Quatro meses após a audiência pública em que proprietários de New Fiesta, Ecosport e Focus relataram problemas causados pelo Powershift, em 18 de fevereiro, o Procon-MG encaminhou ofício à Ford para que a montadora se explique sobre 80 questões relacionadas ao mal funcionamento do câmbio automatizado. As indagações foram levantadas com base em depoimentos dos consumidores, reclamações registradas, ordens de serviço e notas fiscais enviadas por concessionárias Ford. Se referem a dados técnicos, prestação de serviços e assistência técnica, além do programa de extensão de garantia – ampliado de 3 para 5 anos ou até 160 mil km após o último encontro. O prazo para que a Ford envie as repostas ao órgão do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) expira em 29 de junho. As informações serão avaliadas e com base nelas o Procon-MG pretende propor acordo de conciliação que atenda aos interesses dos consumidores.
A medida, segundo o Procon-MG, faz parte da investigação preliminar que apura a responsabilidade da Ford no caso, possível risco à saúde e segurança dos usuários dos automóveis, atendimento e reparo nas concessionárias.
Relatos apontam que o câmbio automático de dupla embreagem apresenta sucessivas queixas de desempenho, não só de trepidação – como reconheceu a Ford aos Procon de São Paulo e Minas Gerais –, como superaquecimento, travamento, dificuldade para troca de marchas, perda de força, ruídos e trocas prematuras de kits de embreagem. A justificativa dada pelo fabricante para a trepidação é a contaminação por fluido de transmissão entre as partes seca e úmida de uma das embreagens, com consequente troca do vedador/retentor da transmissão como possível solução. A previsão anterior era de que uma definição a respeito seria dada pela Justiça em 30 dias, a contar da publicação da ata da reunião de fevereiro. O VRUM acompanha o caso desde setembro do ano passado.
A exemplo do que declarou ao Procon-SP, a Ford se comprometeu em Minas Gerais a estender a garantia, mas somente nos casos de New Fiesta e EcoSport 2013/2014 e Focus 2014 em que for detectada a vibração. Donos de unidades 2014 e 2015 e com os outros problemas, porém, também reclamam.
INSEGURANÇA A audiência pública realizada ao longo de cinco horas na Promotoria de Defesa do Consumidor, em Belo Horizonte, em 18 de fevereiro, ficou marcada pela insatisfação e insegurança dos proprietários de carros equipados com a transmissão, apontada como inovação tecnológica ao ser lançada no New Fiesta em 2012. Na contramão da gravidade do caso, o representante da Ford se ateve a responder os proprietários de carros e o MP de forma protocolar, se esquivando de explicações.
Para o engenheiro designado pela fábrica, “aspereza e troca de marchas mais firmes são características” do Powershift e a contaminação do óleo de material de atrito do disco de embreagem, com consequente trepidação, é a única falha detectada para a série de ocorrências. “Não existe nenhuma possibilidade de as unidades fora desse lote (2013/2014 e 2014, no caso do Focus) apresentaram contaminação. O disco de embreagem é um item de desgaste natural e a troca é uma liberalidade da Ford. Não existe nenhum risco à segurança”, disse, descartando recall – a Ford argumentou na época que não havia registro de acidentes para fazê-lo.
O VRUM tentou contato com a Ford para comentar os novos questionamentos, mas as ligações não foram completadas. A reportagem aguarda retorno por e-mail.