Quando o presidente mundial da Toyota, Akio Toyoda, pediu desculpas publicamente no Congresso dos Estados Unidos, em fevereiro, pelas falhas mecânicas ocorridas em diferentes modelos da marca japonesa, na verdade acabou retomando uma questão que há muito tempo vem preocupando os consumidores de automóveis. Por que os carros novos têm apresentado tantos problemas, obrigando seus fabricantes a recorrer ao recall? Existem diferentes possibilidades de respostas para essa pergunta, mas o fato leva alguns a crer que é melhor esperar o carro passar pelos testes de rua para depois comprá-lo.
Atualmente, quando se fala em recall o primeiro nome que vem à cabeça é Toyota. A montadora vive um verdadeiro inferno astral lá fora e também no Brasil. Nos EUA, o fabricante japonês fez o chamado de cerca de 9 milhões de veículos da marca para corrigir problemas: falhas no pedal do acelerador e dificuldades para frear nos modelos Prius 2010, Prius Hybrid Sai, Lexus HS250h, Aygo, iQ, Yaris, Auris, Verso, Avensis e Corolla. No Brasil, a Toyota também está envolvida com o recall do Corolla (107 mil unidades), que também apresenta problemas no pedal do acelerador supostamente por intervenção do tapete. Alguns acidentes provocados por aceleração involuntária foram registrados e, depois de muita pressão, a montadora acabou convocando o recall.
QUEBRANDO REGRAS
Nos EUA, Akio Toyoda admitiu que a ascensão muito rápida da Toyota para o posto de número um do mundo resultou na redução de seus padrões de qualidade, até então uma referência da marca. Disse ainda que a fábrica negligenciou o treinamento adequado da equipe, focando apenas na expansão da empresa. "A regra básica da Toyota é produzir carros apenas se houver demanda para ela, e nós quebramos essa regra", afirmou na época Akio.
A questão levantada pelo executivo parece realmente fazer sentido. A Toyota se aproveitou da crise enfrentada por General Motors e Ford nos Estados Unidos e assumiu a ponta do ranking, como o maior fabricante mundial. No Brasil, Volkswagen e Fiat brigam euforicamente pelo primeiro lugar e ainda assistem às outras marcas em uma corrida desenfreada por melhor colocação no pódio. O resultado disso é o aumento da produção e aquecimento do mercado, mas nem sempre o controle de qualidade acompanha o ritmo. Na prática, isso explica em parte o número significativo de recalls deflagrados no Brasil nos últimos tempos. As montadoras levam cerca de três anos do desenvolvimento à produção do veículo, com muitos quilômetros rodados de testes, mas muitas vezes os problemas só aparecem quando o carro chega às ruas, nas mãos do consumidor.
GOL CONTRA
A Volkswagen também penou depois do lançamento da quinta geração do seu campeão de vendas no mercado brasileiro, o Gol. O modelo chegou ao consumidor trazendo em seu portfólio uma imagem de modernidade e avanço em relação ao antecessor. Mas bastaram alguns poucos meses de testes nas ruas para que os problemas começassem a pipocar. As unidades equipadas com motor 1.0 tiveram que passar por atualização do programa de gerenciamento do sistema auxiliar de partida a frio. Depois foi preciso trocar o rolamento e aplicar graxa nas rodas traseiras, pois se constatou a possibilidade de travamento ou até desprendimento. A montadora recomendou ainda a mudança do óleo lubrificante dos motores 1.0 e chamou os proprietários do Gol para a recalibração da unidade de comando do propulsor, para evitar o endurecimento do pedal de freio. E, para complicar ainda mais, o modelo começou a apresentar problemas de trincas no para-brisa.
RODAS
A onda de recall passou também pela Fiat, mais especificamente no já maduro hatch médio Stilo. Foram registrados alguns casos em que a roda traseira se soltou, provocando acidentes com vítimas. A montadora se defendeu alegando que a roda se quebrava depois de receber uma pancada, mas alguns proprietários do modelo afirmaram que o desprendimento ocorria involuntariamente. Depois de muita discussão, a Fiat foi obrigada a fazer o recall em todos os Stilos fabricados depois de abril de 2004, substituindo os cubos das rodas traseiras por cubos fabricados em aço forjado.
OUTRAS
Recentemente, a Ford fez recall do Fusion 2010, que apresentou problema no mecanismo reclinador do encosto do banco do passageiro. No caso de colisão, o encosto pode mover-se para trás, causando lesão no passageiro. A Citroën convocou os proprietários do C4 hatch e do Pallas (2009/2010) para corrigir problema no sistema de direção, que pode endurecer em manobras rápidas, provocando acidente. Com o C3 o defeito é nos tambores de freio, que podem trincar, tornando o sistema ineficiente. A Peugeot chamou os donos de 207 HB 1.4, que apresentou vazamento na tubulação do sistema de alimentação de combustível, causando risco de incêndio. A Mitsubishi convocou recall do TR4 09/10, para a troca da válvula de admissão do motor, pois se constatou risco de aumento involuntário da rotação, dificultando a frenagem.
CUIDADOS
Tantos problemas em modelos de diferentes marcas obrigam o consumidor a ficar atento tanto na hora de comprar o carro novo quanto o usado. Na compra do zero-quilômetro é recomendável se certificar se o modelo está envolvido em alguma campanha de recall, para não passar raiva depois. Se o caso é a compra do usado, é aconselhável saber junto às concessionárias da marca se a unidade em questão está envolvida em campanha de recall e se já foi reparada. Para isso, basta fornecer o número do chassi.