A maratona de leilões automotivos foi corrida em 2011, fortalecida pela participação das casas leiloeiras em grandes eventos do antigomobilismo. Entre tantos pregões e possantes, seria injusto pegar aleatoriamente algumas raridades para fazer a coluna. Por isso, o caderno Vrum separou os clássicos de maior destaque nos leilões do ano com base em fatores diversos, como os mais caros, os mais insólitos ou, até mesmo, o mais macabro.
CAVALINHO CARO
Todas as Ferraris são caras, sem dúvida. Mas algumas valem mais do que as outras, sendo que, como um vinho, os carros da marca tendem a ficar mais caros de acordo com a passagem do tempo. Foi o caso da Ferrari Testa Rossa TR250 1957, leiloada por US$ 16,39 milhões, cerca de R$ 30 milhões, pela Gooding & Company, em agosto, durante o festival de Pebble Beach, na Califórnia. Nem podia ser diferente para um corredor que não conta sequer com 30 unidades produzidas, uma valorização que só aumentou no caso desse exemplar, um de dois protótipos construídos para o desenvolvimento do bólido de pista.
SINISTRADO
Você compraria um carro sinistrado? Provavelmente não, ainda mais se esse veículo tiver se envolvido em um acidente fatal. Bem, talvez isso não se aplique aos clássicos ungidos por terem corrido nas pistas. Ao menos é o que prova o leilão do Austin-Healey 100 S 1953 leiloado no início do mês pela Bonhams em Brooklands, Inglaterra. Sempre caro em comparação aos MG, esse britânico recolheu 843 mil libras esterlinas, ou R$ 2,3 milhões. Só que o roadster em questão foi o modelo que bateu com o Mercedes-Benz 300 SLR nas 24 Horas de Le Mans de 1955, acidente no qual o carro alemão voou sobre a plateia, matando 84 pessoas e ferindo mais de 120. Uma tragédia que levou a Mercedes a ficar afastada das pistas até meados dos anos 1980, mas não desvalorizou esse Austin, que ficou guardado desde 1969 e estava no estado barn find (achado de celeiro), daqueles clássicos encontrados após passarem anos abandonados.
O MAIS ESTRELADO
Tem carro que tem estrela, o que pode ser atestado pela venda de um Mercedes-Benz 540 K Spezial Roadster, de 1937, pela RM Auctions em Pebble Beach, para onde peregrinam os carros mais caros do mundo uma vez por ano. A linha dos anos 1930 é o ápice da tecnologia do entre-guerras e, por isso mesmo, esse carro trocou de mãos por US$ 9,68 milhões, cerca de R$ 18 milhões. Dá para levar uns 150 Mercedes-Benz C180 para casa com esse valor.
CARRO DO HOMEM
John pode até ter falado que os Beatles eram mais famosos que Jesus Cristo, mas, em termos de valorização de carro por associação com celebridades, os roqueiros não foram páreos para o homem: Mahmoud Ahmadinejad. O presidente iraniano mostrou que sabe vender carro e colocou para leilão o seu nada raro Peugeot 504 1977 em prol da caridade. Em 1º de março o leão do deserto foi comprado por uma firma iraniana por nada menos que US$ 2,5 milhões, o equivalente a R$ 4,6 milhões. Sem dúvida, foi o leilão mais insólito que vimos em 2011.
IANQUE DO BOM
Não são apenas os europeus que atingem milhões nos leilões. Americanos de marcas clássicas (a maioria já defunta), como Auburn e Tucker, costumam atingir cifras invejáveis nos eventos. A prova foi o leilão de um Duesenberg Model J Long Wheelbase Coupé Whittell 1931, vendido também pela Gooding em Pebble Beach, em agosto. O cupê marcou expressivos US$10,34 milhões, pouco acima de R$ 19 milhões. Foi o maior valor pago por um modelo americano e até mais que o Benz.
BEATLEMANíACOS
Carros de celebridade sempre valem mais. No caso de um automóvel de um Beatle, a chance de o carrão ser valorizado é ainda maior. Até porque os garotos de Liverpool só andavam em Austin Minis para disfarçar. O negócio deles eram os esportivos. Em fevereiro, a Bonhams tentou em Paris o primeiro automóvel de John Lennon, uma Ferrari 330 GT 2%2b2 1965, avaliada em 180 mil libras esterlinas, mais de meio milhão de reais, mas o proprietário desistiu no último momento. Em dezembro, a britânica Coys vendeu o Aston Martin DB5 que pertenceu a George Harrison. O cupê 1965 trocou de mãos por 350 mil libras, quase R$ 1 milhão. Para ter uma ideia, o Cord 810 Phaeton 1936 que já foi de Jimmy Page, do Led Zeppelin, ficou só nas 80 mil libras, o equivalente a R$ 226 mil. Um enigma: o que pesou mais, os modelos ou a popularidade das bandas?
TIGRãO
A inglesa Bonhams tentou vender em Pebble Beach, em agosto, uma joia da era imperialista britânica: um Rolls-Royce Phantom I 1925 com carroceria Sport Touring feita pela Barker para o marajá de Kotah, Umed Singh III. Até aí tudo bem. Um marajá não faria por menos. O curioso é que o carro foi customizado com luzes direcionais, suporte para rifles e escopetas de cano duplo e um trailer com uma metralhadora sobre tripé, uma antecessora das shooting brakes motorizadas. Para que tantas armas? Para caçar tigres de Bengala, que não tardou para se tornar uma espécie ameaçada. Não é à toa que esse Rolls ficou conhecido como Tiger Car, uma associação que ostenta até no símbolo sobre o radiador, que tomou o lugar da delicada Espirit of Ecstasy, que completou 100 anos em 2011, mas que não deve ter estômago para caçadas. Talvez pelo fato de as caçadas terem saído de moda, o carro não atingiu os US$ 750 mil pedidos.