Não faltaram tentativas para haver carros genuinamente brasileiros, isto é, projetos e empresas nacionais. Quem se aventurar em desbravar essa história fatalmente vai esbarrar com o nome de Anisio Campos. Foi da cabeça desse designer que saíram linhas tão belas quanto as do Puma GT, o monoposto AC (feito para as pistas), o Carcará (feito para estabelecer recorde de velocidade), projetos racionais como o urbano Mini Dacon, além de transformações, como o Corcel Hatch (da Souza Ramos).
Pois toda essa rica história, toda a obra automotiva de Anisio Campos vai ganhar registro em um documentário feito por sua filha, a cineasta Raquel Valadares. A ideia é fazer um filme íntimo, tentar ver os carros como Anisio os vê. “Neste filme eu faço a câmera de boa parte das cenas intimistas, dentro do apartamento, observando meu pai. O que significa que terei efetivamente uma imagem intimista, em que meu pai se dirige a mim, enquanto filha. Isso pode ser algo favorável para o documentário”, adianta a cineasta.
Raquel Valadares conta que sempre teve uma relação muito próxima com o pai, uma relação de amizade. Ela relata que no cotidiano do designer há poucos registros dos carros que fez. Por exemplo, Anisio Campos não tem nenhum veículo que projetou. O modelo Nick que ele tinha foi roubado. “Ao perceber sua finitude, tive enorme vontade de deixar um registro de sua vida e obra para a posteridade”, explica Raquel.
A intenção é fazer um resgate simbólico de uma obra que, na opinião da cineasta, normalmente não recebe o reconhecimento artístico-cultural. “Automóveis são bens de consumo. Compra-se, vende-se, rouba-se, perde-se, desmonta-se, mas também se coleciona. Dependo de pessoas que resistiram bravamente ao tempo, preservando os carros projetados por meu pai”, diz Raquel. O documentário também pretende resgatar o universo que transcende a personalidade do designer, os vários agentes que tentaram fazer uma indústria automobilística nacional.
DESAFIOS Raquel afirma que não foi tão difícil encontrar os modelos projetados pelo pai. A partir de três contatos telefônicos fornecidos por amigos de Anisio, entre eles um jornalista que publicou uma convocatória em seu blog, conseguiu encontrar quase todos os modelos. Ainda faltam os carros da Engerauto, o Escorpion e o Topazzio. Agora a cineasta busca um financiamento para concluir o projeto. Até que existe uma estrutura para as filmagens em São Paulo. Mas, com a descoberta de carros fora da cidade, o que não estava previsto no planejamento original, a segunda fase das filmagens será bancada por financiamento colaborativo. No site www.catarse.me/pt/projects/805 qualquer pessoa pode ajudar a bancar o documentário colaborando com valores de R$ 20 a R$ 20 mil, ganhando recompensas como adesivos do filme, pôster, camisetas, convites para sessão-lançamento, miniaturas do Carcará, sketches, quadro e escultura de Anisio Campos.
