Depois de três anos de análise, o Escritório de Investigações e Analises da França (BEA) apresenta o relatório final do acidente com a aeronave da Air France, que realizava o voo AF 447, ligando a cidade do Rio de Janeiro a Paris.
A rigor, o relatório final não trouxe novidades sobre as causas do acidente face às inúmeras interpretações apresentadas no período próximo ao acidente. Do conteúdo dele é fácil perceber que os pilares da segurança de voo (o homem, o meio e a máquina) foram todos fragilizados.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão do Comando da Aeronáutica, adota o trinômio como o marco da filosofia de segurança de voo.
Quando se refere ao homem, está voltado para os fatores humanos, preocupando-se com a pessoa em seu ambiente de trabalho; em seu relacionamento com máquinas, equipamentos e processos e se relacionando com outras pessoas.
No caso do voo AF 447 ficou patente que os tripulantes que conduziam a aeronave não estavam devidamente treinados para aquela emergência. Ao levantar o nariz (cabrar) da aeronave em até 42 graus, tão logo perdeu as indicações de velocidade, não teria o piloto em comando sido afetado pela sensação de uma desorientação espacial longitudinal e não fora treinado para enfrentá-la? Ao cabrar o nariz da aeronave tudo indicava que ele teve a sensação de que ela estaria num ângulo de descida tão logo perdeu as indicações de velocidade. Em noite escura, no breu, e dentro de uma turbulência não seria fácil voltar à situação mais estável da aeronave depois de tê-la feito subir. A perturbação por ele provocada agravou uma situação que já era terrível.
Já tivemos um acidente fatal na cidade de Carajás (PA), quando um piloto sofreu os efeitos de uma desorientação espacial longitudinal e se chocou contra o topo das árvores localizadas no final da pista. Neste caso a sensação do piloto era de que a aeronave estava subindo, ainda que ela estivesse numa trajetória de descida, provocada pela aceleração na decolagem.
O meio contribuiu com uma tempestade tropical, comum naquela rota, que deveria ter sido desviada como fizeram outras tripulações. Ao sair para um voo a tripulação recebe um briefing meteorológico para conhecer as condições da rota e do destino. Ainda que a tempestade tropical possa ter sido formada após o briefing meteorológico, o radar de bordo da aeronave não deixaria de acusar o fenômeno. A prudência recomendava um desvio. Ao que consta nenhum outro contribuinte do meio se manifestou.
Ao cuidar da máquina, o sistema se preocupa com o avião. Os operadores das aeronaves que voavam com as sondas (tubos de pitot) da empresa Thales já haviam sido afetados por uma diretriz de aeronavegabilidade, que determinava limpeza nos tubos de pitot a cada 200 horas. Essa diretriz é uma determinação da autoridade aeronáutica do país que fabricou o equipamento ou a de um país que detectou a não conformidade para a sua correção pelos operadores dentro da periodicidade estabelecida.
A aeronave Airbus A330, que realizava aquele voo, estava equipada com aquela sonda, que acabou sendo obstruída por cristais de gelo ao atravessar a tempestade. O relatório nada acusa sobre o sistema de aquecimento do tubo de pitot, que existe exatamente para evitar a sua obstrução.
Neste conjunto de fatores adversos, o BEA acusa os tripulantes de não terem percebido que a aeronave estava em queda, ainda que os avisos sonoros de perda de sustentação tivessem soados.
Como em todo relatório de investigação de acidentes, o BEA apresentou recomendações para evitar outros acidentes com as mesmas causas. Entre elas, obviamente, determinou que a Airbus inclua em seu programa de treinamento de entrada na aeronave A330 um procedimento para que as tripulações possam ser treinadas no combate a essa discrepância. Recomendou também que as aeronaves recebam um equipamento de indicação visual para situações de risco, além dos avisos sonoros.
No contexto da segurança de voo é muito importante o conhecimento das causas que determinaram outros acidentes. A divulgação das causas de um acidente é valiosa para os pilotos em comando que venham vivenciar situações semelhantes. Com certeza, os demais tripulantes da aeronave Airbus A330 não se esquecerão do acidente com o voo AF 447 e se certificarão de que é vital a observação dos componentes do trinômio da segurança, pois se eles forem afetados é grande a probabilidade de um acidente fatal.
BIRUTINHAS
TRIAZUL Como está na moda fundir as siglas das empresas aéreas, para a fusão da Trip com a Azul segue a sugestão, Triazul. A fusão já começa a atiçar a direção da Azul em voar para o exterior, iniciando pela América do Sul. O término das operações da PLUNA abre uma boa oportunidade para a nova empresa facilitar o acesso dos mineiros à Punta del Este.
LERDEZA No último dia 17 fez cinco anos o lamentável acidente com a aeronave da TAM, que realizava o voo Porto Alegre – São Paulo, tirando a vida de 199 passageiros. Até a presente data não foram ouvidos pela justiça a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e os ex-diretores da TAM, denunciados pelo Ministério Público Federal. Coincidentemente, as condições meteorológicas daquele dia se repetiram no dia da inauguração do espaço em homenagem às vítimas de tão absurdo acidente.
ESTACIONAMENTO A posição de estacionamento das aeronaves que chegam ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves/Confins causa aborrecimento aos passageiros. Um leitor reclama que foi obrigado a permanecer no interior de uma aeronave da Gol por 40 minutos porque a posição num finger destinado a voos internacionais estava ocupada por uma aeronave da Trip.
NOVA DIREÇÃO A Gol resolveu aumentar a sua participação no mercado sul-americano. Novos voos estão planejados para Montevidéu (Uruguai), Assunção (Paraguai) e Santa Cruz de La Sierra (Bolívia). Saindo do Aeroporto Internacional André Franco Montoro/Guarulhos-SP, os novos voos decorrem da reestruturação de sua malha.
PESAR No meio desta quinzena tivemos a lamentar um acidente com aeronave de uma empresa de táxi aéreo mineira, que transportava um de seus proprietários. A chegada na região de Angra dos Reis(RJ) coincidiu com a de uma frente fria naquela área, que se manifestava com intensidade. Naquelas condições, considerando que o aeroporto da cidade não tem infraestrutura para pouso por instrumentos, a melhor opção seria a alternar para outro aeroporto.
Os pilares da segurança
Quando os pilares da segurança de voo são afetados é grande a probabilidade de um acidente aéreo fatal