O aumento na alíquota, para pessoa física, do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que foi de 1,5% para 3% —mais uma tentativa do governo de frear o consumo —, repercutiu diretamente na parcela do carro zero, quando a escolha é pelo Crédito Direto ao Consumidor (CDC), operação que tem dominado esse mercado. Há cerca de um mês, quando foi divulgada a medida, analistas financeiros acreditavam em duas possibilidades: queda nas vendas ou aumento na preferência do consumidor pelo leasing, modalidade sobre a qual não incide o IOF. Até o momento, apesar do aumento na diferença entre as parcelas (as operações por CDC já costumavam gerar parcelas um pouco maiores), a escolha continua sendo pelo CDC.
Aliás, esta semana, a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), que como o próprio nome indica diz respeito aos bancos de montadoras (e o financiamento de veículos pode ser feito por qualquer banco), divulgou um aumento de 6,4% nas operações de CDC, no primeiro trimestre, ante uma queda de 9,8% nos contratos de leasing.
INSEGURANÇA “Dois, três anos atrás, houve muito problema no mercado para a quitação do leasing, o que praticamente não existe mais. Mas muitas pessoas ficaram com medo. Além disso, para fazer a quitação antecipada com desconto, é mais complicado. Mas, de maneira geral, o leasing é mais barato”, pondera o gerente de vendas da concessionária VW Reauto, Milton José Pinto. Das vendas de carro zero da concessionária, 55% delas são financiadas, sendo que, destas, 95% são por CDC e apenas 5% por leasing. A facilidade de quitação antecipada e de troca do carro antes do término do prazo, para o gerente, é o grande impulsionador do CDC. “Muita gente financia por mais tempo, mas decide trocar de carro entre um e dois anos de uso. É feita a quitação e esse carro é dado de entrada na compra de outro”, explica.
Na Ford Pisa, 61,5% das vendas de carro zero são financiadas. Em março, todas foram por CDC. Em abril, o leasing ganhou 2% de adesão. “Já houve época de o leasing ser 100%. Depois isso mudou para o CDC, que também ficou atrativo e é menos burocrático. Por outro lado, a aprovação de fichas, pelo leasing, é mais fácil, já que é uma modalidade mais difícil de burlar”, compara o gerente de vendas Antônio Longuinho.
ALIENAÇÃO As diferenças entre o CDC e o leasing começam no documento do carro. Nas compras feitas por CDC, o carro fica em nome do consumidor, apenas alienado ao banco. Nos contratos de leasing, por sua vez, o carro fica em nome da instituição financeira, tendo que ser transferido para o proprietário ao término da quitação. E esse é outro fator que faz diferença na hora da escolha, de acordo com o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira.
A isso, ele acrescenta a facilidade de quitação antecipada do CDC, além da maior dificuldade de tomar o carro, em caso de inadimplência: “No leasing, o banco toma o veículo mais rapidamente; no CDC, o processo é mais demorado”. O vice-presidente da Anefac ainda chama a atenção para outro ponto. “Muitos consumidores nem sabem se estão fechando um contrato por leasing ou CDC. O vendedor só fala: ‘Você vai pagar X parcelas de tanto’. E fica por isso mesmo”, afirma. “É preciso perguntar tudo”, alerta.
PRESTAÇÃO Com relação à diferença entre as parcelas, Miguel Ribeiro simula uma proposta nas duas modalidades, tomando-se como base um carro de R$ 25 mil, 100% financiado, em 60 meses, com juros de 1,80%. No leasing, a parcela fica em R$ 684,80, pagando-se um total de R$ 41.088 no fim do contrato. No CDC, a prestação passa para R$ 707,95 e o valor total financiado, R$ 42.477.
Partindo para uma situação concreta e tendo em vista a coincidência de quatro veículos nacionais estarem sendo anunciados atualmente, básicos, pelo mesmo valor, de R$ 23.990.