Se os dois primeiros capítulos foram dignos de um enredo que talvez não passasse pela cabeça do mais surreal dos diretores, o terceiro não foge à regra. O Peugeot 307 07/07 placa HFW-3908 mais uma vez é o protagonista de uma história que nada faz jus aos 20 anos do Código de Defesa do Consumidor e que, novamente, deixa o consumidor com o papel menos valorizado entre os coadjuvantes.
CAPÍTULO 1 Tudo começa em março de 2009, quando o médico Amilton Cabral Júnior deixa seu Peugeot 307 2.0 07/07 automático na concessionária Peugeot Vernon para uma revisão. Uma semana depois, no momento de pegar o carro, ele descobre que funcionários da revenda, em teste, haviam sofrido um acidente com o veículo, que acabara submerso na Lagoa da Pampulha (reportagem publicada em 28 de março de 2009). Depois de meses de acordo (que por pouco não foi à esfera judicial), o médico é indenizado e o automóvel, devolvido à concessionária. No acordo, ao qual nossa reportagem teve acesso, a concessionária é clara ao afirmar que o acidente acarretara na “perda total” do veículo.
CAPÍTULO 2 Um ano depois, o coordenador de marketing Ronaldo Aguiar Oliveira compra, também na Vernon, um Peugeot 307 2.0 07/07 automático. Alguns meses depois, visita uma oficina particular, troca o filtro de combustível (que fica no assoalho próximo ao banco traseiro), vê vestígios de lama e tem acesso à reportagem de Veículos do ano anterior. Aí, entende por que o carro nunca dava alinhamento de direção. Faz uma pesquisa e tem a confirmação: o carro que caíra na lagoa é o seu (reportagem publicada em 25 de dezembro de 2010).
CAPÍTULO 3 Depois de contato da reportagem, a Peugeot afirma que pretende avaliar o veículo para checar se poderia ter sido recuperado e revendido (acordo firmado com o proprietário anterior fala em perda total). Enquanto isso, Ronaldo tenta negociar com a concessionária, afirmando ter comprado o automóvel sem saber de sua procedência.
Mês passado, no entanto, o balde de água fria: “Por meio de missão técnica realizada pela Peugeot do Brasil, concluímos que a recuperação do veículo permitiu restabelecer seu funcionamento geral, sem afetar a segurança veicular”, afirma a Peugeot em e-mail enviado a Ronaldo Aguiar. Curiosamente, como se transferisse a responsabilidade ao proprietário, no mesmo e-mail, a representante da fábrica acrescenta: “Entretanto, sugerimos a substituição de alguns itens de manutenção: quatro pneus (alinhamento e balanceamento); forração do porta-malas; higienização do carpete do habitáculo”.
Chateado, Ronaldo repassa a resposta à reportagem – que, por diversas vezes, tentou ouvir a Peugeot a respeito, sem sucesso – e afirma que vai desistir da briga e procurar novamente a revenda para aceitar a proposta de um acordo extrajudicial. Na última semana, a reportagem voltou a entrar em contato com Ronaldo, que afirma não poder revelar a essência do acordo, já que a concessionária exigiu sigilo.