material moderno, parafusos cobertos, anéis cromados em volta dos mostradores e saídas de ar, folgas reduzidas entre partes da carroceria, cada item bem pensado e resolvido.
Mecânica
Tudo a ver com a essência VW, nada a ver com o antigo Gol. O motor (ufa!) não é mais longitudinal, mas transversal. O que permitiu reduzir o comprimento do carro (em três centímetros) e aumentar o espaço interno. Torque é mais importante que potência na hora do “vamos ver”. A VW não se esqueceu disso, e o motor VHT 1.0 é o de maior torque no mercado nacional, superando, apesar de só ter oito válvulas, até os da concorrência com 16 válvulas. A caixa de marchas é inacreditavelmente macia e precisa. Dá para cambiar empurrando a alavanca com o dedo.
Maçaneta
A antiga linha Gol é a preferida dos ladrões pela facilidade de se abrir a maçaneta com uma chavinha de fenda. O novo carro tem todo o sistema encapsulado. E a chave tem código Inmo 4, de cinco algoritmos de criptografia. Se o leitor não sabe o que é isso, nem eu... mas o ladrão com certeza vai saber, pois, sem a chave original, ele não leva o carro de jeito nenhum. Os engenheiros foram além e complicaram até o sistema de abertura para evitar o arrombamento do capô.
Seguro
Consertar o novo VW depois de uma batida vai custar menos que o antigo, pois os componentes são mais baratos e a troca é mais rápida. Segundo o Cesvi (órgão independente especialista na análise de reparos), o campeão no item é o Fox. Mas o novo Gol empata com o Ford Ka em segundo lugar. Resultado? Seguro mais barato.
Conforto
O carro perdeu três centímetros em comprimento e ainda ganhou espaço interno na altura do teto (na frente e atrás, evitando bater a cabeça) e na dos bancos. E também para o joelho de quem vai atrás. Chateia abrir a porta numa subida, ela voltar e bater na sua perna? No novo Gol, as dianteiras param em três ângulos diferentes e as traseiras em dois, em rampas de até 20%. Viagens longas? Ele tem, além do baixo consumo, o maior tanque da categoria, com 55 litros. E porta-malas coerente, de 285 litros.
Segurança
Aqui, uma incoerência da VW: ela adotou os mais modernos conceitos na rigidez da plataforma, deformabilidade da carroceria fora habitáculo, menor espaço de frenagem da categoria, etc. Freios ABS (Bosch 8.2, inéditos no Brasil) e airbags de 60 litros são opcionais. Mas "economizou no palito" ao instalar apenas dois apoios de cabeça no banco traseiro. Azar de quem vai no meio: esse pode quebrar o pescoço...
Opcionais
Nada de "pacotes" para pedir equipamentos de segurança e conforto. Até o carro na versão básica pode ter volante com comandos multifuncionais. Ou freios ABS. Som sofisticado com entradas múltiplas, Bluetooth e microfone embutido. Computador de bordo. E outras mordomias. O cliente monta o carro como quiser.
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Preço
Tudo isso aí cairia por terra se a fábrica (como sempre) cobrasse pela novidade. Nada disso: a VW decidiu manter no novo modelo (só quatro portas, por enquanto) o mesmo preço do velho. Que continua sendo produzido mas custando menos, e encarregado de fazer frente ao (também velho) Uno Mille.
Modelo | Preço (R$) |
1.0 | 28.890 |
1.0 Tred | 29.825 |
1.6 | 32.290 |
1.6 Trend | 33.235 |
1.6 Power | 36.420 |
AO VOLANTE DO NOVO HATCH
Ao dirigir o carro, o conforto é resultado de detalhes do projeto e de manufatura impossíveis de o cliente perceber visualmente. O motorista "sente" sem ter idéia do que os engenheiros fizeram.
Os ruídos internos, por exemplo, presentes em excesso no antigo Gol, foram extremamente reduzidos. Como, por exemplo, inserção de plástico expandido dentro dos perfis de estrutura da carroceria. Para reduzir vibrações do motor para dentro do carro, ele foi suspenso por coxins de alumínio. Para cancelar trepidação do volante, a freqüência de vibração da coluna ficou fora da faixa de vibração do conjunto mecânico.
Ninguém vê, mas existem defletores que direcionam o ar para os freios dianteiros, aumentando sua eficiência. São plaquinhas de chapa que custam R$ 0,50. E milhões de dólares num túnel de vento para serem projetadas... Outras, sob os pára-lamas, desviam o ar das rodas, baixando o coeficiente aerodinâmico. Mais R$ 0,50 cada uma...
Claro que o motor VHT ("high torque") disse a que veio. Tem mesmo ótimo torque e boa potência em baixas rotações e responde bem ao pé direito. O chassis do Polo é o melhor da linha VW no Brasil. E ainda ganhou nova suspensão dianteira, mais moderna. O resultado é desempenho excepcional do carro, levando-se em conta sua categoria, é claro. Evidente que o 1.6 VHT dá prazer de dirigir e desempenho de gente grande. O 1.0 é mal necessário no Brasil e só se mantém artificialmente pelo incentivo do imposto reduzido. Mas a VW já tem o 1.4 engatilhado...
Consumo
Novo Gol | 1.0 VHT Flex | 1.6 VHT Flex |
Cidade | 14,1 (g) / 9,6 (a) | 13,1 (g) / 8,8 (a) |
Estrada | 18,6 (g) / 12,6 (a) | 18,5 (g) / 12,4 (a) |
Ficha técnica
Características | ||
Motor | ||
Tipo | Quatro cilindros em linha, 1.0 VHT Total Flex | |
Posição | Dianteiro, transversal | |
Cilindrada (cm3) | 999 | |
Válvulas | 8 | |
Diâmetro/Curso (mm) | 67,1 x 70,6 | |
Taxa de compressão | 13,0 | |
Potência (cv/rpm) | 72 (G) / 76 (A) a 5.250 | |
Torque (mkgf/rpm) | 9,7 (G) / 10,6 (A) a 3.850 | |
Combustível | Gasolina/Álcool | |
Motor | ||
Tipo | Quatro cilindros em linha, 1.6 VHT Total Flex | |
Posição | Dianteiro, transversal | |
Cilindrada (cm3) | 1.599 | |
Válvulas | 8 | |
Diâmetro/Curso (mm) | 76,5 x 86,9 | |
Taxa de compressão | 12,1 | |
Potência (cv/rpm) | 101 (G) / 104 (A) a 5.250 | |
Torque (mkgf/rpm) | 15,4 (G) / 15,6 (A) a 2.500 | |
Combustível | Gasolina/Álcool | |
Transmissão | ||
Câmbio manual de cinco marchas; tração dianteira | ||
Suspensão | ||
Dianteira | Independente, do tipo McPherson, com braços triangulares transversais e barra estabilizadora | |
Traseira | Interdependente, com braço longitudinal | |
Direção | ||
Do tipo pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica (De série apenas no 1.6 Power) | ||
Freios | ||
Dianteiro | Discos ventilados, com ABS (opcional) | |
Traseiro | Tambores, com ABS (opcional) | |
Rodas/Pneus | ||
(1.0) 5 x 13 polegadas (aço) / 175/70 R13 e (1.6) 6 x 14 polegadas (aço) / 175/70 R14 | ||
Dimensões e Capacidades | ||
Comprimento (m) | 3,89 | |
Largura (m) | 1,65 | |
Altura (m) | 1,46 | |
Entre-eixos (m) | 2,46 | |
Porta-Malas (l) | 285 | |
Tanque de Combustível (l) | 55 | |
Peso em ordem de marcha (kg) | 934 (1.0) / 944 (1.6) | |
Desempenho 1.0 | ||
0 a 100 km/h (s) | 13,4 (G) / 12,9 (A) | |
Velocidade máxima (km/h) | 167 (G) / 169 (A) | |
Desempenho 1.6 | ||
0 a 100 km/h (s) | 9,8 (G) / 9,6 (A) | |
Velocidade máxima (km/h) | 190 (G) / 192 (A) |
(*) Jornalista viajou a convite da Volkswagen