
Dois veículos que simbolizam o excesso do consumo de combustível e o  exagero das formas da cultura automotiva norte-americana estão  estacionados no pátio do Porto Seco da Receita Federal, em Betim, à  espera de um dono. Os dois jipes Hummer H3, modelo 2008, são  praticamente zero quilômetro. Um rodou 292 quilômetros. O outro, 146  quilômetros. Ambos são bens apreendidos e fazem parte do maior leilão da  história do órgão federal no estado, que, além dos veículos, leiloará  toda sorte de objetos na terça-feira em um pregão virtual. No total, os  produtos têm valor estimado em R$ 1 milhão. 
São 64 lotes, alguns  com até 50 mercadorias diferentes. Grande parte é composta de itens de  informática, computadores e outros objetos eletroeletrônicos. Existem  lotes em diversas cidades de Minas, como Governador Valadares, Montes  Claros, Uberlândia, além de Belo Horizonte. O chefe da inspetoria da  Receita Federal em Belo Horizonte, Bernardo Costa Prates Santos,  acredita que será possível arrecadar entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões  com o pregão. 
Santos diz que os valores praticados estão abaixo  dos de mercado. “A Receita vende a preço de revendedor”, afirma. Para  participar, os interessados já podem apresentar propostas desde o dia 2.  A maior proposta por cada lote, e aquelas que tiverem valor até 10%  inferior, são cadastradas e seguem para o pregão virtual, que será  realizado na próxima terça-feira. Só podem participar pessoas jurídicas  (com CNPJ) e que tenham certificado digital. 
SEM DOCMENTO  O caso dos jipes Hummer é peculiar. Como foram importadas de um  revendedor, e não diretamente do fabricante, não foi possível realizar o  desembaraço legal. A legislação brasileira permite a importação apenas  de automóveis zero quilômetro ou com mais de 30 anos de uso  (considerados antigos). Nesse caso, explica Santos, o importador não  apresentou um documento do fabricante comprovando que os automóveis eram  novos. Os carros acabaram apreendidos. Estima-se que o valor de mercado  de mercado do Hummer seja de R$ 200 mil, o dobro do preço inicial  estabelecido para o leilão. Além disso os jipes são uma raridade, pois  foram produzidos quando a marca ainda pertencia a General Motors, antes  da crise de 2008. Depois da turbulência, a GM vendeu a marca para a  chinesa Sichuan Tengzhong Heavy Industrial Machinery Company.
Os  jipes da Hummer nasceram de uma encomenda do Pentágono, que investiu US$  1,3 bilhão na AM General para o desenvolvimento do HMMWV, sigla em  inglês para a expressão Veículo Multifuncional e de Alta Mobilidade,  para substituir os antigos jipes militares. Se tivessem uma face humana,  seria a do governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, peça-chave  para que a AM General começasse a produzir uma versão civil. Quando  Arnold, que na época filmava Um tira no jardim da infância (1990),  observou um comboio de 50 unidades de Humvees, quis porque quis uma  unidade e contribuiu bastante para que, no fim de 1992, fosse lançada a  versão civil do monstrengo, o H1, que mudou de nome definitivamente para  Hummer e teve a produção descontinuada em 2006. Em 1999, a GM comprou  os direitos de produção e comercialização da marca e, em 2002, lançou o  H2 e, em 2005, o H3.
De acordo com Santos, entre a apreensão do  bem até o momento em que ele é considerado “perdido”, transcorre um  prazo médio de dois anos. “Quando a Receita aplica a pena, é em função  de algum crime cometido”, afirma o inspetor chefe. O excesso de bens é  justificado pelo fim de uma decisão judicial que impedia a realização de  leilões no Estado. 
	
	
SERVIÇO 
O edital e  todas as especificações, além da lista completa dos lotes com os bens,  podem ser consultados na página da Receita Federal na internet  (www.receita.fazenda.gov.br). Só podem participar pessoas jurídicas (com  CNPJ) e que tenham certificado digital. O vencedor precisa pagar 20% do  valor à vista e depois tem 15 dias para retirar o bem dos galpões da  Receita.