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Para IATA, aeroportos brasileiros estão sendo remendados

Se o governo fosse ágil, as obras em curso já estariam sob a responsabilidade da iniciativa privada

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O jeitinho brasileiro defendido pelo ex-jogador de futebol Ronaldo não teria eco se os planejadores de plantão tivessem dado a devida importância aos compromissos assumidos e vergonha de passar ao mundo a imagem do país dos improvisos. Atrasadas talvez para atender interesses pessoais, as obras dos estádios de futebol seguem gerando estresse. Por uma infeliz coincidência, o estádio do time do ex-presidente Lula foi palco de uma triste ocorrência, que deverá adiar o término da construção para dois meses antes do início da Copa do Mundo. A irresponsabilidade levou a uma situação na qual o operador de guindaste envolvido no acidente estava trabalhando há 18 dias sem folga, segundo auditoria do Ministério do Trabalho e Emprego. Se não houvesse interferência política, o estádio selecionado seria o Morumbi e já estaria concluído, como o nosso garboso Mineirão. Outras ocorrências lamentáveis ocorreram na cidade de Manaus (AM).

Deixando os estádios de lado e focando nas portas de entradas aeroportuárias, vemos que durante algum tempo presenciaremos mais cenas desse tipo. Segundo o diretor da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), Tony Tyler, os nossos aeroportos estão sendo remendados para atender a demanda da Copa do Mundo.

Depois da privatização dos três aeroportos internacionais, em fevereiro de 2012, o modelo não agradou ao governo. Os parceiros administradores de aeroportos não tinham uma experiência comprovada no gerenciamento de terminais com grande demanda. Bastaria incluir novos requisitos no edital de fevereiro de 2012 e licitar os terminais de Galeão e Confins ainda no início do ano.

Não, seria preciso uma turnê internacional para conhecer o trabalho de grandes operadores de aeroportos. A ministra-chefe da Casa Civil chegou a organizar uma comitiva para conhecer a operacionalidade de grandes terminais e tentar conseguir parceiros de peso para o trabalho em conjunto com a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), que está sendo majoritária nos consórcios a serem formados. Como esperado, o resultado foi um fracasso e, no retorno, só restou alterar os editais dos leilões já ocorridos para entregar mais dois terminais.

De fevereiro a dezembro de 2012, uma comissão se debruçou sobre o aprimoramento dos editais e das proposta de contratos já iniciados em 2011 quando uma comissão gastou cerca de um ano para gerar tais documentos.

Enquanto a Casa Civil e a Secretaria de Aviação Civil patinavam, as superintendências regionais da Infraero colocavam em prática as ações planejadas. Algumas pensaram até em construir puxadinhos para atender o crescimento esperado da demanda nos meses de junho e julho, durante a realização da Copa do Mundo. A visão míope de remendos para atender o evento é o ponto focal das críticas do diretor da Iata.

Se o governo fosse ágil, os remendos em curso já estariam sob a responsabilidade da iniciativa privada, sendo a estatal uma parceira minoritária nos consórcios.

As obras que a Infraero está executando até o mês de março nos aeroportos para atender a demanda da Copa do Mundo custariam para ela 49% do valor estipulado em contrato.

No caso do aeroporto internacional de Confins (Presidente Tancredo Neves), ao ser revelado o plano de trabalho da superintendência regional para fazer frente à nova demanda, houve até um momento de chacota, quando foi anunciado que a única obra a ser executada seria a ampliação da área de estacionamento de automóveis. Em 2010, foi inaugurado o estacionamento coberto (ocupando uma área de aproximadamente 42 mil metros quadrados), que fica longe do terminal atual e causa transtorno àqueles que precisam acessá-lo.

Por uma questão de justiça, é importante dizer que a reforma no terminal de passageiros do nosso aeroporto foi bloqueada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que alegou irregularidades em relação ao licenciamento ambiental.

No caso do aeroporto de Confins, é elogiável o trabalho integrado do governo estadual e Infraero. Com ele foram contratados os estudos ambientais que permitiram o licenciamento ambiental para a construção do segundo terminal de passageiros.

O projeto básico do segundo terminal foi licitado no fim de 2011 e a sua construção se encontra no caderno de encargos do Consórcio CCR.

Mas pouco poderá ser feito até o mês de junho, quando terá início o certame futebolístico. As previsíveis chuvas até março deverão atrapalhar o andamento das obras.

Resta a nós mostrar a nossa verdadeira cara de improvisadores e confirmar as palavras do general francês Charles De Gaulle: “O Brasil não é um país sério”.

BIRUTINHAS

ENXUGAMENTO No final do ano passado, teve continuidade o enxugamento das empresas aéreas. Houve retração de 3,66% na oferta de assentos-quilômetros oferecidos ante o crescimento de 0,75% de alta da demanda. Isso resulta no aumento da taxa de ocupação das aeronaves, mas não necessariamente no crescimento da rentabilidade. A disputa cega entre as transportadoras poderá levar todas para o buraco.

MERCADO Como esperado, a TAM e a Gol lideram a demanda do mercado doméstico. A primeira tem uma fatia de 38,81% e a segunda de 36,40%, totalizando 75,20%. Para quem já teve uma participação próxima de 99%, a fatia maior das empresas menores é um fato a ser comemorado. A Azul e a Avianca ocupam 20,65%, ficando o restante com as de menor porte. Para o mercado de transporte aéreo, o crescimento de mais concorrentes é muito salutar.

IMPACTOS A semana que antecedeu a do Natal gerou impacto nos aeroportos privatizados. O de Guarulhos (SP) teve volume de passageiros superior em 18% o volume registrado em igual período de 2012. O aeroporto de Brasília (DF) teve um crescimento de 14,6%. Será que se houvesse uma troca de informações entre as empresas aéreas e as operadoras de aeroportos sobre a demanda esperada não haveria melhor preparação para acomodar a massa crescente?

LEILÕES Não foram apresentados recursos contra a habilitação dos vencedores no leilão ocorrido em 22 de novembro, envolvendo os aeroportos do Galeão (RJ) e de Confins. O prazo se esgotou em 23 de dezembro, restando às autoridades aeroportuárias e novas operadoras colocar as mãos na massa para diminuir o vexame de não termos uma infraestrutura pronta para os grandes eventos esportivos.

OLHO DO DONO Diz o ditado que “o olho do dono é que engorda o porco”. Seguindo esse provérbio, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) acompanhou o movimento nos aeroportos mais movimentados e conseguiu abafar o caos que estava programado. Um percentual de atraso de 7,5% e de cancelamento de 4,8% são números aceitáveis para um mês de pico da demanda. Dá para melhorar, mas está aceitável.