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Prazer a dois: roadsters mantêm fôlego e esportividade

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MGB de 1962



Nem todos os carros nascem sisudos, pensados com critérios indispensáveis como consumo, espaço interno e segurança. Sem deixar de ser responsáveis, alguns automóveis foram gerados com o prazer em mente. É o caso dos roadsters, espécie de esportivo conversível para dois que surgiu há quase 100 anos. Ainda que tenha passado por um marasmo, o segmento apresenta cada vez mais adeptos.



BERÇO IANQUE Como bons esportivos, os roadsters surgiram nas pistas. O termo se popularizou nos Estados Unidos, onde a centenária 500 Milhas Indianapolis teve até categoria com o nome – que saíram de cena nos anos 1950 para dar lugar aos monopostos de motor central-traseiro. Logo o termo passou a ser usado pelos fabricantes automotivos. Como os carros eram basicamente chassis com carroceria, marcas e encarroçadoras costumavam oferecer versões conversíveis com para-brisa rebatível e poucos elementos de carroceria, dos mais populares, como o Ford T, aos grandões, como o Cadillac V-16. Mas foi no ambiente chuvoso que os conversíveis do tipo deram caldo.



MOLHO INGLÊS Só que foram os ingleses que popularizaram o gênero, vendendo conversíveis divertidos e sem muita proteção na chuva. Os americanos se esbaldaram no pós-guerra com os MG TC, o que levou alguns a cultuar a leveza e diversão do anãozinho (tinha até sobrenome Midget, anão em inglês), deixando de lado as barcas V8. Embora alguns roadsters prometessem mais diversão do que velocidade propriamente dita, em 1948 a Jaguar lançou o XK120, que chegava a 193km/h, ou 120 milhas. Fizeram tanto sucesso que levaram a Chevrolet a criar o Corvette nos anos 1950, bem mais europeu que o rival Ford Thunderbird.

GERAÇÃO DE 1962
A MG se lambuzaria no segmento, até chegar ao auge de popularidade em 1962, quando lançou o MGB. Se do MG TD de 1950 foram vendidas cerca de 30 mil unidades, o MGB marcou mais de 500 mil carros feitos entre o lançamento e 1980, longos 28 anos. Morreu jovem para um ícone, mas foi um dos mais longevos da sua geração. Empata inclusive com o Triumph Spitfire, concorrente direto que também morreu em 1980, após vender bem, 218 mil carros. Todos muito equilibrados, mas contemporâneos de um rebelde indomável.



COBRA NO NINHO Carroll Shelby morreu no último dia 10, com o mérito de ter juntado dois mundos: a paixão dos britânicos pelos afiados roadsters e a obsessão norte-americana por polegadas cúbicas. A criatura tem nome: AC Cobra, ou Shelby Cobra, substituto do inglês AC Ace de 1953, que passou por um senhor transplante de coração. Saiu o antigo seis em linha e entrou um novo V8 289 Ford, o conhecido 4,7 litros, que foi sendo ampliado até chegar ao 7.0. Com ele, o roadster ia aos 100km/h em bem menos de 5 segundos. Reproduzido até hoje, o Cobra tem bote peçonhento, mas nunca foi um sucesso de vendas.



CINQUENTÃO DO CHAPMAN Da mesma safra, o Lotus Elan é o roadster cinquentão menos longevo da quadrilha, tendo saído de cena em 1967 – seu sucessor Elan %2b2 fez uma cirurgia de mudança de gênero e virou cupê. Equilibrado, o Elan era leve como dizia o mantra de Chapman: “Adicionar potência faz você ser mais rápido nas retas. Subtrair peso faz você ser mais rápido em qualquer lugar”. Pode não ter definido o gênero, mas foi musa do renascimento.



CÓPIA MELHORADA O Elan serviu de inspiração para a Mazda, que desejava criar um esportivo acessível, um roadster britânico feito no Japão. E deu certo. Lançado em 1989, o MX-5 (Miata para os americanos) saiu muito parecido com o Elan, Diz-se que os engenheiros copiaram até a nota do escapamento central do modelo bretão. Só que tudo muito benfeito, com direito a um confiável motor 1.6 (que seria ampliado aos poucos). Longe de gerar desconfiança, virou hit, vendendo 250 mil exemplares em menos de três anos.



MUITO BRITÂNICO Em teste feito em 1999 com a segunda geração do Miata, Jeremy Clarkson, do programa britânico Top Gear, disse que o MX-5 é o melhor esportivo inglês, e não o Lotus Elise. Afora o fato de ele não ser inglês, na verdade é feito no Japão, o apresentador defendeu que o MX-5 é um roadster tão britânico quanto poderia ser. E explicou: se você estivesse em um hotel em Tóquio e pedisse um café da manhã com bacon e cogumelos, seria um café da manhã inglês, não importa o lugar. Esqueçam faniquitos causados pela parte elétrica ou pelo jeito manhoso de alguns ingleses; o MX-5 sempre estava disposto a enfrentar curvas.



MODA JAPONESA A coisa se inverteu: o Miata tornou-se o esportivo de dois lugares mais vendido na história (mais de 900 mil até 2011). Com o sucesso, os europeus começaram a olhar de novo para o segmento na primeira metade dos anos 1990. A trinca alemã BMW Z3, Porsche Boxster e Mercedes-Benz SLK é da época. O Boxster tem motor central-traseiro, mas até aí pega emprestada outra tradição, a do 356 original, chamado de roadster. Logo depois viriam ainda o MG TF, com o mesmo arranjo de motor do Porsche, mas com nome que remete ao TF de 1953, e até um novo Lotus Elan (com tração dianteira, maldição). Mas o MX-5 ainda é o roadster a ser seguido.



SOB O SOL Embora o MX-5 não seja vendido oficialmente por aqui – a Mazda ainda está para voltar para o mercado nacional –, temos algumas opções de roadsters. BMW e Porsche ainda estão firmes no segmento, com o Z4 e Boxster, respectivamente, enquanto a Mercedes-Benz continua a trazer o SLK e o irmão maior SLS AMG Roadster por US$ 407 mil. Habituada a lucrar com o passado, a Mini também traz o Mini Roadster para o Brasil. Mantém a tradição da marca (tração dianteira e motor transversal), mas investe na imagem dos roadsters antigos na capota manual, que não é tão fácil de ser operada sem se levantar do banco, pelo menos dispensa cobertura, já que a própria capota tem um segmento que cobre o mecanismo.



YAKISOBA À BOLONHESA
A Fiat anunciou na semana passada a intenção de compartilhar a base do MX-5 em um novo modelo. Será o retorno de um esportivo sem frescuras como o 124 Spider de 1966? Que nada! A Fiat tentou peitar o segundo Miata com o Barchetta de 1995, que recuperava o nome dos antigos esportivos italianos, apelidados como barquinhos dada a carroceria simplista, e se valia da base do Punto com tração dianteira. Mas a base japonesa será usada por um novo Alfa Romeo, que espera o retorno dos carros com tração traseira – o último foi o inacessível 8C. Seria a reedição dos Duetto Spider, feitos entre 1966 e 1993, só que com produção em Hiroshima, a partir de 2015. Ao menos o motor será Alfa, provavelmente o 1.750 turbo do Giulietta Quadrifoglio de 235cv. É o Japão exportando tradições europeias.